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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Salário-mínimo: compromisso honrado



O compromisso foi honrado. Apesar de todas as pressões para que o Governo roesse a corda do acordo feito no ano passado e mudasse a regra prevista no acordo do ano passado sobre o reajuste do salário-mínimo – variação do PIB de dois anos antes mais inflação do ano anterior – a presidenta Dilma cumpriu o combinado.

A ministra Miriam Belchior entregou a Lei Orçamentária do próximo ano prevendo um reajuste do salário mínimo de 13,6% – que é a soma de 7,5% de crescimento do PIB em 2010 e a inflação prevista para este ano, de 6,1%. O valor vai, portanto, a R$ 619,21. Isso significa um aumento médio real, descontada a inflação pelo INPC, de 58, 6% desde o início do Governo Lula, segundo o cálculo do DIEESE. Ou de 91,7%, se usarmos o IPCA como índice deflator.

Pouco, sim, mas no limite do que as contas públicas podem suportar sem nos encalacrarmos em mais dívidas e não um ato demagógico de campanha eleitoral.

Aliás, não é á toa que a direita brasileira fala tanto em demagogia e populismo. Ela entende bem disso.

O Governo pode enfrentar de rosto erguido todos os que reclamaram do reajuste modesto deste ano, quando seguiu as mesmas regras. Mas vai enfrentar muitas pressões por que, agora, não vai haver quem ache que este reajuste é inflacionário. Embora, é claro, tenham dito que vivemos um surto de inflação mesmo sem reajustes expressivos.

Ao contrário. No seu editorial de hoje, para criticar a declaração da presidenta de que os juros devem baixar, o Estadão não teve vergonha de, outra vez, culpar os reajustes salariais pela elevação dos preços:

“O poder de compra tem sido sustentado tanto pelo crédito quanto pelos aumentos salariais. Mais de 80% dos acordos concluídos pelos sindicatos na primeira metade do ano proporcionaram ajustes acima da inflação.”

Deveriam ter sido abaixo? Andam nossos salários tão luxuosos que podem os sindicatos se dar à generosidade de se deixarem ver desvalorizar? E se foi acordo e não greve ou dissídio não estava dentro da possibilidade das empresas de darem?

Vai haver muita chiação da mídia e de partes do empresariado. Paciência. Deveriam lembrar de um antigo ditado que diz que o combinado nunca é caro.


Fragmentos dos diários perdidos do Senhor C.



VERSÍCULOS IMPERTINENTES


Quem contempla a imensidão da cidade defronte?

Quem consegue sorrir diante da indigna situação?

Quem ousa pronunciar o nome daqueles que forjaram e fraudaram e sequer foram importunados?

Quem se importa com isso, afinal?

Quem acorda todo santo dia e vai por a máquina do dinheiro para funcionar?

Quem aciona os mecanismos da injustiça social?

Quem se recosta na poltrona confortável do santo domingo sem qualquer remorso pelas falcatruas paridas durante toda a semana?

Que m repara que há cada vez mais mendigos na rua?

Quem caminha solitário nas noites soturnas em que amantes se matam de tanto amor?

Quem trafega pela contramão?

Quem enfrenta os leões e as hienas que parecem ter fugido do zoológico mas não passam de transeuntes habituais?

Quem pede perdão pelos insones?

Quem ajoelha e reza sem se perguntar qual é o santo do dia?


Perguntas!!

Apenas perguntas vadias a vagar pela noite sob o plenilúnio.

Mas que não esperam respostas.



terça-feira, 30 de agosto de 2011

11 de setembro: Cinco teorias de conspiração

Dez anos depois dos ataques de 11 de setembro no Estados Unidos, diversas teorias conspiratórias continuam populares.

BBC

De um modo geral, as formulações se concentram em torno de supostas "perguntas não respondidas" pelos relatórios sobre o incidente e sugerem que o governo americano pode ter planejado os ataques juntamente com o exército.

Conheça as cinco teorias conspiratórias mais proeminentes que circulam em comunidades online.

1. Falha ao interceptar os aviões sequestrados
A pergunta: Por que a força aérea mais poderosa do mundo não conseguiu interceptar nenhum dos quatro aviões sequestrados?
O que os teóricos da conspiração dizem: O vice-presidente dos Estados Unidos na época, Dick Cheney, teria dado ordens para que o Exército não tentasse recuperar os aviões das mãos dos sequestradores.
O que os relatórios oficiais dizem: Este foi um sequestro múltiplo incomum, com violência a bordo, e no qual o transponder, que transmite a localização exata do avião, foi desligado ou alterado.
Um exercício militar de rotina também estava acontecendo no mesmo dia do comando da defesa aérea americana e teria havido confusão e falta de comunicação entre o controle de tráfego aéreo civil (FAA) e o Exército.
O equipamento do Exército também estava obsoleto e foi planejado para procurar sobre o oceano por ameaças na Guerra Fria, segundo oficiais.

2. A queda das Torres Gêmeas
A pergunta: Por que as Torres Gêmeas caíram tão rapidamente e dentro da própria área que ocupavam, após incêndios em poucos andares que duraram somente uma ou duas horas?
O que os teóricos da conspiração dizem: As Torres Gêmeas foram destruídas por demolições controladas.
As teorias se referem ao desmoronamento rápido dos prédios (que durou cerca de 10 segundos) e aos incêndios relativamente curtos (56 minutos no World Trade Center 2 e 102 minutos no World Trade Center 1).
Além disso, haveria relatos de pessoas que teriam ouvido sons de explosões antes da queda e objetos sendo arremessados violentamente para fora de janelas nos andares inferiores.
O que os relatórios oficiais dizem: Um inquérito extenso feito pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia concluiu que os aviões romperam e danificaram colunas de suporte do edifício e deslocaram materiais à prova de fogo.
Cerca de 39 mil litros de combustível de avião foram espalhados por diversos andares, dando início a incêndios generalizados. As temperaturas de até mil graus Celsius fizeram com que o piso dos andares cedesse e as colunas se curvassem, provocando os sons de "explosões".
O peso dos pisos de cada andar criou um peso muito maior do que as colunas dos edifícios foram projetadas para sustentar. Objetos foram expulsos pelas janelas dos andares inferiores na medida em que os andares de cima desmoronavam.
Além disso, as demolições controladas são sempre iniciadas dos andares de baixo até os de cima, ao contrário do desmoronamento das Torres.
Nenhuma evidência de explosivos foi encontrada nos edifícios, apesar das buscas. E tampouco há evidência de rompimento proposital de quaisquer colunas ou paredes, o que é feito rotineiramente em uma demolição controlada.

3. O ataque no Pentágono
A pergunta: Como um piloto amador pode ter feito uma manobra complicada em um avião comercial e lançado o avião sobre o quartel-general das forças armadas mais poderosas do mundo - 78 minutos depois do primeiro relato de um possível sequestro - e não ter deixado nenhum vestígio?
O que os teóricos da conspiração dizem: Não foi um Boeing 757 comercial que atingiu o edifício, mas sim um míssil, um pequeno caça ou um avião não tripulado.
No entanto, depois que evidências comprovaram que o voo número 77 da American Airlines realmente atingiu o Pentágono, o foco desta teoria mudou para a discussão sobre a dificuldade de executar a manobra de aproximação.
Pessoas que acreditam na conspiração dizem que o avião estava sob o controle do Pentágono, e não da Al-Qaeda.
O que os relatórios oficiais dizem: Destroços do avião, incluindo as caixas pretas, foram encontrados no local do acidente e catalogados pelo FBI.
Apesar de algumas filmagens iniciais do acidente não mostrarem os destroços, ainda há vídeos e fotografias que mostram as evidências do trajeto que o avião fez durante o choque com o edifício, como postes quebrados, segundo oficiais.
Os restos da tripulação e dos passageiros do voo foram encontrados e identificados pelo DNA. Testemunhas também viram o avião atingir o Pentágono.

O que diz O Esquerdopata: A BBC esqueceu de explicar como é que um sujeito despreparado, nem de piloto pode ser chamado, fez essas manobraS impressionanteS. Na época, pilotos experientes disseram que não conseguiriam fazer aquilo.

4. O quarto avião - Voo 93 da United Airlines
A pergunta: Por que a queda do quarto avião sequestrado, em Shanksville, na Pensilvânia, foi tão pequena e por que os destroços do avião não foram vistos?
O que os teóricos da conspiração dizem: O voo 93 da United Airlines foi derrubado por um míssil e se desintegrou em pleno ar, espalhando os destroços sobre uma área extensa.
O que os relatórios oficiais dizem: Há fotografias claras que mostram os destroços do avião e o gravador de voz da cabine do piloto, que foi recuperado, mostrou que houve uma revolta dos passageiros e que os sequestradores derrubaram o avião deliberadamente.
Teorias iniciais de que os destroços haviam sido espalhados por quilômetros de distância do local principal da queda se provaram falsos.
Na verdade, o vento jogou alguns destroços leves como papéis e materiais de isolamento por cerca de dois quilômetros.
Outra teoria foi baseada em uma frase do médico-legista local, Wally Miller, que foi citada incorretamente. Ele disse que parou de ser um médico-legista cerca de 20 minutos depois de chegar ao local porque não havia corpos.
Mas ele também disse que percebeu rapidamente que o que aconteceu foi um acidente de avião e que seria preciso organizar um grande funeral para as vítimas.
O exército diz ainda que nunca deu ordens para que a força aérea derrubasse o avião comercial.

O que diz O Esquerdopata: Repórteres de emissoras que chegaram pouco tempo depois disseram que não havia nem sequer sinal de que um avião havia caído lá.

5. O colapso do edifício 7 do World Trade Center
A pergunta: Como é possível que um arranha-céu que não foi atingido por um avião tenha desmoronado tão rapidamente e simetricamente, quando nenhum outro prédio revestido de aço caiu por causa de incêndios?
O que os teóricos da conspiração dizem: O edifício 7 do World Trade Center foi destruído por uma demolição controlada usando explosivos e materiais inflamáveis.
O foco da teoria inicialmente era uma frase dita pelo dono do prédio, Larry Silverstein, em uma entrevista de TV. Ele falava sobre a retirada dos bombeiros do edifício, mas a expressão que utilizou fez com que sua fala fosse interpretada como uma alusão ao momento em que os explosivos foram detonados.
Agora o foco mudou para a velocidade do colapso do edifício, que esteve próxima à velocidade de queda livre durante 2,25 segundos. Argumenta-se que somente explosivos poderiam fazer com que o prédio desmoronasse tão rapidamente.
Alguns cientistas , que são céticos quanto ao relato oficial, examinaram quatro amostras de poeira do Marco Zero e dizem ter encontrado material termítico, que reage violentamente em contato com o calor.
Eles dizem ainda que toneladas de materiais explosivos foram colocados dentro não só do WTC7, mas também das Torres Gêmeas.
O que os relatórios oficiais dizem: Uma investigação de três anos feita pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia concluiu que o prédio desmoronou por causa de incêndios incontroláveis, que foram causados pelo colapso da torre norte e que queimaram o prédio por sete horas.
Os encanamentos que levavam água até o irrigador de emergência foram rompidos. Não foram encontradas evidências de cargas explosivas e não há registro da série de explosões que seriam esperadas no caso de uma demolição controlada.
Também haveria uma explicação para o "material termítico" que os cientistas encontraram na poeira - é só um tipo de tinta básica.
Calcula-se que 1,2 milhão de toneladas de materiais de construção foram pulverizados no World Trade Center e a maioria dos minerais que estavam nos materiais estão presentes na poeira.
Uma amostra mais extensa da poeira não achou evidências de explosivos, de acordo com um relatório do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e com outro relatório, produzido pela empresa de inovação científica RJ Lee.

O que diz O Esquerdopata: Muitos edifícios, principalmente hotéis, queimaram por muito mais horas e nenhum caiu.


A questão de Giannotti

Giannoti: “O que pretendem fazer com essa gente?”

Edmilson Lopes Júnior, no Terra Magazine, sugestão do leitor Morvan

De Natal (RN)

Na última semana, um encontro promovido pelo Instituto Fernando Henrique reuniu antigos dirigentes da área econômica e intelectuais tucanos para diagnosticar os principais problemas econômicos do país e, se possível, apontar propostas substantivas para uma alternativa ao que vem sendo feito desde que o Lula tomou posse em 2003. O título do evento não poderia ser mais pomposo: “Transição incompleta e dilemas da (macro) economia brasileira”.

Os “pais do Real”, hoje aboletados nas direções de bancos e fundos de gestão, não trouxeram a esperada luz que iluminaria o escuro caminho da oposição. Com a notável exceção de Pérsio Arida, que apontou a necessidade de uma revisão das regras de gestão e de aplicação dos recursos dos fundos dos trabalhadores (FGTS e FAT), os demais pisaram sobre terreno por demais batido. Queriam mais do mesmo: redução dos gastos públicos. Houve até quem propusesse que abandonássemos a perseguição do modelo de estado de bem-estar (welfare state) europeu.

Nós, que jamais tivemos welfare-state de verdade, deveríamos abandonar a ilusão de realizá-lo. Essa proposição, em um encontro de intelectuais de um partido que carrega no nome o peso da definição socialdemocrata, é, por si só, reveladora. Se a democracia social europeia não deve nos orientar como modelo, para qual direção devemos mirar? Para a China, onde o milagre do crescimento econômico se faz à custa de uma força de trabalho submetida a regimes de trabalho semiescravo? Ou, quem sabe, para os EUA, onde, trinta anos de enxugamento dos gastos sociais e de acentuada concentração de rendas não livraram o país de uma crise que ameaça arrastar o resto do mundo?

O melhor relato do encontro tucano foi feito pela jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista de política do jornal Valor Econômico. Segundo ela, após Pedro Malan ter afirmado, certamente com a candura e objetividade de sempre, que “os que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos”, o filósofo José Arthur Giannotti não conseguiu se conter e, dirigindo-se ao conjunto dos economistas, indagou: “Desde o último artigo que li de Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descreem da impossibilidade de se prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?”.

Ao que parece, os emplumados economistas preferiram dar de ombros diante da pergunta do filósofo. Giannotti, como bom filósofo, resumiu em sua pergunta o dilema que devora parte do campo político brasileiro. Ora, se a oposição não sabe o que pretende fazer com “essa gente”, por que diabos “essa gente” vai querer algo com essa oposição?

O que resta para essa oposição, já que não dá para nenhum político, em pleno domínio de suas faculdades mentais, sair por aí repicando as receitas de Pedro Malan e Gustavo Franco, é procurar casos de corrupção no Governo para denunciar. O moralismo, ao contrário do que muitos pensam, não é uma opção. É o que resta como discurso para uma oposição que, após oito anos, ainda não descobriu o que “fazer com essa gente”.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Música para suportar os novos tempos coloniais


Disse-nos o blogueiro Gauche:
- O velho e bom rock do R.E.M. que desde 1980 está na estrada, aqui com “Losing my religion”.

Quem é o caloteiro?



Todo mês, os jornais publicam que os bancos registram que a taxa de inadimplência aumentou e a todo momento repete que os juros praticados são altos, entre outras razões, porque o “spread” – ferença entre o que pagam pelo dinheiro e o que cobram para emprestar – é alto porque tem de cobrir os prejuízos que sofrem com o calote de maus pagadores.

E só hoje – antes tarde do que nunca – a Folha registra que, caloteiro mesmo, e de bilhões, é o sistema bancário, que “infla” as perdas com inadimplência para reduzir a incidência de importo sobre suas operações. Sonegação, mesmo, é a palavra

Só que sonegação de rico tem outro nome: planejamento tributário. E uma outra palavra incomum: elisão fiscal. As operações ganham contabilmente, nomes e formas para isentarem-se de imposto.

Segundo a Folha, só em 2011, as autuações chegam a R$ 5,9 bilhões, englobando sonegação de impostos em fusões, em aquisições e em empréstimos entre bancos. Em 2010, foram R$ 6,9 bilhões, valor maior do que o dos três anos anteriores somados.

E são estes senhores que nos falam em carga tributária elevada, recomendam cortes nos programas sociais, etc, etc, etc…

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Músicas atemporais: Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudin




Comentário do Senhor C.:

- Esta canção foi tecida nos anos 70, a quatro mãos, quando a sociedade vivia amordaçada por outras forças. Agora, continua atual: as mordaças foram substituídas, mas ainda não desapareceram de todo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Aos partisans da integralidade

Notas reflexivas do Senhor C.:


"Díficil definir, quando muito compreender ou perceber, se valendo de um arsenal discursivo, teórico, epistêmico e práxico oriundo dos fundamentos científicos do XIX, cujos rumos nos terrenos biológico, químico e físico foram centrados em termos de fragmentar, dissecar, delimitar, classificar e ordenar serialiades, um objeto complexo como a integralidade: este remete ao todo, ao conjunto inteiro, unívoco, nunca partido, fragmentado, dividido, classificado, cindido. Eis o dilema maior da integralidade que se persegue. É um objeto para o qual desprezamos as ferramentas capazes de iluminar suas facetas poliédricas, sem estilhaçá-las em mil pedaços. Díficil dissemos, poderíamos dizer impossível a tarefa de explicar a integralidade, de apreendê-la e praticá-la, se estamos armados de uma propedêutica adversa, obsoleta aos nossos propósitos, ainda que se revele muito útil aos propósitos que queremos negar ou superar."

Música para dias confusos e escuros: Gilberto Gil





Comentário do Senhor C.:

- A corda deste baiano me leva...aonde for!

Música para aquecer dias frios: The Eagles




Hotel California
Eagles
Composição: Don Felder / Don Henley / Glenn Frey

On a dark desert highway, cool wind in my hair
Warm smell of colitas, rising up through the air
Up ahead in the distance, I saw shimmering light
My head grew heavy and my sight grew dim
I had to stop for the night
There she stood in the doorway;
I heard the mission bell
And I was thinking to myself,
'This could be Heaven or this could be Hell'
Then she lit up a candle and she showed me the way
There were voices down the corridor,
I thought I heard them say...

Welcome to the Hotel California
Such a lovely place (Such a lovely place)
Such a lovely face
Plenty of room at the Hotel California
Any time of year (Any time of year)
You can find it here

Her mind is Tiffany-twisted, she got the Mercedes Benz
She got a lot of pretty, pretty boys she calls friends
How they dance in the courtyard, sweet summer sweat.
Some dance to remember, some dance to forget

So I called up the Captain,
'Please bring me my wine'
He said, 'We haven't had that spirit here since nineteen sixty nine'
And still those voices are calling from far away,
Wake you up in the middle of the night
Just to hear them say...

Welcome to the Hotel California
Such a lovely place (Such a lovely place)
Such a lovely face
They livin' it up at the Hotel California
What a nice surprise (what a nice surprise)
Bring your alibis

Mirrors on the ceiling,
The pink champagne on ice
And she said 'We are all just prisoners here, of our own device'
And in the master's chambers,
They gathered for the feast
They stab it with their steely knives,
But they just can't kill the beast

Last thing I remember, I was
Running for the door
I had to find the passage back
To the place I was before
'Relax,' said the night man,
'We are programmed to receive.
You can check-out any time you like,
But you can never leave!'


A Síndrome de Maia

(ou A Peleja dos Pretos Fedidos Contra os de Fina Estampa)

HISTÓRIAS BRASILEIRAS
LUIZ ANTONIO SIMAS


De onde menos se espera, já dizia o Barão de Itararé, é que não vem nada que preste. Lembrei disso quando soube que Wolf Maia, diretor da novela global Fina Estampa, com elenco predominantemente branco (parece que tem uns crioulos representando moradores de comunidades), foi condenado em junho último por crime de racismo. Maia, que está recorrendo da condenação, se referiu a um funcionário negro de um teatro de Campinas nos seguintes termos: "me colocaram um preto fedorento que saiu do esgoto com mal de Parkinson para operar o canhão de luz..." ( )

O caso não me surpreende. Está na ordem do dia, sobretudo entre certos segmentos da classe média alta e das elites endinheiradas do país, manifestar uma pedante aversão ao povo brasileiro. Chamei isso certa feita de "Mal de Neuendorf". Explico. Kevin Neuendorf, para quem não se lembra, foi o chefe da delegação dos Estados Unidos durante os jogos panamericanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro. O Mister Neuendorf chocou muita gente ao aparecer para uma entrevista coletiva com um cartaz onde se lia: "Welcome to Congo". Alguns brasileiros ficaram profundamente ofendidos com o gringo que, cheio de arrogância, nos comparou ao país da África.

Escrevi na ocasião um texto em que, provocativamente, concordei com o mister e afirmei que somos de fato o Congo. Alguns acontecimentos recentes, feito esse caso Wolf Maia, apenas escancaram a existência de uma elite preconceituosa, nefasta, assustadoramente moralista e potencialmente fascista. É por isso que retomo e desenvolvo alguns argumentos que utilizei à época para afirmar, aos que sofrem do Mal de Neuendorf (ou Síndrome de Wolf Maia, se preferirem), que os brasileiros, pretos fedidos, somos Congo mesmo. Com muito orgulho.

Somos porque vieram de lá, da região do Congo-Angola, só no século XVII, cerca de 700 mil africanos para trabalhar nas lavouras e minas do Brasil Colonial. Nós, os brasileiros, somos, portanto, congos. Somos também jalofos, bamuns, mandingas, bijagós, fantes, achantis, gãs, fons, guns, baribas, gurúnsis, quetos, ondos, ijexás, ijebus, oiós, ibadãs, benins, hauçás, nupês, ibos, ijós, calabaris, teques, iacas, anzicos, andongos, songos, pendes, lenges, ovimbundos, ovambos, macuas, mangajas e cheuas.

Todos estes acima mencionados são grupos de africanos que chegaram nessas praias com seus valores, conjuntos de crenças, costumes e línguas - culturas, enfim - para, ao lado de minhotos, beirões, alentejanos, algarvios, transmontanos, açorianos, madeirenses e milhares de comunidades ameríndias, civilizar o Brasil.

O caso é que agora está rolando uma certa moda - que faz a alegria dos descolados iconoclastas e dos apóstolos do liberalismo mais tacanho - de atribuir aos próprios africanos a responsabilidade sobre a escravidão. Todo mundo palpita sobre a história da África, mete o bedelho sem conhecimento de causa e, nesse rame-rame, tem gente dizendo que nós nunca fomos racistas e que Monteiro Lobato comparava Tia Nastácia a uma macaca beiçuda por uma questão de afeto. Sugiro que esses papudos leiam Silvio Romero e Oliveira Vianna, dois intelectuais respeitados em antanhos.

Silvio Romero, ao refletir sobre o problema brasileiro no início do século passado, sugeriu que a única salvação do país era torcer para que a miscigenação se fosse processando com o aumento contínuo do sangue branco. Chegou a profetizar que (se a miscigenação fosse estimulada) a superioridade do sangue branco prevaleceria e no ano 2000 não haveria mais traços negróides no nosso povo. Clarear o brasileiro, eis a solução do nobre intelectual.

Oliveira Vianna, por sua vez, escreveu um livro outrora muito respeitado, que apaixonou gerações de leitores, chamado Evolução do povo brasileiro. Segundo este autor, a salvação possível do Brasil era a nação embranquecida. Para ele, a imigração européia, a fecundidade dos brancos , maior do que a das raças inferiores (negros e índios ), e a preponderância de cruzamentos felizes, nos quais os filhos de casais mistos herdariam as características superiores do pai ou da mãe branca, garantiam um futuro brilhante e branquelo ao Brasil.

A irresponsabilidade de reacionários rancorosos e embusteiros intelectuais escancara a existência de brasileiros que sentem verdadeiro nojo do nosso povo, execram o Brasil e guardam no fundo de suas almas o acalentado sonho que Romero e Vianna ousaram expressar. São aqueles que nutrem verdadeiro pânico de lembrar que vivem num país mestiço, em larga medida civilizado pela África e dotado da cultura mais rica e múltipla que o mundo conhece.

São brasileiros que marcharam com Deus pela liberdade em 1964, mandam os filhos para intercâmbios nos EUA, Austrália e Europa em busca de valores supostamente civilizados, vivem encastelados em condomínios luxuosos, acham que a empregada doméstica deve vestir uniforme branco e subir pelo elevador de serviço, não gostam de pretos, botam fogo em índios, não respeitam as religiosidades afro-ameríndias, dizem que samba é coisa de gentinha, frequentam compulsivamente shoppings centers, gastam num jantar o que pagam em um mês para os empregados, vibram quando a polícia executa moradores de favelas e criam filhos enfurecidos e preconceituosos que saem de noitadas em boates da moda para surrar pobres, gays e garotas de programa nas esquinas das grandes cidades.

Essa gente não se conforma com o Brasil que vive nos maracatus, nos moçambiques, na taieira, na folia de são Benedito, no candomblé de angola, nas cavalhadas, no terno-de-congo, no batuque do jongo e na dança do semba.
Somos os pretos fedidos que tanto irritam os Wolf Maia. E somos porque batemos tambor, batemos cabeça, dançamos e rezamos como os do lado de lá da Calunga Grande, o mar dos tumbeiros, sepultura de tantos.
Somos o Congo e somos a África porque somos o país de Zumbi, Licutam, Ganga- Zumba, Luiza Mahin, Bamboxe Obitiku , Felisberto Benzinho, Cipriano de Ogum, Leônidas da Silva, João da Baiana, Donga , Pixinguinha, Candeia, Mãe Senhora, Mãe Aninha, Tata Fomutinho, João Candido, Osvaldão, Marighela, Martiniano do Bomfim, Solano Trindade, Silas de Oliveira e de tantos outros heróis civilizadores.

Urge afirmar, contra os preconceitos mais mesquinhos dos de fina estampa, o Brasil que acalentamos - o nosso Congo Ameríndio de macaias, aldeias, botequins, ocas, sambas, calundus, jongos e portugueses fados. Com a proteção de Zambiapungo, de todos os inkices de Angola e dos ancestrais do samba.

Abraços


Esta é a hora: confusos ou desinformados!




Se você não está confuso, é porque está desinformado!
Delfim Netto
Folha de S. Paulo

Há uma nuvem escura sobre a economia mundial, anunciadora de possíveis dificuldades. Talvez a manifestação mais típica dessa ameaça seja a procura dos papéis do Tesouro das duas maiores economias de mercado.

Os EUA, com uma inflação anual da ordem de 3,6% ao ano e a Alemanha, com 2,4%, têm taxas de juros reais virtualmente nulas para papéis com menos de um ano.

Diante das incertezas que envolvem a economia mundial, há uma procura de abrigo nos papéis do Tesouro das duas economias. A despeito do ridículo exibicionismo da S&P, a demanda de papéis americanos tem aumentado com taxa de juro real cadente... Sinal ainda mais evidente da desesperada busca de segurança é o preço do ouro: US$ 1.873,9 por onça, em 19/8.

Se você não está confuso, é porque está desinformado!
São, no fundo, sinais de pânico no mundo em que prevalecem: 1º) a disfuncionalidade política dos EUA; 2º) as complicações da administração da Comunidade Europeia; 3º) o esgotamento das medidas tocadas por tecnocratas (as políticas fiscal e monetária) e 4º) mais importante, a evidente falta de estadistas.

O grave é que o problema se autoalimenta. A fuga para a segurança produz mais insegurança: destrói valor nas Bolsas (particularmente dos bancos "sob suspeita") e pode levar a outra interrupção do crédito interbancário, condição suficiente para ampliar a crise da economia real. O Brasil, como parte do mundo, também sentirá os efeitos da tempestade.

Nossa situação é melhor do que a da maioria dos países, mas ainda temos a maior taxa de juros real e a moeda mais sobrevalorizada do mundo!

Talvez tenhamos a chance de iniciar a solução desses problemas, ao reduzir substancialmente a taxa de juro real.

O movimento preliminar preparatório deve aproveitar a credibilidade do governo e estabelecer uma política fiscal de longo prazo, cuidadosa e crível: de crescimento de custeio abaixo do crescimento do PIB; regras claras para a redução da taxa do financiamento da dívida com LFT; colocação de papéis do Tesouro em reais no exterior; políticas de estímulo à poupança; aumento do superavit primário; atenção ao problema da aposentadoria do servidor público; desindexação ampla, geral e irrestrita; ajustamento da caderneta de poupança e medidas microeconômicas que reduzam o estresse do ajustamento do mercado de trabalho. A curva de juros atual parece indicar que é hora de um programa fiscal bem conformado e amplo, acompanhado de políticas microeconômicas que retirem do Banco Central o peso das incertezas fiscais (vistas pelo mercado) e lhe deem musculatura e tranquilidade para, num prazo adequado, reduzir a taxa de juros real a qualquer coisa entre 2% e 3%.



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Música para saudar acontecimentos: Genesis





A Trick Of The Tail
Genesis

Bored of the life on the city of gold
He'd left and let nobody know.
Gone were the towers he had known from a child,
Alone with the dream of a life
He travelled the wide open road,
the blinkered arcade,
In search of another to share in his life.
Nowhere.
Everyone looked so strange to him.

They've got no horns and they've got no tail
They don't even know of our existence.
Am I wrong to believe in a city of gold
That lies in the deep distance, he cried

And wept as they led him away to a cage
Beast that can talk, read the sign.
The creatures they pushed and they prodded his frame
And questioned his story again.
But soon they grew bored of their prey
Beast that can talk?
More like a freak or publicity stunt.
Oh
No,

They've got no horns and they've got no tail
They don't even know of our existence.
Am I wrong to believe in a city of gold
That lies in the deep distance, he cried

And broke down the door of the cage and marched on out.
He grabbed a creature by the scruff of his neck, puinting out:
There, beyond the bounds of you weak imagination
Lie the noble towers of my city, bright and gold.
Let me take you there and show you a living story
Let me show you others such as me
Why did I ever leave?

They've got no horns and they've got no tail
They don't even know of our existence
Am I wrong to believe in a city of gold
That lies in the deep distance, he cried
And wept.

And so we set out with the best and his horns
And his crazy description of home.
After many days journey we came to a peak
Where the beast gazed abroad and cried out.
We followed his gaze and we thought maybe we saw
A spire of gold - no, a trick of the eye that's all,
But the beast was gone and a voice was heard:

They've got no horns and they've got no tail
They don't even know of our existence
Am I wrong to believe in a city of gold
That lies in the deep distance, he cried

Hello friend, welcome home.

Quem salvará a Líbia dos seus salvadores ocidentais?



Por Jean Bricmont, Diana Johnstone, em Resistir.info

A 17 de Março, o Conselho de Segurança da ONU adotou a resolução 1973 que dava a esta "coligação de voluntários" um tanto particular o sinal verde para começar a sua pequena grega, controlando primeiro o espaço aéreo líbio, o que permitiu a seguir bombardear o que a OTAN quis bombardear.

Os dirigentes da coligação esperavam manifestamente que os cidadãos líbios reconhecidos aproveitariam a ocasião fornecida por esta "proteção" vigorosa para derrubar Muamar Kadafi o qual, pretendia-se, queria "matar o seu próprio povo". Baseando-se na ideia de que a Líbia estava dividida de modo claro entre "o povo" de um lado e "o mau ditador" do outro, esperava-se que este derrube ocorresse em alguns dias.

Ao olhos ocidentais, Kadafi era um ditador pior que Ben Ali na Tunísia ou Mubarak no Egipto, que caíram sem intervenção da OTAN. Kadafi deveria portanto cair muito mais rapidamente. 



Cinco meses mais tarde, tornou-se evidente que todas as suposições nas quais se fundamentava esta guerra eram mais ou menos falsas. As organizações de defesa dos direitos do homem não conseguiram encontrar provas dos ditos "crimes contra a humanidade" cometidos por Kadafi contra "o seu próprio povo".

O reconhecimento do Conselho Nacional de Transição (CNT) como "único representante legítimo do povo líbio" por parte dos governos ocidentais, que era no mínimo prematuro, tornou-se grotesco. A OTAN empenhou-se numa guerra civil, exacerbando-a, e sem fazê-la sair do impasse. 



Mas por mais absurda e destituída de justificação que esta guerra possa ser, ela continua. E quem é que pode travá-la? 



Um dos melhores livros para ler neste Verão foi a excelente nova obra de Adam Hochschild, To End All Wars , sobre a Primeira Guerra Mundial e os movimentos pacifistas daquela época. Há muitas lições de atualidade que se podem encontrar neste livro, mas a mais pertinente é sem dúvida o fato de que uma vez começada uma guerra é muito difícil pará-la. 



Os homens que começaram a primeira guerra mundial também pensavam que ela seria curta. Mas mesmo quando milhões de pessoas foram lançadas na tormenta assassina e quando o caráter absurdo do empreendimento tornou-se claro como água límpida, a guerra continuou durante quatro anos trágicos. A própria guerra engendra o ódio e uma vontade de retaliação. Quando uma grande potência começa uma guerra, ela "deve" ganhá-la, qualquer que seja o custo – para ela própria e sobretudo para os outros. 



Até o presente, para os agressores da OTAN o custo da guerra contra a Líbia é puramente financeiro e isso é compensado pela esperança de um pilhagem do país, quando ele for "libertado" e de que ele pagará para reembolsar aqueles que o bombardearam. Não é senão o povo líbio que perde vidas, bem como a sua infraestrutura. 



Durante a primeira guerra mundial existia um corajoso movimento de oposição à guerra que enfrentou a histeria e o chauvinismo deste período e que advogava em favor da paz. Seus membros arriscavam-se a ataques físicos, assim como à prisão. O modo como Hochchild conta a luta pela paz destes homens e destas mulheres na Grã-Bretanha deveria servir de inspiração – mas para quem? Os riscos implicados pela oposição à guerra na Líbia são mínimos em comparação com os que existiam aquando a guerra de 1914-1918. Mas no momento, uma oposição ativa é apenas visível. 

Isto é particularmente verdadeiro em França, país cujo presidente, Nicolas Sarkozy, teve a iniciativa de começar esta guerra. 



Acumulam-se os testemunhos das mortes de civis líbios, inclusive crianças, provocadas pelos bombardeios da OTAN. Estes bombardeios visam a infraestrutura civil, a fim de privar a maioria da população que vive na parte do país leal a Kadafi dos bens de primeira necessidade, da alimentação e da água, a fim de pressionar o povo a derrubar Kadafi. A guerra para "proteger os civis" já se tornou uma guerra para aterrorizá-los e atormentá-los de modo a que o CNT apoiado pela OTAN possa tomar o poder. 



Esta pequena guerra na Líbia mostra que a OTAN é ao mesmo tempo criminosa e incompetente. 

Mas ela mostra igualmente que as organizações de esquerda nos países da OTAN são totalmente inúteis. 

Provavelmente jamais houve uma guerra à qual fosse mais fácil opor-se. Mas a esquerda na Europa não se opõe. 



Há três meses, quando a histeria mediática a propósito da Líbia foi lançada pela televisão do Qatar, Al-Jazeera, a esquerda não hesitou em tomar posição. Algumas dezenas de organizações de esquerda francesas e norte-africanas assinaram um apelo por "uma marcha de solidariedade com o povo líbio" em Partis, a 26 de Março.

Mostrando a sua total ausência de coerência, estas organizações exigiram, simultaneamente, por um lado "o reconhecimento do CNT, único representante legítimo do povo líbio" e, por outro, "a proteção dos residentes estrangeiros e dos migrantes" que, na realidade, deviam precisamente ser protegidos dos rebeldes representados por este conselho. Apoiando implicitamente operações militares de ajuda ao CNT, estes grupos apelavam também à "vigilância" a propósito da "duplicidade dos governos ocidentais e da Liga Árabe", bem como a uma "escalada" possível das operações militares. 



As organizações que assinavam este apelo incluíam grupos de oposições no exílio da Líbia, Síria, Tunísia, Marrocos e Argélia, assim como os Verdes franceses, o NPA, o Partido Comunista Francês, o Partido de Esquerda, o movimento anti-racista MRAP, o partido dos Indígenas da República e o ATTAC. Estes grupos representavam praticamente tudo o que há de organizado à esquerda do Partido Socialista – que, pelo seu lado, (com excepção de Emmanueli) apoiava a guerra sem sequer fazer apelo à "vigilância". 



Agora que aumenta o número de vítimas civis dos bombardeios da OTAN, não há nenhuma manifestação da vigilância prometida "a propósito da escalada da guerra" que saísse do quadro das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. 



Os militantes que, em Março, insistiam em dizer que "devemos fazer alguma coisa" para travar um massacre hipotético hoje nada fazem para travar um massacre que não é hipotético mas sim muito real e visível, e perpetrado exatamente porque aqueles "fizeram alguma coisa". 



O erro fundamental daqueles que, à esquerda, dizem "nós devemos fazer alguma coisa" reside na ambiguidade da palavra "nós". Se eles querem dizer "nós" literalmente, então a única coisa que poderiam fazer seria por de pé espécies de brigadas internacionais para combater com os rebeldes. Mas naturalmente, apesar das grandes declarações segundo as quais "nós" devemos fazer "tudo" para apoiar o "povo líbio", esta possibilidade nunca foi seriamente considerada. 



Portanto o "nós" significa na prática as potências ocidentais, a OTAN e, sobretudo, os Estados Unidos, pois só eles possuem as "capacidades únicas" necessárias para travar uma tal guerra. 



As pessoas que gritam "devemos fazer alguma coisa" geralmente misturam duas espécies de exigências: uma que podem esperar de modo realista ser aceite pelas potências ocidentais – apoio aos rebeldes, reconhecimento do CNT como único representante legítimo do povo líbio – e outra que não podem absolutamente esperar de modo realista que seja aceite pelas grandes potências e que são elas próprias totalmente incapazes de executar: limitar os bombardeios a alvos militares e à proteção dos civis, assim como permanecer escrupulosamente no quadro das resoluções da ONU. 



Estes dois tipos de exigências contradizem-se uma à outra. Numa guerra civil, nenhuma das duas partes está preocupada principalmente com as sutilezas das resoluções da ONU ou com a proteção dos civis. Cada parte quer muito simplesmente ganhar e a vontade de retaliação leva muitas vezes a atrocidades. Se se "apoia" os rebeldes, dá-se-lhes na prática um cheque em branco para fazer o que eles considerarem necessário a fim de ganhar a guerra. 



Mas dá-se igualmente um cheque em branco aos aliados ocidentais e à OTAN, que talvez estejam menos ávidos de sangue que os rebeldes mas que têm à sua disposição meios de destruição muito maiores. E a OTAN é uma imensa burocracia – um dos fins essenciais da mesma é sobreviver. Ela deve absolutamente ganhar, senão terá um problema de "credibilidade", assim como os políticos que apoiaram esta guerra. E este problema poderia levar a uma perda de financiamento e de recursos. Uma vez que a guerra começou não há simplesmente nenhuma força no Ocidente, na ausência de movimentos anti-guerra determinados, que possa obrigar a OTAN a limitar-se ao que é autorizado pelas resoluções da ONU.

Em consequência, a segunda espécie de exigências da esquerda cai na orelha de um surdo. Estas exigências servem simplesmente para provar que a esquerda pró intervenção tem intenções puras. 

Ao "apoiar" os rebeldes, esta esquerda matou de facto o movimento anti-guerra. Com efeito, não tem sentido apoiar numa guerra civil um campo que quer desesperadamente ser ajudados por intervenções externas e, ao mesmo tempo, opor-se a tais intervenções. A direita pró intervenção é bem mais coerente. 



O que a esquerda e a direita pró intervenção têm em comum é a convicção de que "nós" (isto é, "o ocidente democrático civilizado") temos o direito e a capacidade de impor nossa vontade a outros países. Certos movimentos franceses (como o MRAP) que vivem literalmente da exploração da culpabilidade a propósito do racismo e do colonialismo, parecem ter esquecido que muitas das conquistas coloniais foram feitas contra sátrapas, príncipes indianos e reis africanos que eram denunciados como autocratas (o que de fato eram) e não parecem dar-se conta de que há alguma coisa de um tanto incongruente, para organizações francesas, em decidir quem são os "representantes legítimos" do povo líbio. 



Apesar dos esforços de alguns indivíduos isolados, nenhum movimento popular na Europa é capaz de travar ou mesmo enfraquecer o ataque da OTAN. A única esperança poderia ser um colapso dos rebeldes, ou uma oposição nos Estados Unidos, ou uma decisão da parte das oligarquias dominantes de limitar as despesas. Enquanto isso, a esquerda europeia perdeu uma ocasião de renascer opondo-se a uma das guerra manifestamente mais injustificáveis da história. A Europa inteira sofrerá com esta derrota moral.


Nenhuma novidade

Lula no centro da política brasileira
por Luiz Carlos Azenha

Às vezes é preciso relembrar mesmo o passado recente para avaliar a conjuntura política brasileira.

Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, a guerrilheira?

Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, o poste de Lula?

Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, a mentirosa que encontrou Lina Vieira?

É só consultar as edições dos jornais de 2010 para ler os copiosos textos e análises definitivas sobre a incapacidade política de Lula e de sua “criatura”.

Bem, Dilma Rousseff venceu a eleição.

Sem corar de vergonha, os analistas que produziram os textos supra-citados passaram a pregar o rompimento entre Lula e Dilma.

As teorias são crescentemente sofisticadas.

Uma delas sugere que, ao combater a corrupção, Dilma estaria carimbando negativamente o governo anterior.

É uma teoria estúpida, já que Dilma foi um quadro importante do governo anterior.

Mas os jornais não só insistem na teoria, como “repercutem” as próprias besteiras que escrevem.

É a ficção 2.0, turbinada. Mentira sobre mentira, com a esperança de que a repetição tenha algum impacto na realidade.

A realidade é que, gostem ou não, Lula continua o principal personagem da política brasileira. Não só elegeu a sucessora, como pode voltar ao poder pelo voto, em 2018 (o único risco para Dilma em 2014 é a crise econômica atropelar o Brasil).

Peço a quem tiver tempo que consulte os arquivos e aponte, nos comentários, os copiosos exemplos de textos que falavam sobre o fracasso de Lula e de Dilma, a — na linguagem deles — “criatura” que até recentemente diziam ser um zero à esquerda.



Música para saudar acontecimentos: Ceumar



Comentário do Senhor C.:

- Saudades!

O ressentimento e suas políticas



Edmilson Lopes Júnior
De Natal (RN)

Policiais observam loja de calçados incendiada durante a noite em Brixton High Street (Foto: Getty Images)


Quando as ruas de alguns bairros londrinos e de outras cidades inglesas foram tomadas por manifestações descontroladas de jovens e adolescentes, analistas apressados, não apenas na imprensa inglesa, tentaram ler os acontecimentos como uma espécie de versão britânica da revolta juvenil que abalou as estruturas autocráticas em diversos países árabes. A idealização durou pouco. As imagens de grupos saqueando lojas de produtos eletrônicos e roupas de grifes anunciavam mais um inverno fascista do que uma "primavera democrática".

Mas a idealização positiva da desordem, mesmo se em sinal invertido, continuou a ocorrer. Os que estavam tocando fogos em automóveis e lojas na Inglaterra, se não eram companheiros de batalha dos jovens árabes ou dos "indignados" espanhóis, eram a expressão do descontentamento com o desmonte das políticas sociais que estaria sendo levado adiante pelo governo conservador do Primeiro-Ministro David Cameron. Reagiam, mesmo que por meios equivocados, contra as investidas neoliberais. Até mesmo Nouriel Roubine, um analista econômico geralmente lúcido, caminhou por essa senda. Em recente artigo, cuja tradução encontra-se no Blog Viomundo, afirmou olimpicamente: "Manifestações populares, do Oriente Médio a Israel e ao Reino Unido - e logo também, sem dúvida, em outras economias avançadas e mercados emergentes - são todas provocadas pelas mesmas questões e tensões: desigualdade crescente, pobreza, desemprego e desesperança." É o tipo de construção que consola o espirito, mas diz pouco sobre a realidade. Ou, pior ainda, porque é meia-verdade (quem há de se contrapor que há um pouco disso tudo em cada uma dessas "manifestações"?) ajuda a encobrir o mais importante: a formulação de perguntas substanciais sobre os motores (e as singularidades) dos eventos.

Na Inglaterra, os conservadores saíram atirando com as armas fornecidas pelo seu ideário de sempre: a desordem seria o resultado de uma crise de autoridade, especialmente da família. E essa também é uma resposta enviesada, que contém alguma verdade, mas é profundamente limitada.

Há uma dimensão de fundo nos eventos ingleses que quase ninguém está tocando: o quanto há de ressentimento por trás das ações dos arruaceiros. Ressentimento que, à primeira vista, parece ter um viés étnico. Afinal, muitas das lojas atacadas pertenciam a indianos e paquistaneses. E alguns dos blocos residenciais incendiados eram moradias de imigrantes. Mas a dimensão étnica desse ressentimento também é uma cortina de fumaça. O ressentimento é contra o sucesso, contra o que dá certo. Obviamente, o êxito econômico daqueles que ontem viviam na miséria é uma realidade insuportável para os filhos da classe média decadente dos países do primeiro mundo, mas há algo mais: um ódio surdo contra os que lutam contra as adversidades e redefinem positivamente os seus destinos.

Esse ressentimento, algumas vezes, transborda para a vida política. A sua face mais vistosa é de direita: o nacionalismo do norte europeu. Outras vezes, especialmente na parte sul do hemisfério, alimenta um populismo autoritário, que busca se legitimar como "anti-imperialista" e de esquerda. Esse ressentimento é alimentado pelo medo do sucesso do outro. E esse outro pode ser tanto o imigrante asiático na Inglaterra quanto o magrebino na França. Mas também pode ser o êxito, em que pese os reveses econômicos presentes, de uma sociedade abertamente multicultural e com sólidas instituições e cultura democráticas como a norte-americana. Pode ser também o Estado de Israel. No ódio a Israel de muitos, mesmo quando transvestido de apoio à causa palestina, há o ressentimento contra algo que, quase que remando contra a lógica, deu certo: uma pátria, com instituições democráticas profundas, para os judeus. Como não se aceita esse sucesso, nega-se a legitimidade de Israel em se defender dos ataques terroristas contra o seu território e a sua população.

Em um livro intitulado "E se Obama fosse africano?", o grande escritor moçambicano Mia Couto, faz pequeno comentário sobre o genocídio perpetrado pelos hutus contra os tutsis em Ruanda. Afirma o grande romancista que, poucos anos antes do massacre de quase um milhão de pessoas no país africano, nenhum dos dois lados imaginaria que tal acontecimento fosse possível. Mia Couto também recorre à pobreza como causa explicativa eficiente. Quem conhece um pouco a história de Ruanda, sabe que a diferença étnica entre tutsis e hutus, acentuada ao nível de uma identidade oficial pelos colonizadores belgas, alimentou um ressentimento surdo que se transformou em política. A Rádio Mil Colinas, que funcionou como uma espécie de animadora tétrica dos hutus, guiando seus facões contra os tutsis, passou anos alimentando o ódio ao suposto sucesso e poder dos tutsis. Nessa emissora, os tutsis deixaram de ser reconhecidos como humanos, eram "baratas", portanto, sua eliminação seria não apenas desejável, mas também necessária.

Não estamos imunes, em nenhuma parte do mundo, a esse ressentimento e ao seu transbordamento para a política. No Brasil, o regionalismo, essa construção política e cultural do século XX, não raras vezes, alimenta, como efeito indesejado, o ressentimento. Pode ser contra os nordestinos, mas também pode ser contra São Paulo. O sucesso dos migrantes do "Norte", cuja tradução mais eloquente é a eleição de Lula, não é descolado do êxito econômico do estado de São Paulo. E falar de uma suposta vocação discriminatória, especialmente dos paulistanos, é atentar contra a lógica dos fatos. Afinal, que outra metrópole brasileira elegeu uma paraibana como sua prefeita? Ou, ainda, que outro estado da federação consagrou, em uma mesma eleição, um palhaço cearense e um ex-deputado pernambucano como seus representantes parlamentares?

Em certa medida, o ressentimento contra o sucesso alheio é um efeito não esperado da sedimentação do igualitarismo democrático. Uma das suas traduções devastadoras é o ódio contra o que dá certo. Como pode vestir qualquer figurino político e ideológico, devemos mobilizar as armas do pensamento crítico contra as suas insidiosas pregações.


Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Guerra de classes no mundo?

Revista “esquerdista” fala em guerra de classes mundial
por Luiz Carlos Azenha



Primeiro foi o Nouriel Roubini que, em entrevista ao revolucionário Wall Street Journal, disse que Marx estava certo.
Agora, aquela revista esquerdista chamada Forbes publicou um texto muito disseminado nas redes sociais nos Estados Unidos.
Título: Os distúrbios no Reino Unido e a vindoura guerra de classes mundial

No artigo, Joel Kotkin elenca uma série de números:

* 1 milhão de jovens britânicos estão desempregados

* 50% das crianças de Londres vivem na pobreza

* 20% dos adolescentes americanos estão desempregados, taxa que chega a 50% em Washington

* dois quintos dos americanos que tem 18 e 19 anos de idade estão desempregados ou fora da força de trabalho

* 43% dos americanos brancos sem diploma universitário avaliam que a vida está piorando.

Ele escreve:
“O endurecimento das divisões de classe tem se acumulado por uma geração, primeiro no Ocidente mas crescentemente em países de rápido desenvolvimento como a China. A crescente divisão de classes tem suas raízes na globalização, que custou empregos aos colarinhos azuis e agora mesmo aos colarinhos brancos; na tecnologia, que permitiu a empresas e indivíduos mais ricos mudar suas operações com velocidade rápida para qualquer lugar; e na secularização da sociedade, que solapou os valores tradicionais do trabalho e da família que eram básicos do capitalismo de raízes desde suas origens.
Todos estes fatores podem ser vistos nos distúrbios britânicos. Relações raciais e com a polícia tiveram um papel, mas entre os amotinados havia mais que gente das minorias ou gangsters. Como o historiador britânico James Heartfield sugeriu, os amotinados refletiram um rompimento mais amplo do “sistema social britânico”, particularmente o “sistema de trabalho e de recompensa”.

Nas primeiras décadas do século 20, jovens da classe trabalhadora poderiam contar com trabalho na vibrante economia industrial do Reino Unido e, mais tarde, no crescente setor público largamente financiado pelos ganhos [financeiros] da City e ao crédito. Hoje, o setor industrial encolheu e está irreconhecível. A crise financeira solapou o crédito e a capacidade do governo de bancar o estado de bem estar social”.

Mais adiante:

“A perspectiva de um crescente conflito de classe existe mesmo na China, onde a desigualdade social é uma das piores do mundo. Não causou surpresa uma pesquisa conduzida pela Academia de Ciências Sociais de Zhejiang mostrando que 96% dos entrevistados sentem “ressentimento contra os ricos”. Enquanto o Tea Party e os esquerdistas nos Estados Unidos acusam o capitalismo entre amigos do regime Bush-Obama-Bernanke, os trabalhadores e os chineses de classe média estão diante de uma classe governante hegemônica que consiste de autoridades e capitalistas ricos. Que isso se dá sob um regime supostamente “marxista-leninista” é ao mesmo tempo irônico e obsceno”.

Diante disso, ele prevê que a onda mundial de distúrbios vai se espalhar e chegará aos Estados Unidos.
Com as bolsas de valores derretendo mais uma vez, é sempre bom ficar de olho nos alertas destas publicações esquerdistas como o Wall Street Journal e a Forbes.

PS do Viomundo: Não tenho a mínima paciência com o nheco-nheco político em torno do governo Dilma. Tenho comigo que o futuro político da presidente vai se definir em função da reação brasileira à crise econômica mundial, que pode se aprofundar nos próximos meses. Quanto ao resto, não há nada que o canetaço presidencial não resolva, especialmente no Brasil.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A presidenta margarida!

“Vocês têm em mim uma presidenta Margarida como vocês”




Brasília foi palco, nesta terça-feira (17/8), de um dia que entrará para a história do país: o encontro da primeira presidenta mulher com cerca de 100 mil trabalhadoras rurais, que marcharam à capital federal em busca de justiça social e equidade de gênero. Ao participar da cerimônia de encerramento da Marcha das Margaridas 2011, a presidenta Dilma Rousseff divulgou uma série de conquistas alcançadas pelas trabalhadoras rurais a partir de negociações com o governo federal.

Os ganhos das trabalhadoras envolvem ações na área da saúde, educação, segurança, geração de renda, acesso à terra e crédito rural e erradicação da miséria, entre outras. O resultado das mesas de negociação foi reunido em um caderno resposta, que a presidenta Dilma fez questão de entregar pessoalmente às Margaridas na solenidade de encerramento da Marcha.

“Minhas queridas Margaridas, hoje estou aqui para dizer que a Marcha de vocês me toca e me emociona profundamente, não apenas como presidenta da República, mas como mulher e cidadã (…), e para reconhecer que muitas das demandas de vocês foram acatadas (…). O principal resultado é a continuidade do diálogo e do respeito entre vocês e o governo federal, iniciados pelo presidente Lula. Me comprometo a dar continuidade a esse diálogo respeitoso e companheiro e a ampliar o atendimento às justas reivindicações das trabalhadoras rurais”, disse a presidenta, ao iniciar seu discurso.

Entre as medidas anunciadas, a presidenta destacou a construção de 16 unidades básicas de saúde fluviais e de 10 centros de referência em saúde do trabalho voltados para o campo e floresta até 2012; um plano integrado em saúde para trabalhadores do campo e da floresta; o aumento do limite de venda da agricultura familiar para fornecimento da merenda escolar, de modo a atingir, ainda em 2011, os 30% de compra direta do governo à agricultura familiar previstos na lei; a inserção da Produção Agroecológica Integrada Sustentável (PAIS) no Plano Brasil sem Miséria e aumento da dotação orçamentária do programa; ampliação do crédito rural, com elevação da participação da mulher e linha exclusiva às trabalhadoras; ampliação do acesso à creche e expansão da rede escolar na zona rural, entre outros.

A presidenta também chamou a atenção para um plano de enfrentamento à violência contra a mulher do campo, a implantação de programa de documentação civil na Amazônia, com foco na mulher, a instituição de grupo de trabalho para elaboração, com a participação da sociedade civil, de um programa nacional de agroecologia e o início de um diagnóstico de todos os assentamentos rurais no Brasil, para “definir como encaminhar a questão do acesso à terra daqui por diante”.

“Eu quero intensificar o diálogo do governo com vocês. Tenho certeza de que o debate com os movimentos sociais é fundamental. E tenho certeza de que as críticas e as sugestões são essenciais e muito bem vindas, pois permitem que façamos cada vez melhor, que possamos, juntas, construir o Brasil que queremos: um país sem miséria, um país rico (…) e um país mais justo e menos desigual”, concluiu.