Por Bruno Carmelo
Em 2012, até o meio de novembro, o cinema brasileiro tem apresentado bilheterias fraquíssimas. Apenas dois filmes ultrapassaram a marca de um milhão de espectadores (Até Que a Sorte nos Separe e E Aí… Comeu?, embora Gonzaga – De Pai pra Filho esteja chegando lá), enquanto outros que esperavam atingir a marca fracassaram amargamente (Xingu, Heleno, Paraísos Artificiais).
Encontrar as razões para estes resultados seria necessário e interessante, mas este artigo propõe refletir sobre um elemento menor, pontual, mas bastante representativo do mercado de cinema: os elementos de venda do filme, ou melhor, os cartazes dos filmes nacionais lançados nos últimos doze meses. Considerando que muitos espectadores ainda decidem o filme que vão ver nos próprios multiplexes, diante dos cartazes, estas imagens servem como boas metáforas da imagem que o filme quer passar de si mesmo. Ou seja, o cartaz mostra não necessariamente o que o filme é, mas qual produto ele gostaria de ser, e qual público ele pretende seduzir.
Certamente, todos os cartazes não podem ser reduzidos às mesmas estratégias, mas é possível perceber algumas tendências gerais. Os cartazes dos filmes mais populares têm apostado em uma simplicidade extrema. Em termos de design, são pôsteres sem profundidade de campo, com os personagens mostrados de corpo inteiro, colados um ao lado do outro, de modo a preencher o espaço. O fundo é apenas uma tela: estas são imagens literalmente superficiais. Não se conta a trama, nem o espaço ou o tempo. Mostra-se apenas o que se julga atrair o público mais amplo: caras, bocas, mulheres belas, atores famosos.
O material promocional de Astro – Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro Mágico não mostra se a obra é uma animação, se é infantil, dramático, cômico. Menos Que Nada cola rostos flutuantes pelo ar sem criar nenhuma relação entre eles, assim como o evangélico Três Histórias, Um Destino, que lembra as capas de romances de banca de jornal. Pelo menos, no caso deste último, o produto contava principalmente com o boca a boca nos centros de culto para conquistar seu público, não dependendo tanto do cartaz, trailer e instrumentos tradicionais de publicidade.
Seria interessante comparar estas imagens com as dos outros anos, ou então colocá-las em ranking, da maior à menor bilheteria, mas constatemos apenas que em 2012 os filmes tentaram se vender pela relação muito curiosa à figura humana: nas grandes produções populares, o humano é claramente visível, disponível, mas também fetichizado, erotizado ou ridicularizado. Os corpos são fornecidos ao olhar para consumo direto, pelos nomes famosos, pela posição central e majoritária na imagem. Já os filmes menos comerciais, que apostam nos conflitos humanos, são aqueles que justamente esconderam as identidades de seus humanos, sugerindo apenas sua presença, sua relação com o espaço.
O cinema popular apelou para imagens pouco inteligentes, mas ansiosas por agradar – são imagens da oferta, que antecedem o desejo do consumidor. Já o cinema dito alternativo combinou o design complexo com um sentido incompleto – são imagens da procura, que só se completarão caso o espectador já tenha uma vontade prévia de desvendar símbolos do tipo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.