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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Quanto mais "Mariels", melhor para o Brasil

Cuba avança para o capitalismo.

Em 2013, a Odebrecht Infraestrutura faturou US$ 8 bilhões no exterior. Pena que apenas 12,5% vieram de projetos financiados pelos "créditos sigilosos" do BNDES. Com mais financiamentos, muito mais riqueza teria sido gerada no Brasil.

Aprendi com meu avô que o maior desperdício humano é muita eficiência para pouca eficácia. A recente inauguração do porto de Mariel, em Cuba, motivou um eficiente ataque ao governo na mídia. Mas essa é a batalha errada.

Quando temos como propósito mostrar quem –em especial, o governo– está errado, deixamos de focar o que está certo e o que precisa ser aprimorado.

O BNDES não investiu em Mariel. O BNDES financiou as exportações de cerca de 400 empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, no valor equivalente a 70% do projeto. Se o porto será de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora.

País que não exporta não cresce, não adquire divisas e não se insere na economia internacional. A exportação de serviços suporta hoje 1,7 milhão de postos de trabalho no Brasil, na interação com vários setores produtivos. Promove a inovação e estimula a capacitação de mão de obra altamente especializada.

Entretanto, lemos e ouvimos que o financiamento brasileiro gera empregos no exterior; que os contratos são sigilosos, talvez para encobrir negócios escusos; que drena recursos da nossa infraestrutura; e que o TCU (Tribunal de Contas da União) não fiscaliza.

Nada disso é verdade.

Primeiro: o financiamento à exportação gera empregos no Brasil, porque não há remessa de dinheiro para o exterior. Os recursos são desembolsados aqui, em reais, para a aquisição de 85% dos bens e serviços produzidos e prestados por trabalhadores brasileiros (os demais 15% são pagos à vista pelo importador).

Segundo: informações como o valor, destino e objeto do financiamento sempre foram públicas, como pudemos ouvir e ler em todos os meios que trataram de Mariel. As únicas informações que não são públicas são as usuais das operações bancárias, como o valor do seguro, eventuais contragarantias e as taxas que compõem a operação.

Nos financiamentos feitos pelos chineses, alemães, americanos, enfim, por todos os países, essas informações também são confidenciais. Não foram o Brasil e Cuba que inventaram essa regra.

Terceiro: os recursos que financiam exportações não concorrem com os destinados a projetos no Brasil e são providos por fontes diferentes. Os números falam por si: em 2012, o BNDES destinou cerca de US$ 7 bilhões para apoiar o comércio exterior e US$ 173 bilhões para o mercado interno.

O porto de Cuba não impediu a construção de nenhum projeto no Brasil. Aliás, até ajudou.

Por meio da exportação de serviços, como a de Mariel, a Odebrecht se capacita e gera resultados que aplica aqui, como fez no terminal de contêineres da Embraport, em Santos. É o maior do Brasil e foi construído pela Odebrecht, simultaneamente a Mariel, com investimento próprio de R$ 1,8 bilhão.

Quanto ao TCU, ele fiscaliza, sim, certificando se são nacionais os bens e serviços exportados.

Finalmente, para quem está questionando os riscos quanto ao pagamento, é importante saber que a ocorrência de calotes não está relacionada a alinhamentos ideológicos: os maiores "defaults" recentemente enfrentados pelo Brasil vieram dos Estados Unidos e do Chile.

Pensando como pai, esse episódio me lembra daqueles que criticam a boa nota que o filho tirou em matemática, porque o garoto está indo mal em português. Pensando como brasileiro, proponho a identificação e o debate de nossos reais desafios e a escolha das batalhas certas para colocar nossas energias.

Folha

MARCELO ODEBRECHT, 45, engenheiro civil, é presidente da Odebrecht, empresa brasileira que atua em áreas como engenharia, construção e petroquímica


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