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terça-feira, 31 de julho de 2012

Lista de Furnas é mesmo verdadeira


Conheça a Lista de Furnas AQUI

Ministério Público denuncia 'mensalão' de Furnas

Amaury Ribeiro Jr. - Do Hoje em Dia


A procuradora da República no Rio Andrea Bayão Ferreira denunciou o ex-diretor de Planejamento de Furnas, Dimas Toledo, e um grupo de empresários e políticos acusados de participarem da chamada Listas de Furnas – a caixinha de campanha clandestina que funcionou na empresa estatal durante o governo de FHC. A denúncia reúne um arsenal de documentos da Polícia Federal e da Receita Federal que, além de atestar a veracidade, comprova a existência de um “mensalão” organizado por Dimas na estatal.

De acordo com a procuradora, o mensalão de Furnas provocou o enriquecimento de funcionários públicos, empresários e lobistas, acusados de alimentarem os financiamentos ilegais de campanha políticas dos tucanos e de seus aliados com o dinheiro público. Segundo a denúncia, o esquema era custeado pelos contratos superfaturados assinados pela estatal com duas empresas : a Toshiba do Brasil e a JP Engenharia Ltda. As duas foram contratadas sem licitação pública para realizar obras no Rio . “ O diretor Dimas Toledo reproduziu, em Furnas, o esquema nacional que ficou conhecido como ‘ mensalão’ – um esquema de arrecadação de propina – na ordem de milhões, custeado mediante o superfaturamento de obras e serviços”, diz a procuradora na denúncia.

A lista
A lista de Furnas, assinada pelo próprio Dimas Toledo, traz o nome de políticos que receberam doações clandestinas de campanha da empresa estatal em 2002. Entre os beneficiados estão os ex-governadores de São Paulo e de Minas Gerais, e outros 150 políticos.

Réus confessos
Os próprios executivos da Toshiba do Brasil – uma das empresas que financiavam o esquema – confirmaram a existência de um caixa dois que sustentava mesada de servidores e políticos. O superintendente Administrativo da empresa japonesa, José Csapo Talavera, afirmou, por exemplo, que os contratos de consultoria fictícios das empresas de fachada, até 2004 , eram esquentados por um esquema de “notas frias”.

Escuta quente
As escutas da Polícia Federal desmentem que o lobista Nilton Monteiro teria tentando falsificar a lista. Pelo contrário. “Durante a intercepção das linhas telefônicas usadas por Nilton Monteiro, nada foi captado que indicasse a falsidade da lista, ao revés, em suas conversa telefônicas, inclusive com sua esposa, sustenta que a lista é autêntica”, diz a procuradora.

Jefferson confirmou
Um dos políticos citados na lista, o ex-presidente do PTB e ex-deputado Roberto Jefferson(PTB) também confirmou à PF a veracidade do documento. De acordo com o depoimento anexado à denuncia do MP, Jefferson disse ter recebido, na campanha para deputado federal em 2002, R$ 75 mil da estatal. A grana foi entregue pelo próprio Dimas Toledo a Jefferson num escritório no centro do Rio.

Peritos
Mas a prova cabal de que a lista de Furnas é mesmo verdadeira acabou sendo fornecida por peritos da Polícia Federal. Em depoimento à PF, além de confirmarem a autenticidade da assinatura de Dimas Toledo, os peritos descartaram a possibilidade de montagem.

Chantagem
De acordo com a denúncia, a lista com o nome de políticos que receberam doações clandestinas da estatal teria sido elaborada pelo próprio Dimas Toledo, que pretendia usá-la para manter-se no cargo. O próprio diretor da estatal teria entregue o material ao lobista, que tentou l negociá-la com os adversários políticos do PSDB.

Trânsito
Dimas Toledo confirmou que o lobista tinha trânsito livre na estatal. Dimas disse ter, inclusive, marcado um encontro do lobista com o departamento jurídico da estatal.

Indiciamento
Além de Jefferson, o MPF denunciou Dimas Toledo, mas deixou de fora caciques do PSDB citados, sob o argumento de que eles são alvos específicos de uma investigação da PF e do MPF sobre os beneficiários da caixinha de campanha alimentada pela empresa estatal.

Vara da Fazenda
O destino de Dimas e de outros operadores de Furnas será julgado pela Vara da Fazenda do Rio. Apesar de Furnas ser uma empresa estatal, a Justiça Federal do Rio encaminhou a denuncia do MPF à Justiça Estadual Fluminense.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Mercosul na sua segunda geração!

O Mercosul se afirma com a entrada da Venezuela

A entrada da Venezuela coloca o Mercosul em um novo estágio. O bloco fica ampliado nas dimensões econômicas, comerciais, culturais e demográficas. Territorialmente, incorpora mais de 900 mil quilômetros quadrados, que é praticamente as superfícies de França e Alemanha somadas. Consolida o domínio sobre as maiores reservas energéticas, minerais, naturais e de recursos hídricos do planeta. A partir de agora, o Mercosul passa a ser a região com a maior reserva mundial de petróleo. 


O artigo é de Jeferson Miola*

No último 13 de julho o Governo da Venezuela formalizou na Secretaria do Mercosul o Instrumento de Ratificação do Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul, assinado em 04 de julho de 2006. Dessa forma, o país cumpre as formalidades para seu ingresso pleno no bloco, passando da condição de Membro Associado à qualidade de Estado Parte.
O ingresso da Venezuela foi aprovado pelas Presidentas Cristina Kirchner, da Argentina, Dilma Rousseff, do Brasil e pelo Presidente José Mujica, do Uruguai, na Cúpula Presidencial de 29 de junho de 2012, na cidade argentina de Mendoza.

O Mercosul nasceu num contexto histórico e político muito diferente do atual. Menem governava a Argentina, Collor o Brasil, Andrés Rodriguez o Paraguai e Alberto Lacalle presidia o Uruguai. Era o auge da fanfarra neoliberal e das promessas da globalização financeira que supostamente levariam a humanidade a um nirvana que, na verdade, se converteu num tremendo pesadelo. Em 1991, a constituição do “Mercado Comum do Sul” visava coordenar políticas macroeconômicas e de liberalização comercial no marco de uma inserção desfavorável à globalização neoliberal.

O epicentro daquele Mercosul idealizado em 1991 eram as relações comerciais e a coordenação dos interesses das mega-empresas transnacionais e dos monopólios econômicos na maximização dos lucros auferidos regionalmente para a transferência às suas matrizes, radicadas sobretudo na Europa e nos Estados Unidos.

Em 2012 este projeto de integração completou 21 anos, marcado por limites e contradições; mas, também, exibindo avanços em diversos campos. Desde 2003, a partir da assunção de governos de esquerda e progressistas na região, notadamente sob a liderança inicial de Kirchner e Lula, a fisionomia do Mercosul vem sendo transformada.

O comércio intra-bloco passou de 4,5 para 50 bilhões de dólares anuais; foi criado um Parlamento próprio; 100 milhões de dólares ao ano são aplicados pelo FOCEM [Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul] a fundo perdido na execução de investimentos sociais e de infra-estrutura para diminuir as assimetrias e disparidades entre os países; está sendo implementado um Estatuto da Cidadania, e a “integração anti-Condor” converteu as políticas de direitos humanos adotadas no MERCOSUL em paradigma mundial.

A entrada da Venezuela significa o aprofundamento desta transformação, e coloca o Mercosul em um novo estágio. O bloco fica ampliado nas dimensões econômicas, comerciais, culturais e demográficas. Territorialmente, incorpora mais de 900 mil quilômetros quadrados, que é praticamente as superfícies de França e Alemanha somadas. Consolida a jurisdição e o domínio sobre as maiores reservas energéticas, minerais, naturais e de recursos hídricos do planeta. Seguramente deverá ter maior protagonismo no jogo geopolítico internacional.

A ampliação do Mercosul naturalmente será acompanhada de dificuldades, mas também de inúmeras conveniências. Contribui para maior coesão da região, para a estabilidade democrática, para a diminuição de conflitos e aumenta a segurança e a capacidade de defesa. A maior integração também conforma um ambiente comunitário mais favorável à adoção de estratégias comuns de desenvolvimento, aproveitando o mercado regional de massas incrementado em 29 milhões de pessoas e um comércio intraregional de produtos manufaturados com maior valor agregado. A partir de agora, o Mercosul passa a ser a região do globo com a maior reserva mundial de petróleo, adquirindo maior poder de influência na definição das políticas energéticas no mundo.

Desde a assinatura do Tratado de Assunção em 1991, dois acontecimentos marcaram uma inflexão geopolítica e estratégica do Mercosul numa perspectiva pós-neoliberal. O primeiro deles foi o sepultamento, em 2005, da Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, que representava uma perigosa ameaça à soberania, ao desenvolvimento e à independência dos países do hemisfério. O segundo acontecimento marcante está se dando justo neste momento, com o ingresso pleno da Venezuela no Bloco, inaugurando o que se poderia considerar como a segunda geração do MERCOSUL e do processo de integração regional.

A América do Sul foi historicamente prejudicada pelas grandes potências - especialmente pelos Estados Unidos - que preferem nosso rico e promissor continente dividido – ou desunido – a um continente integrado e capaz de construir soberanamente seu destino. Esta realidade faz compreender as razões do conservadorismo que combate - por vezes de forma irascível - o ingresso da Venezuela no Mercosul e o fortalecimento dos laços regionais de amizade, de harmonia e de integração.

O crescimento do Mercosul poderá ser fator de estímulo para o ingresso de outros países nesta comunidade, que já examina com o Equador as condições para sua adesão. A unidade regional, que já é física devido à contiguidade territorial, poderá assumir características de uma integração mais avançada, abrangendo tanto aspectos comerciais e econômicos, como sociais, culturais e políticos. Isto propiciará um melhor posicionamento estratégico e geopolítico da região no mundo, o que será benéfico para cada país individualmente e para o conjunto das nações no enfrentamento dos problemas e na defesa de interesses que são comuns a elas.

O Mercosul altivo e motorizando o fortalecimento da América do Sul é a melhor contribuição que o continente pode dar à paz e à igualdade no mundo. Constitui uma resposta eficiente à prolongada crise do capitalismo mundial, protegendo as conquistas sociais e econômicas logradas na última década pelos atuais Governos da região dos avanços da sanha neoliberal que na Europa trata do desmonte do Estado de Bem-Estar social em nome da austeridade fiscal e da proteção dos interesses da especulação financeira.

(*) Exerce a função de Diretor da Secretaria do MERCOSUL em Montevidéu. Este texto expressa opiniões de caráter pessoal que não devem ser consideradas como sendo da Instituição.


Comentário do Senhor C.:

- Dá para entender porque a mídia brasileira, especialmente o quadrado compreendido pela Revista Veja, os jornalões Folha e Estadão e a Rede Globo, fez tanto barulho contra a entrada da Venezuela, alegando questões de terceiríssima ordem como a da suspensão do Paraguai, e seus representantes no Parlamento ameaçaram ir até o STF. É que contraria todos os interesses geopolíticos e econômicos que nos querem deitados eternamente em berço esplêndido, sugando nossas riquezas e condenando nosso povo a fome e a miséria. 

Mulher de Cachoeira ameaçou juiz com dossiê de Policarpo Jr.



Juiz afirma que mulher de Cachoeira tentou chantagem para soltar bicheiro
Magistrado diz que mulher de contraventor teria dossiê com fotos contra ele. Andressa Mendonça presta esclarecimento na manhã desta segunda na PF.

G1

O juiz federal Alderico Rocha Santos afirmou ao G1 nesta segunda-feira (30) ter sido chantageado por Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Santos é responsável pelo processo da Operação Monte Carlo na Justiça Federal, que culminou na prisão do bicheiro em fevereiro.

Segundo o magistrado, Andressa o procurou na quinta-feira (26) afirmando que teria um dossiê contra o magistrado e, em troca da não-publicação, teria pedido um alvará de soltura para Cachoeira.

O juiz diz ter encaminhado ao Ministério Público um papel com nomes escrito por Andressa e imagens de sua entrada e saída no prédio da Justiça Federal.

Andressa prestou esclarecimentos nesta manhã na Polícia Federal em Goiânia e saiu sem falar com a imprensa. A mulher do contraventor terá de pagar fiança de R$ 100 mil e está proibida de visitar o marido, informou a PF.

Segundo o delegado Sandro Paes Sandre, “caso essas medidas não sejam atendidas, Andressa terá a prisão preventiva decretada e ficará presa na PF”.

A suposta conduta de Andressa está prevista no artigo nº 333 do Código Penal, que trata de corrupção ativa, diz a PF em nota.

O G1 tenta contato por telefone com Andressa Mendonça e seus advogados, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.



Dossiê


Conforme relatou o juiz ao G1, na versão de Andressa, o dossiê teria sido produzido a pedido de Cachoeira pelo jornalista Policarpo Júnior, repórter da sucursal da revista "Veja", em Brasília.

Procurada, a direção da "Veja" afirmou que seu departamento jurídico "está tomando providências para processar o autor da calúnia que tenta envolver de maneira criminosa a revista e seu jornalista com uma acusa ção absurda, falsa e agressivamente contrária aos nossos padrões éticos".

Ainda segundo Santos, Andressa teria pedido para falar com ele mesmo sem a presença do seu advogado. Como ela insistiu em ser atendida, o juiz diz que concordou em recebê-la e chamou uma de suas assessoras para acompanhar a reunião.

Depois de cerca de 20 minutos, diz ainda o magistrado, Andressa teria dito para que a assistente fosse retirada sala. Depois de mais 25 minutos, teria insistido. “Ela disse: ‘Quero falar com o senhor a respeito das minhas visitas ao Carlos e vou falar de questões pessoais. Não queria que questões da minha intimidade fossem reportadas a terceiros’. Então concordei com a saída da minha assessora”, relatou.
Conforme o juiz, Andressa teria dito: "Doutor, tenho algo muito bom para o senhor. O senhor conhece o Policarpo Júnior? O Carlos contratou o Policarpo para fazer um dossiê contra o senhor. Se o senhor soltar o Carlos, não vamos soltar o dossiê".
O juiz diz também que respondeu que não tinha nada a temer, quando teria ouvido de Andressa: "O senhor tem certeza?".
A mulher de Cachoeira, conforme o relato do juiz, teria então escrito o nome de três pessoas em um pedaço de papel e perguntado se ele os conhecia: o ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), que teve o mandato cassado em setembro de 2009 por suspeita de abuso de poder político nas eleições de 2006; um fazendeiro da região do Tocantins e Pará, conhecido como Maranhense; e Luiz, que seria um amigo de infância do juiz e supostamente responderia a processo por trabalho escravo.

De acordo com o juiz, Andressa teria dito que o jornalista teria fotos do magistrado com essas três pessoas.

“Não tenho nada a temer. Eu não vejo Marcelo Miranda há mais de quatro anos. O Maranhense, ou quem imagino que possa ser o Maranhense, também não vejo há bastante tempo. Já o Luiz é meu amigo de infância. As terras da família dele fazem divisa com as do meu pai, no Maranhão, há mais de 50 anos”, disse Santos.

O magistrado afirmou ter voltado a dizer a Andressa não ter nada a temer, momento em que ela teria se retirado de sua sala. “Quando ela saiu, guardei o papel onde ela escreveu os três nomes, solicitei as imagens que mostram a sua entrada e saída do prédio da Justiça Federal e encaminhei um documento ao Ministério Público relatando o fato."

"Eles entenderam que a ação dela se caracteriza crime e que ela deve pagar uma fiança de R$ 100 mil sob pena de prisão”, relatou.


Comentário do Senhor C.:

- É  como já dizia minha avó: - Cesteiro que tece um cesto...

O retorno dos filósofos comunistas




Empobrecimento, desigualdade e declínio das velhas democracias estão levando pensadores a dialogar com face anti-estatista, radical e libertária do marxismo

Por Santiago Zabala, na Al Jazeera | Tradução: Vila Vudu

Ler Marx e escrever sobre Marx não faz de ninguém comunista, mas a evidência de que tantos importantes filósofos estão reavaliando as ideias de Marx com certeza significa alguma coisa. Depois da crise econômica global que começou no outono [nórdico] de 2008, voltaram a aparecer nas livrarias novas edições de textos de Marx, além de introduções, biografias e novas interpretações do mestre alemão.

Por mais que essa ressurreição [2] tenha sido provocada pelo derretimento financeiro global, para o qual não faltou a empenhada colaboração de governos democráticos na Europa e nos EUA, esse ressurgimento [3] de Marx entre os filósofos não é consequência nem simples nem óbvia, como creem alguns. Afinal, já no início dos anos 1990s, Jacques Derrida [4], importante filósofo francês, previu que o mundo procuraria Marx novamente. A previsão certeira apareceu na resposta que Derrida escreveu a uma autoproclamada “vitória neoliberal” e ao “fim da história” inventados por Francis Fukuyama.

Contra as previsões de Fukuyama, o movimento Occupy e a Primavera Árabe demonstraram que a história já caminha por novos tempos e vias, indiferente aos paradigmas econômicos e geopolíticos sob os quais vivemos. Vários importantes pensadores comunistas (Judith Balso, Bruno Bosteels, Susan Buck-Mors, Jodi Dean, Terry Eagleton, Jean-Luc Nancy, Jacques Rancière, dentre outros), dos quais Slavoj Zizek é o que mais aparece, já operam para ver e mostrar como esses novos tempos são descritos em termos comunistas, quer dizer, como alternativa radical.

O movimento acontece não só em conferências de repercussão planetária em Londres [5], Paris [6], Berlin [7] e New York [8] (com participação de milhares de professores, alunos e ativistas) mas também na edição de livros que se convertem em best-sellers globais como Império [9] de Toni Negri e Michael Hardt, A Hipótese Comunista [10] de Alain Badiou e Ecce Comu [11] de Gianni Vattimo, dentre outros. Embora nem todos esses filósofos apresentem-se como comunistas – não, com certeza, como o mesmo tipo de comunista –, a evidência de que o pensamento comunista está no centro de seu trabalho intelectual autoriza a perguntar por que há hoje tantos filósofos comunistas tão ativos.

A ressurgência do marxismo

Evidentemente, nessas conferências e nesses livros, o comunismo não é proposto como programa para partidos políticos, para que reproduzam regimes historicamente superados; é proposto como resposta existencial à atual catástrofe neoliberal global.

A correlação entre existência e filosofia é constitutiva, não só da maioria das tradições filosóficas, mas também das tradições políticas, no que tenham a ver com a responsabilidade sobre o bem-estar existencial dos seres humanos. Afinal, a política não é apenas instrumento posto a serviço da vida burocrática diária dos governos. Mais importante do que isso, a política existe para oferecer guia confiável rumo a uma existência mais plena. Mas quando essa e outras obrigações da política deixam de ser cumpridas pelos políticos profissionais, os filósofos tendem a tornar-se mais existenciais, vale dizer, tendem a questionar a realidade e a propor alternativas.

Foi o que aconteceu no início do século 20, quando Oswald Spengler, Karl Popper e outros filósofos começaram a chamar a atenção para os perigos da racionalização cega de todos os campos da atividade humana e de uma industrialização sem limites em todo o planeta. Mas a política, em vez de resistir à industrialização do homem e da vida humana, limitou-se a seguir uma mesma lógica industrial. As consequências foram devastadoras, como todos já sabemos.

Hoje, as coisas não são essencialmente diferentes, se se consideram os efeitos igualmente calamitosos do neoliberalismo. Apesar do discurso triunfalista do neoliberalismo, a crise das finanças globais neoliberais do início do século 21 serviu para mostrar que nunca as diferenças de bem-estar material foram maiores ou mais claras que hoje: 25 milhões de pessoas passam a viver, a cada ano, em favelas urbanas; e a devastação dos recursos naturais do planeta já provoca efeitos assustadores em todo o mundo, tão devastadores que, em alguns casos, já não há remédio possível.

Por isso tudo, relatório recente do ministério da Defesa da Grã-Bretanha [12] previa, além de uma ressurgência de “ideologias anticapitalistas, possivelmente associadas movimentos religiosos, anarquistas ou nihilistas, também movimentos associados ao populismo; além do renascimento do marxismo”. Essa ressurgência do marxismo é consequência direta da aniquilação das condições de existência humana resultantes do capitalismo neoliberal como o conhecemos.

O que é “comunismo”?

Por mais que a palavra “comunista” tenha adquirido inumeráveis significados distintos, ao longo da história, na opinião pública atual ela significa uma relíquia do passado e é associada a um sistema político cujos componentes culturais, sociais e econômicos são todos controlados pelo estado.

Por mais que talvez seja o caso na China, Vietnã ou Coreia do Norte, para a maioria dos filósofos e pensadores contemporâneos esse significado é insuficiente, está superado, é efeito de propaganda maciça e, sobretudo, é diariamente desmentido pela evidência de que o mundo não estaria vivendo uma “ressurgência” do marxismo, se o comunismo marxista fosse apenas isso.

Como diz Zizek, o comunismo de estado não funcionou, não por fracasso do comunismo, mas por causa do fracasso das políticas antiestatizantes: porque não se conseguiu quebrar as limitações que o estado impôs ao comunismo, porque não se substituíram as formas de organização do estado por forma ‘diretas’ não representativas de auto-organização social.”

O comunismo, como ideário antiestatizante das oportunidades realmente iguais para todos, é hoje a melhor hipótese, ideia e guia para os movimentos políticos libertários antipoder, como os que nasceram dos protestos em Seattle (1999), Cochabamba (2000) e Barcelona (2011).

Por mais que esses movimentos lutem em nome de causas e valores específicos e diferentes entre si (contra a globalização econômica desigualitária, contra a privatização da água, contra políticas financeiras danosas), todos lutam contra o mesmo adversário: o sistema de distribuição não igualitária da propriedade, em democracias organizadas pelos princípios impositivos do capitalismo.

Como o demonstram a pobreza sempre crescente e o inchaço das favelas, este modelo deixou para trás todos os que não foram “bem-sucedidos” segundo suas regras, produzindo novos comunistas.

Comunismo e democracia

Em resumo, enquanto Negri e Hardt [13] buscam no “comum” (quer dizer, nos modos pelos quais a propriedade pública imaterial pode ser propriedade dos muitos), e Badiou busca nas insurreições (em ações como a da Comuna de Paris) [14], a possibilidade de se alcançarem “formas de auto-organização” não estatais, quer dizer, a possibilidade de formas comunistas, Vattimo (e eu) [15] sugerimos que todos examinemos os novos líderes democraticamente eleitos na Venezuela, Bolívia e outros países latino-americanos.[16]

Se esses líderes conseguiram chegar ao governo e começar a construir políticas comunistas sem insurreições violentas, não foi por terem chegado ao mundo político armados por fortes conteúdos teóricos ou programáticos; mas por suas fraquezas.

Diferente da agenda pregada pelo “socialismo científico”, o comunismo “fraco” (também chamado “hermenêutico” [17]) abraçou não só a causa ecológica [18] do de-crescimento, mas também a causa da decentralização do sistema burocrático estatal, de modo a permitir que se constituam conselhos independentes locais, que estimulam o envolvimento das comunidades.

Que ninguém se surpreenda se muitos outros filósofos, atraídos para o comunismo pelas ações e políticas de destruição da vida do neoliberalismo, também vislumbrarem a alternativa [19] que se constrói na América Latina. Especialmente, porque as nações latino-americanas demonstraram que os comunistas podem ter acesso ao poder também pelas vias formais da democracia.



* Santiago Zabala é pesquisador e professor de filosofia da Institució Catalana de Recerca i Estudis Avançats, ICREA[1], da Universidade de Barcelona. É autor, dentre outros trabalhos, de The Hermeneutic Nature of Analytic Philosophy (2008), The Remains of Being (2009), e, mais recentemente, com G. Vattimo, Hermeneutic Communism (2011), todos publicados pela Columbia University Press.

[1] http://www.icrea.cat/Web/Links.aspx
[2] http://50.56.48.50/article/new-communism-resurrecting-utopian-delusion
[3] http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2009/oct/08/communism-university-workplace-occupations?INTCMP=ILCNETTXT3487
[4] www. routledge. com/ books/ details/ 9780415389570/
[5] http://www.guardian.co.uk/uk/2009/mar/12/philosophy
[6] http://marxau21.blogspot.com.es/2009/12/puissances-du-communisme.html
[7] http://www.volksbuehne-berlin.de/praxis/en/idee_des_kommunismus__philosophie_und_kunst/?id_datum=2533
[8] http://www.versobooks.com/blogs/706
[9] Império, 2005, Rio de Janeiro: Ed. Record, 501 p.
[10] A hipótese comunista, 2012, São Paulo: Boitempo Editorial, 152 p.
[11] http://www.fazieditore.it/Libro.aspx?id=572
[12] http://thenewalexandrialibrary.com/trends.html
[13] http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/feb/03/communism-capitalism-socialism-property
[14] http://www.lacan.com/baddiscipline.html
[15] http://www.cup.columbia.edu/book/978-0-231-15802-2/hermeneutic-communism
[16] http://southoftheborderdoc.com/
[17] Hermenêutico: adj. Relativo à interpretação dos textos, do sentido das palavras. (…) 3) Rubrica: semiologia. Teoria, ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico. Obs.: cf. semiologia 4) Rubrica: termo jurídico. Conjunto de regras e princípios us. na interpretação do texto legal (…). Etimologia: gr. herméneutikê (sc. tékhné) ‘arte de interpretar’ < herméneutikós,ê,ón ’relativo a interpretação, próprio para fazer compreender’ [NTs, com verbete do Dicionário Houaiss, emhttp://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=hermen%EAutica&cod=101764]
[18] http://therightsofnature.org/bolivia-experience/
[19] http://www.thenation.com/article/muscling-latin-america


sábado, 28 de julho de 2012

Imagens do dia: Réu








Imagens do dia


Sarah Menezes faz história

Bruno Santos/Terra
Franck Fife/France Presse

Bye, bye, McDonald's! Pena que é na Bolívia

Titio Ronny se vai!
 Via Rebelión

Adital

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

Depois de 14 anos de presença no país sul-americano, e apesar de ter tentado todas as campanhas imagináveis, a rede gringa se viu obrigada a fechar as oito lancherias que mantinha abertas nas três principais cidades do país: La Paz, Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra.

Trata-se do segundo país latino-americano – Cuba é o primeiro – que não terá McDonalds, e o primeiro do mundo onde a empresa fecha por ter seus números no vermelho durante mais de uma década.

O impacto para os publicitários e diretores de marketing, que não conseguiram superar sua frustração, foi de tal força que gravaram um documentário intitulado “Por que o McDonald`s da Bolívia quebrou”, onde tentam de algum modo explicar as razões que levaram os bolivianos a continuar preferindo as deliciosas empanadas aos frios hamburguers.

Rechaço cultural

O documentário inclui entrevistas com cozinheiros, sociólogos, nutricionistas, educadores, historiadores e outros, onde há um consenso geral: o rechaço não é aos hamburguers ou ao seu gosto, e sim está na mentalidade dos bolivianos. Tudo indica que o conceito de “fast-food” é, literalmente, a antítese da concepção que um boliviano tem de como deve ser preparada a comida.

Na Bolívia, ainda se conserva o conceito da cultura gastronômica tradicional, onde o rito da refeição começa desde decidir o que se vai comer, ir ao mercado comprar os ingredientes, conviver enquanto se preparam os alimentos, a forma com que eles se apresentam e a maneira com que são servidos. A comida, para ser boa, requer, além de sabor, esmero e higiene, e ponto de cozimento, que adquire depois de muito tempo de preparação. É assim que um consumidor avalia a qualidade do que leva ao estômago.

A primeira quebra de McDonald´s no mundo representou um trauma para os ianques, e significa um golpe ao capitalismo mercantilista comercial. A comida rápida “não é para essa gente”, concluíram os franceses. Tremei, Coca-Cola!

Coca-Cola fora da Bolívia a partir do próximo dia 21 de dezembro

Numa decisão de contornos eminentemente midiáticos, mas não por isso menos admirável, a Coca-Cola será expulsa da Bolívia no próximo dia 21 de dezembro de 2012. De acordo com o Ministro do Exterior da Bolívia, David Choquehuanca, essa determinação estará em sintonia com o “final” do calendário maia, e será parte das comemorações para celebrar o fim do capitalismo e o começo da “cultura da vida”. A festa será realizada no final do solstício de verão (no hemisfério sul) na Ilha do Sol, situada no lago Titicaca.

“Em 21 de dezembro de 2012 haverá o fim do egoísmo, das divisões. O dia 21 dezembro tem que representar o final da Coca-Cola e o início do mocochinche (refresco de pêssego)”, disse Choquehuanca, em um ato juntamente com o mandatário Evo Morales. “Os planetas se alinham depois de 26 mil anos [...] é o fim do capitalismo e o começo do comunitarismo”, acrescentou o ministro.

Embora essa medida busque atrair os refletores para um governo boliviano que tem recebido muitas críticas de diversas trincheiras, é certo que, simbolicamente, é um ato interessante, que na prática poderá se traduzir num estímulo para melhorar as condições de saúde dos habitantes do país.

Lembremos que a Coca-Cola, assim com a maioria dos refrigerantes industriais, contém diversas substâncias que se provou serem prejudiciais ao corpo, e cujo consumo continuado é associado inclusive a infartos e derrames cerebrais.



Serra inveja Haddad na educação




Num samba canção de 1955 o compositor Ataulfo Alves, diante da maledicência dos que se sentiam incomodados com seu sucesso nas rodas de samba, desabafou dizendo que a maldade alheia era também uma arte, porém de natureza perversa.

O mote do samba “pois é, falaram tanto” vem à mente quando se considera a campanha que se faz nas redes sociais para ligar o nome de Fernando Haddad às greves nas universidades federais.

Por detrás dela estão os partidários de Serra, temerosos de que a obra do aluno dedicado que se fez ministro da educação ofusque a trajetória do professor que a frente de importantes postos de governo ignorou por completo a educação.

Como aos detratores do sambista, incomoda os partidários do rival tucano José Serra que o jovem candidato seja identificado com a mudança de perfil dos estudantes das universidades brasileiras por meio do Pró-Uni e que a sua gestão tenha multiplicado escolas ali onde não existia até ontem senão uma olaria ou um engenho.

A marca de promotor da democratização do ensino superior, carregada por Haddad, é tão mais perturbadora aos detratores porque aparece nas eleições à prefeitura de São Paulo contraposta à de alguém que construiu sua imagem pública em torno da figura de professor sem que tenha dado ensejo a qualquer iniciativa de importância no âmbito da educação.

Ostensivamente contrário à universalização do ensino superior, Serra não mediu esforços, como governador do Estado de São Paulo, para que as grandes universidades públicas trilhassem o rumo da privatização. Como havia feito nas Universidades federais quando ministro do planejamento de Fernando Henrique Cardoso, Serra asfixiou as universidades paulistas com cortes de verbas para desarticulá-las como instituições públicas.

Confrontado com greves valeu-se da cavalaria e da tropa de choque contra estudantes e professores em substituição ao diálogo necessário às instituições do saber. Para os liberais de mercado, dentre o quais Serra é um expoente, a educação é um negócio como qualquer outro e a resistência para que prevaleça sobre ela o comando do capital deve ser vencida pela força.

Que haja greves nas universidades federais é fato que se coaduna com as pressões emergentes de um País confrontado com demandas enormes para que continue a desenvolver-se. As greves de hoje decorrem não de proposital estrangulamento orçamentário como no passado, mas do vigoroso crescimento da demanda por inversões na esteira do crescimento exponencial do número de vagas e da infraestrutura montada para suportá-las.

Haddad está sendo acusado por seus acertos pela mesma gente que no passado viu no bom samba de Ataulfo motivos para desacreditá-lo, sem que pudessem causar com a arte efêmera da maldade qualquer prejuízo ao significado perene da sua obra.

by Brasil que Vai!



Comentário do Senhor C.:

- Serra tem inveja de Haddad, de LULA, de Dilma, e de todos aqueles que, diferentemente dele, venceram nos propósitos de implantar alguma coisa que valha a pena ser lembrada. Aos 70 e poucos anos, o Zé da Moóca não tem nada que possa passar a posteridade do imaginário popular e da história nacional. Exceto o fato de ser protagonista da história política brasileira há quase 60 anos, Zé Chirico Serra não deixa legado, não tem políticas públicas próprias, não contribuiu com sequer uma frase que valha a pena ser lembrada. Deixa, ao contrário episódios reprováveis aos olhos de qualquer pessoa decente: a farsa da bolinha de papel, as mentiras, a manipulação informativa, o apego ao poder, a arrogância, o autoritarismo e, principalmente, a derrocada dos valores republicanos em todas as pastas e governos que ocupou. Só pode mesmo ter inveja de quem construiu políticas públicas inclusivas e universalistas e, deste modo, escreveu o nome no panteão da memória da deusa História.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Até FHC recebeu do Valerioduto





Carta acusa Gilmar de receber do valerioduto
Brasil 247


NOME DO MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, QUE ESTÁ PRESTES A JULGAR O CASO DO MENSALÃO, CONSTA DA LISTA DE BENEFICIÁRIOS PUBLICADA PELA REVISTA; ELE TERIA RECEBIDO R$ 185 MIL DA CAMPANHA DE EDUARDO AZEREDO EM 1998


A reportagem principal da revista CartaCapital desta semana, que foi às bancas nesta sexta-feira, coloca Gilmar Mendes, membro da mais alta corte do País, em suspeição. Numa lista divulgada pela publicação com os nomes dos beneficiários do caixa 2 da campanha da reeleição de Eduardo Azeredo para o governo de Minas Gerais em 1998, esquema operado pelo publicitário Marcos Valério, consta o do ministro do STF, além de grandes empresas, governadores, deputados, senadores, prefeitos e até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


Segundo a reportagem, "há um abismo entre a contabilidade oficial e a paralela". Azeredo declarou à época ter gasto R$ 8 milhões na campanha. Mas na documentação assinada a registrada em cartório, o valor chega a R$ 104,3 milhões. Desse dinheiro, R$ 185 mil teria ido parar nas mãos de Gilmar Mendes. Um pacote com os documentos de quase 30 páginas, que contam com a lista em ordem alfabética e os comprovantes bancários, foi entregue na última quinta-feira à Polícia Federal de Minas Gerais, à delegada Josélia Braga da Cruz.


Os pagamentos foram feitos pela empresa SMP&B Comunicação, de Marcos Valério, por meio do Banco de Crédito Nacional e do Banco Rural, cujos diretores são réus do mensalão, processo que começa a ser julgado no próximo dia 2 no STF, inclusive por Gilmar Mendes. O repasse de R$ 4,5 milhões a Azeredo, "com autorização" dos coordenadores financeiros da campanha – Cláudio Roberto Mourão e Walfrido dos Mares Guia – teve como origem o Banco do Estado de Minas Gerais, o Banco Rural, as estatais Comig (atual Codemig) e Copasa, a Loteria Mineira e as construtoras Andrade Gutierrez e ARG, de acordo com o documento.


CartaCapital joga bomba atômica no colo de Gilmar Mentes







Corram para as bancas e comprem porque a revista não vai abrir o conteúdo online antes de segunda ou terça.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

PSDB: O Estado-anunciante e a liberdade suja

A ditadura do silêncio pretendida pelos tucanos
é o mesmo que a democracia do pensamento único
A representação do PSDB ao Procurador Geral Eleitoral contra blogs que criticam suas lideranças e agenda partidária, é um pastel revelador. O recheio exala as prendas do quituteiro; a oleosidade da fritura qualifica o estado geral da cozinha. Na primeira mordida fica explícito que a referência de 'bom' jornalismo do PSDB é a revista VEJA, uma ferradura editorial adestrada para escoicear três dimensões da sociedade: agendas progressistas; lideranças que as representem; governos que lhes sejam receptivos.

Curto e grosso, o poder tucano pleiteia a asfixia publicitária - com supressão de publicidade estatal -de qualquer outra forma de imprensa que não se encaixe no tripé que o espelha. A singular concepção de pluralidade afronta boa parte dos sites e blogs alternativos que se reservam o direito de exercer a crítica política da sociedade e do desenvolvimento de uma perspectiva não conservadora. 'São blogs sujos', fuzila a representação tucana, cuja coerência não pode ser subestimada. Há esférica sintonia entre a forma como o PSDB se exprime e o higienismo de uma prática que São Paulo, a 'cidade limpa', tão bem conhece.

O tema da publicidade estatal mereceria um discernimento mais amplo do que o reducionismo estreito do interesse eleitoral tucano. O Estado deve se comunicar com a sociedade. A comunicação deve se pautar pelo interesse público. Campanhas educativas e institucionais não podem ser confundidas com propaganda partidária, nem servir aos seus interesses, sejam eles quais forem. Dito isso, resta o ponto sensível ao PSDB: quem merece veicular tais mensagens de pertinência pública reconhecida?

O tucanato e certos 'especialistas em comunicação' parecem convergir, ainda que por caminhos diversos, a um consenso: a mídia alternativa deve ser alijada dessa tarefa. O 'Estado anunciante', uma corruptela do cacoete neoliberal 'Estado interventor', teria atingido, asseguram, uma hipertrofia perigosa; deslizamos a centímetros do abismo anti-democrático. No país que tem um dispositivo com o poder intromissor da Rede Globo, insinua-se que a principal ameaça à democracia é o Estado impor seu 'monólogo' à sociedade. Afirma-se isso com ares de equidistância acadêmica e engajamento liberal,.

Passemos.

Evitar essa derrocada exigiria um veto cabal a toda e qualquer publicidade oriunda da esfera pública? Em termos. Na verdade, não seria exatamente essa essa a malha do coador tucano. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo esclarecedor no 'Estadão', de 3 de junho último, foi ao ponto: “Será que é democrático", disse ele, "deixar que os governos abusem nas verbas publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas vezes, são quase monopólicos? (...) O efeito deletério desse tipo de propaganda disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nesta há sempre a concorrência de mercado que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor. Mas nas mídias locais e regionais o pensamento único impera sem contraponto.”

É isso. O grão tucano adiciona nuances na investida contra o Estado anunciante. Nas páginas de 'Veja', e sucedâneos, não haveria risco de influencia editorial. Ali a 'voz do consumidor e a concorrência' preservam a 'isenção do jornalismo'. "Mas nas mídias locais e regionais...' Quais? Sobretudo aquelas que incomodam ao engenho e à arte tucana de governar e fazer política.

'Especialistas em comunicação' com passagem pelo governo Lula - experiência descrita sempre como 'traumática, mas de uso conveniente nos salões conservadores - reivindicam, é bem verdade, uma intolerância mais abrangente contra o 'Estado-anunciante'. No limite, advertem, o uso da máquina publicitária instrumentalizaria um poder de coerção de tal forma desproporcional que ameaçaria a própria alternância no poder. A evocação colegial de um ambiente quase-nazista sob o terceiro Reich petista tem, como se sabe, audiência cativa em certos veículos e tertúlias filosóficas de endinheirados. Mas o libelo anti-totalitário tropeça nos seus próprios termos ao não adotar idêntica ênfase na denúncia de uma oligárquica estrutura de propriedade do sistema de comunicação que, esta sim, instituiu um verdadeiro diretório paralelo no país, arvorado em corregedor das urnas, da economia e da ética.

A hipocrisia que perpassa esse descuido pertence a mesma matriz ideológica que inspirou agora a representação tucana contra os 'blogs sujos'. Contra ela Brecht resolveu cunhar um dia a metáfora de hígida atualidade: 'O que é assaltar um banco, em comparação com fundar um banco?' Leia neste endereço, a íntegra da sugestiva representação do PSDB que pede, especificamente, a investigação dos blogs de Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim.

Postado por Saul Leblon



A BLOGOFOBIA DE CERRA

Um candidato de direita, apoiado pelos setores mais reacionários, homofóbicos, racistas e conservadores da sociedade brasileira a chamar seus opositores de nazistas. Antes fosse só uma piada de mau gosto.






Saiu na Carta Capital:


A blogosfera e as redes sociais são o calcanhar de Aquiles de José Serra, e não é de agora. Na campanha eleitoral de 2010, o tucano experimentou, pela primeira vez, o gosto amargo da quebra da hegemonia da mídia que o apóia – toda a velha mídia, incluindo os jornalões, as Organizações Globo e afins. O marco zero desse processo foi a desconstrução imediata, online, da farsa da bolinha de papel na careca do tucano, naquele mesmo ano, talvez a ação mais vexatória da relação imprensa/política desde a edição do debate Collor x Lula, em 1989, pela TV Globo. Aliás, não houvesse a internet, o que restaria do episódio do “atentado” ao candidato tucano seria a versão risível e jornalisticamente degradante do ataque do rolo de fita crepe montado às pressas pelo Jornal Nacional, à custa da inesquecível performance do perito Ricardo Molina.

A repercussão desse desmonte midiático na rede mundial de computadores acendeu o sinal amarelo nas campanhas de marketing do PSDB, mas não o suficiente para se bolar uma solução competente nas hostes tucanas. Desmascarado em 2010, Serra reagiu mal, chamou os blogueiros que lhe faziam oposição de “sujos”, o que, como tudo o mais na internet, virou motivo de piada e gerou um efeito reverso. Ser “sujo” passou a ser um mérito na blogosfera em contraposição aos blogueiros “limpinhos” instalados nos conglomerados de mídia, a replicar como papagaios o discurso e as diatribes dos patrões, todos, aliás, alinhados à campanha de Serra.

Ainda em 2010, Serra tentou montar uma tropa de trolls na internet comandada pelo tucano Eduardo Graeff, ex-secretário-geral do governo Fernando Henrique Cardoso. Este exército de brucutus, organizado de forma primária na rede, foi facilmente desarticulado, primeiro, por uma reportagem de CartaCapital, depois, por uma investigação do Tijolaço.com, blog noticioso, atualmente desativado, do ministro Brizola Neto, do Trabalho.

Desde então, a única estratégia possível para José Serra foi a de desqualificar a atuação da blogosfera a partir da acusação, iniciada por alguns acólitos ainda mantidos por ele nas redações, de que os blogueiros “sujos” são financiados pelo governo do PT para injuriá-lo. Tenta, assim, generalizar para todo o movimento de blogs uma realidade de poucos, pouquíssimos blogueiros que conseguiram montar um esquema comercial minimamente viável e, é preciso que se diga, absolutamente legítimo.

Nos encontros nacionais e regionais de blogueiros dos quais participo, há pelo menos três anos, costumo dar boas risadas com a rapaziada da blogosfera que enfrenta sozinha coronéis da política e o Poder Judiciário sobre essa acusação de financiamento estatal. Como 99% dos chamados blogueiros progressistas (de esquerda, os “sujos”) se bancam pelo próprio bolso, e com muita dificuldade, essa discussão soa não somente surreal, mas intelectualmente desonesta. Isso porque nada é mais financiado por propaganda governamental e estatal do que a velha mídia nacional, esta mesma que perfila incondicionalmente com Serra e para ele produz, não raramente, óbvias reportagens manipuladas. Sem a propaganda oficial do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, todos esses gigantes que se unem para defender a liberdade de imprensa e expressão nos convescotes do Instituto Millenium estariam mendigando patrocínio de açougues e padarias de bairro para sobreviver.

Como nunca conseguiu quebrar a espinha dorsal da blogosfera e é um fiasco quando atua nas redes sociais, a turma de Serra tenta emplacar, agora, a pecha de “nazista” naqueles que antes chamou de “sujo”. É uma estratégia tão primária que às vezes duvido que tenha sido bolada por adultos.

Um candidato de direita, apoiado pelos setores mais reacionários, homofóbicos, racistas e conservadores da sociedade brasileira a chamar seus opositores de nazistas. Antes fosse só uma piada de mau gosto.

Leandro Fortes.



terça-feira, 24 de julho de 2012

Exame de Ordem: terapêutica medicamentosa ou placebo mercadológico?

Em tempos de exames de ordem, e tentativas experimentais de implantar uma avaliação de egressos por Conselhos Regionais de Medicina como o de São Paulo, o Lírio Verde foi em busca de outras opiniões e acho este texto reproduzido abaixo.
Exame ou reserva de mercado?


by Giovanni Gurgel Aciole

(21/07/2005)


Avizinha-se como preocupação dos futuros médicos uma questão crucial: sua obrigação de prestar após a conclusão do curso de Medicina, um exame de habilitação; como condição para o exercício profissional! 

Há, com este intuito, dois projetos de lei apresentados ao Congresso Nacional, um na Câmara outro no Senado. E de prático, a iniciativa do Conselho Regional de Medicina de São Paulo em realizar em outubro próximo uma espécie de teste de habilitação, aplicando o exame em caráter experimental e voluntário a todos os concluintes do curso de Medicina do estado neste ano.

Alega o defensor da proposta na Câmara, que o notório aumento do número de faculdades de medicina no país veio acompanhada de uma preocupação, qual seja a queda da qualidade dos profissionais egressos desses cursos. Preocupação fundada, pois o exercício da profissão de médico trata diretamente com vidas humanas, uma falha médica pode significar a morte, a invalidez ou o sofrimento permanente do paciente. Um evidente sintoma desta questão, para o deputado, seria o aumento do número de processos sobre erros médicos nos conselhos regionais.

O senador, por seu turno, levanta argumentos em torno da inquietação (admitida, segundo ele, por todos os especialistas da área) de que as sérias deficiências do ensino médico brasileiro estão lançando na vida profissional, ano após ano, um contingente de médicos mal preparados. E vai adiante: trata-se de diagnóstico que remonta a 1991, quando tiveram início as atividades da Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (CINAEM). Referindo-se aos estudos daquela comissão, informa que um percentual considerável das escolas médicas em funcionamento no País apresenta um desempenho medíocre em relação a aspectos de estrutura político-administrativa e econômica, de infra-estrutura e de recursos humanos. 

A atividade docente é realizada, predominantemente, por professores auxiliares e assistentes, com menos de dez anos de exercício profissional, em tempo parcial, insatisfeitos com a infra-estrutura da instituição e com os salários que lhe são pagos. De um modo geral, esses profissionais são pouco preparados para o ensino, para a pesquisa e para o exercício de atividades administrativas. Mesmo quando são médicos competentes e conceituados, não possuem, na grande maioria das vezes, a necessária capacitação didática.

Não fosse já suficiente a menção aos trabalhos da referida Comissão, o augusto senador ainda se vale da revista Veja, que em sua edição de 16 de junho de 2004, trouxera sob o título Medicina de alto risco, as principais conclusões de um estudo realizado pela Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), nos seguintes termos: 73% de nossos médicos reconhecem que já receitaram medicamentos sem lhes conhecer a exata composição; 71% não se lembram de informar seus pacientes sobre as possíveis reações adversas provenientes da combinação de medicamentos; 72% alegam cumprir dupla jornada de trabalho e justificam assim a precariedade de sua formação acadêmica; 62,5% admitem não participarem de congressos médicos e, por fim, 40% deles declaram que não lêem publicações médicas ou científicas. Seriam dados que falam por si.

Na prática, continua o senador, o que se observa é que boa parte de nossos formandos demonstra deficiência em aspectos elementares do conhecimento aplicado e até mesmo em habilidades médicas, como também não tem o domínio dos princípios básicos do manejo de pacientes e nem os valoriza. Há que se ressaltar, diz-nos o parlamentar, que escolas públicas e privadas vivem atualmente as mesmas agruras, pois foram concedidas autorizações de funcionamento para inúmeras escolas médicas particulares sem critérios rígidos e bem definidos e, o mais grave, sem a devida fiscalização. 

Vale a pena salientar que, a despeito de toda lógica, a pletora de novas escolas e de novos médicos que elas lançam no mercado - mais de oito mil por ano - atua justamente nas regiões em que o número de escolas e médicos já é bastante suficiente, ou seja, nem sequer o critério de utilidade social foi observado no sentido de aplacar as cruéis discrepâncias regionais no atendimento médico. 

Ademais, verifica-se o descompasso das escolas brasileiras de Medicina no processo de incorporação racional da tecnologia disponível, tanto em relação às novas tecnologias como também em relação a procedimentos diagnósticos e terapêuticos tradicionais e de baixo custo, o que é mais preocupante. Encontram-se, portanto, despreparados para a solução de problemas correntes e comuns de saúde de nossa população.

Diante do exposto, conclui o senador, fica evidente que nossas escolas médicas, com raras e boas exceções, não estão formando médicos, mas apenas diplomando-os e, ao fazer isso, agem de maneira irresponsável, porque formam profissionais despreparados, incapazes de lidar com os problemas de saúde mais simples de nossa população. O objetivo de sua proposição, portanto, é o de instituir - a exemplo do que é feito em outros países e, no Brasil, com nossos recém-formados advogados - um filtro entre a diplomação e a prática profissional como forma de impedir que médicos mal formados exerçam a Medicina (grifos nossos). Filtro cuja forma será o do Exame Nacional de Proficiência em Medicina: requisito para a inscrição num conselho de Medicina e, conseqüentemente, a prática legal da profissão.

Preocupado com as relações internacionais, tão ao gosto da idéia de globalização em voga, também alega a introdução, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de dispositivo que permitirá aos médicos formados em escolas de outros países terem seus diplomas convalidados por meio de outro expediente que não aquele previsto em nossa atual legislação, qual seja, o da convalidação por uma universidade pública brasileira que tenha curso do mesmo nível. Ainda segundo o parlamentar, o mecanismo da revalidação tem-se mostrado, no mínimo, insuficiente para atender a demanda, tanto de brasileiros como de estrangeiros, formados em escolas de Medicina localizadas em outros países.

A autonomia universitária tem ensejado, aos olhos e ouvidos do senador, tanto a burocratização do processo como a corrupção: ao mesmo tempo em que uma boa parte das universidades mantém procedimentos ágeis e transparentes para conceder ou negar a revalidação de diplomas, existem outras nas quais esse processo e muitíssimo moroso ou mesmo não se dá, sem que existam meios acessíveis aos interessados de intervir ou mesmo de ter informação sobre assunto de seu interesse. A substituição da revalidação do diploma pela aprovação no Exame Nacional de Proficiência propiciará, destarte, em face da nossa atual realidade acadêmica, o aperfeiçoamento dos atuais critérios que balizam as condições mínimas em que se dá o exercício profissional da Medicina no País.

São todos argumentos muito preciosos! Talvez por assim serem, perante os quais só nos podemos colocar com um forte posicionamento crítico. E, para faze-lo de forma imanente vamos fazer a crítica diretamente sobre os argumentos apresentados. 

Podemos agrupa-los, apenas para facilitar o entendimento e não para simplifica-lo, em dois tipos: os de natureza estrutural, que remetem ao diagnóstico da explosão de faculdades médicas, suas deficiências estruturais e funcionais, seus déficits de capacitação docente a que nós somaríamos a crítica de sua irregular distribuição pelo território nacional; os segundos, dizem respeito a características e atributos dos produtos gerados pelo conjunto daquelas instituições, isto é, são médicos mal formados; todos passíveis de cometerem seguidos erros; médicos que não dispõem de competências e habilidades mínimas para o exercício da profissão; médicos que assinam sem ler; médicos que desconhecem farmacologia e outros ensinamentos básicos para o cumprimento de sua missão fundamental, que é cuidar da saúde dos seus pacientes, ou melhor, cuidar da saúde de todos os brasileiros.

A este conjunto de coisas, temos muito mais o que lamentar do que retificar. São diagnósticos legitimados em publicações e relatórios aos quais não cabe praticamente nenhuma ressalva de seus acertos, salvo uma pequena digressão quanto ao caráter generalizador de tais afirmações, e a relativa ênfase na crença de que a racionalidade científica forma produtos numa condição finalística, quando o imperativo para a prática de cuidar da vida humana é estar em contínua educação permanente. Como disse um médico alemão, fundador da homeopatia: - Na arte de cuidar, salvadora da vida, deixar de aprender é crime! Acrescentaríamos que a modernidade acrescentou ao verbo aprender, a condição de permanência: deixar de permanentemente aprender é crime! Se não encontra eco nem sustentação a idéia de que a formação profissional em quaisquer ramos realize-se em condição terminativa, em Medicina, esta necessidade é exponencial!

Aliás, nestes argumentos brandidos em torno dos fantasmas que assolam a precarização da formação médica, nenhuma palavra é dada sobre, o que foi outrora, uma outra solução criada no nosso país: a residência médica. Também ela foi inventada nos anos 70, por assim dizer, como forma de reparar as lacunas de formação que à época já se dizia existir. Foi em nome de um diagnóstico quase igual ao que vem sendo feito, que surgiu a proposta do estágio médico na forma de residência para o aprimoramento e a capacitação do futuro médico naquilo que as escolas já não lhes davam. O que dizer, atualmente, da situação da residência médica em nosso país? Acaso não se transformou num dos caminhos de excelência para a especialização profissional como forma de ingresso qualificado no mercado de trabalho. Porventura, há alguma residência médica neste país que ainda sustente o argumento de estágio de aprimoramento das lacunas da graduação, ou todas, praticamente sem exceção, se estruturam e subsistem enquanto espaço de formação de especialistas?

Nos resta, portanto, adotar uma crítica contundente em relação à solução proposta. Em defesa da integridade da atenção e do zelo pela saúde como direito constitucional, a fim de salvaguardar o bem precioso que é vida humana, dos maus profissionais, ou dos médicos mal preparados, surge a arguta idéia de realizar um exame de habilitação, filtro entre a conclusão do curso médico e o efetivo início do exercício profissional, que nos pouparia a todos dos riscos de encontrar profissionais despreparados para a profissão que escolheram. Com esta singular solução, escamoteiam-se todos os demais problemas estruturais: excesso de escolas médicas, ou melhor, abertura desenfreada de escolas sem quaisquer critérios de qualidade ou racionalidade, despreparo do conjunto de docentes médicos para o exercício do ensino/aprendizagem na medicina etc. Escamoteia-se, inclusive, o fato de que a citada CINAEM esteve muito próxima da mudança na qualidade do ensino médico, desenvolvendo instrumentos de avaliação e, principalmente, de transformação do ensino da Medicina com a participação de um expressivo contingente de Escolas do país, tanto públicas quanto privadas. Pena que foi brutalmente assassinada ao lhe retirarem o apoio político e o adequado respaldo financeiro.

Tudo isso não soa como grande erro de análise da situação real? Será justo e adequado que se lance justamente sobre o médico, isto é, sobre o produto do conjunto de escolas mal preparadas e sem condições mínimas de funcionamento a responsabilidade sobre o que lhe é ensinado ou não, sobre os déficits de sua formação ou não, criando um contingente de reprovados que a realidade do mercado nos ensina que não deixarão de ser médicos? Junto com o seu despreparo certificado pela reprovação no exame de ordem, os reprovados não constituirão um exército de subempregados, uma espécie de ghostworkers, a exemplo do que já acontece com os advogados, digo, bacharéis em direito? Ficarão cotados apenas para os serviços menos nobres, menos valorados, ou de baixo poder aquisitivo para os que lhe contratarão como mão de obra oculta? Por tudo isso, a proposta de exame de habilitação, seja oficial, seja experimental, pode não passar de um grande e equivocado esforço perante a opinião pública! Defenderá mesmo o mercado do profissional incapaz ou mal formado? Ou, pelo contrário, acabará se revelando em mais uma pirotecnia política, que mal disfarça seu natureza alienante e sedutora à força de que pareça de uma simplicidade óbvia.

Seu primeiro e fundamental efeito, contudo, será um só: em consonância com as regras mais comezinhas do capitalismo tupiniquim, criará um ranking entre as escolas médicas! Algumas, por melhores, aprovarão um maior número de alunos, e serão saudadas como padrão de excelência! Outras, por piores, aprovarão um baixo número de alunos, mas não se transformarão nem mudarão, muito menos deixarão de existir!

Temos poucas dúvidas, por outro lado, de que logo acontecerão algumas reações, quer isoladas, quer combinadas, que tornarão ainda mais difícil e complexa a verificação dos efeitos apregoados: por iniciativa das próprias escolas, ou por pressão dos seus alunos, ou ambos, logo se criarão cursinhos preparatórios para o exame de habilitação, que deverão se realizar no último ano do curso; nesta eventualidade de distorce a finalidade precípua do chamado internato. A prova, ou a preparação para um desempenho acima da média, se tornará a meta do final do curso, e nada nos assegura que não contamine toda a sua duração. Não se aprofunda outra vez a perda substancial dos aspectos centrais que devem orientar a formação dos médicos? Fora das próprias escolas também poderemos assistir ao surgimento de cursinhos preparatórios. Tudo isso jogará por terra o possível valor classificatório ou avaliativo emprestado ao exame de habilitação, uma vez que tal estrutura paralela certamente configuraria viés importante a contaminar os resultados, e mais cedo ou mais tarde tenderá a nivelar por baixo a qualidade da formação médica como um todo.

O que vai ocorrer, além disso, é a luta pelo poder que terá, ou terão, os elaboradores do exame. Destes sim, dependerá a capacidade de classificar escolas, a partir de um maior ou menor grau de dificuldade nas questões do exame. E quem serão os notáveis avaliadores? Como serão escolhidos? Devem ser profissionais da mais ilibada reputação e de competência irrepreensível. Qual o fórum ou instância social capaz de apontar tais insígnias? As sociedades de especialidades? Os colegiados conselhais? Ora, são todas partes interessadas nos resultados! E a sociedade civil? Que lugar ocuparia neste processo? Não seria ela a instância que mais deveria ser ouvida? Afinal, quem é o cliente? Nestes tempos de direitos do consumidor e de direitos de cidadania, seria afronta considerar que a sociedade deveria ser o tribunal ético que deve definir qual o profissional que quer ver formado? Ou vai lhe ser cobrada a falta de cientificidade ou condições de faze-lo?

A quem caberá, portanto, a prerrogativa de se proclamar em condições de decidir o que deve ser o conteúdo mínimo pelo qual devem ser avaliados os novos médicos? Sobre quais habilidades e competências mínimas podemos esperar consenso? Quais são as atitudes a serem consideradas como imprescindíveis? Cientificismo e tecnificismo extremado, conhecimento enciclopédico ou um conjunto generalizado de saberes? Quais saberes? O de cuidar? O de realizar procedimentos tecnicamente incontestes? Qual o grau e o peso que devem ter as áreas para uma correta e adequada avaliação? Não cabe, de per si, as escolas fazerem isso? Não já existe um amplo consenso em torno da Lei de Diretrizes e Bases que colocam responsabilidades e compromissos a serem observados? Essas questões não remetem, mais uma vez, à reiteração de que o melhor lugar para as avaliações é a escola ou a faculdade? Ou seja, que lugar de exame é no espaço de formação!

Outro aspecto bastante ligado a esta questão da habilitação, mas igualmente preocupante, diz respeito ao possível surgimento da indústria do exame, em que poderemos ver repetir-se o fenômeno da venda de respostas, configurando-se a exemplo do que ocorre em outros exames igualmente concorridos a prática corruptora da compra e venda de resultados. Quem nos pode garantir que o exame de habilitação dos médicos estará a salvo de tal desvio ético moral? Quem pode deter o surgimento das práticas de tráfico de influências e outras manobras igualmente corruptoras?

Façamos um esforço de pensar sobre a apregoada explosão de escolas médicas. De fato, conforme dados recentemente divulgados pelo INEP, houve o surgimento de 66 novas escolas no período entre 1998 e 2004. Mas quem as autorizou? Não existe um espaço colegiado junto ao MEC que examina e autoriza pedidos de abertura de qualquer escola ou curso universitário? Quem o compõe? Sob que interesses se organiza? Sob que limites legais, regimentais e normativos funciona? Acaso não falta uma enfática decisão política a respeito da política de regulação e funcionamento do aparelho formador no país?

No começo do século passado, nos EUA, havia um número incontrolável de escolas médicas e, muito pior, faltava uma certa padronização e definição do que ensinar, de como ensinar e do que avaliar no médico. O ensino da Medicina tinha um forte caráter empírico! Qual foi a solução adotada, então? O Relatório Flexner. Esta verdadeira ruptura paradigmática orientou toda uma política de administração do ensino da Medicina, com fechamento de várias escolas e adoção de um currículo padronizado, e que veio a influenciar fortemente toda a organização Médica, pelo menos no continente americano. Ora, atualmente estamos numa situação completamente diferente: há explosão de escolas, mas estamos longe de não ter um referencial ético-político para o ensino superior no país. Por que não se discutem os interesses que movem a abertura de novas escolas? Quem as autoriza? Por que o faz? A serviço de que intenções de movimenta a roda de abertura de novas escolas, não só de Medicina? Queremos resolver a questão? Boa parte das soluções, ou da terapêutica, passa por aí!

Enquanto isso, a divisão em castas - as melhores e as piores escolas - orientará a disputa política em torno dos projetos de política pública de atenção à saúde dos brasileiros? É muito provável que com o exame de ordem, sem que se o perceba ou se afirme, se esteja preparando uma outra e cruel segmentação do mercado profissional: aos aprovados no exame (por suposto, os médicos capazes e bem formados) reservar-se-á a primazia legal de operarem no mercado liberal da produção de procedimentos médicos; aos reprovados, suposto produto inferior do ensino médico, caberá ou o subemprego ou a opção por continuarem tentando e, enquanto sobrevivem, estudar mais e mais! Ou de resto, freqüentar algum curso de especialização qualquer - isso se a reprovação no exame não constituir impedimento legal - para que venham a se tornar profissionais da saúde pública!

Consolida-se, assim, um naufrágio iminente: diante do vazio de uma política efetiva de transformação da formação profissional em Medicina; diante da recusa das entidades médicas em dialogar com as iniciativas do Ministério da Educação e da Saúde com relação às políticas de formação e de educação permanente na área da saúde, que dizem respeito aos médicos e também aos demais profissionais de saúde. Defender, pois, o exame de habilitação só se justifica se incorrermos numa postura autofágica que transforma um problema social numa questão interna corporis. No centro de tudo isto só estará se transferido ao médico a responsabilidade por ter sido formado nesta ou naquela Escola de Medicina. Escamoteia-se de uma só penada todo um processo muito mais complexo, mais facetado, e nem por isso apenas insolúvel, sob a égide das soluções fenomênicas que tratam os sintomas sem atingir as causas, que medicam torto transformando o ambiente propício à soluções político-terapêuticas num mercado de placebos: esse supremo pastiche que degrada ainda mais o efeito fetichista atraído pelo narciso deus Asclépios.

Cabe enfim, uma última pergunta: o que vai ser ofertado aos que só tiverem uma opção de Escola no lugar onde vivem? E se esta única opção for uma das escolas que, infelizmente, mereçam ser fechadas? Vai se lhes sugerir que façam Filosofia? Ou Engenharia? Estão candidatos a desistirem de ser médicos no nascedouro? Nem todos, infelizmente, nasceram com o dom do Paulinho da Viola, que fez um samba em que canta a história daquele que, contrariando a vontade paterna, ao invés de doutor foi ser sambista na vida!


 Giovanni Gurgel Aciole é médico, doutor em Saúde Coletiva e foi presidente do Sindimed Campinas (gestão 2002-2006)

Pela extinção da PM

PM: Um exército em guerra com a sociedade?
 Vladimir Safatle

No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.

No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.

Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.

Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia Militar.

Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.

Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.

Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA", "Cotidiano").

Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.

É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força.

São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.



A Volta da Rota 66 (Ou deveria se chamar ROTA 45?)


A morte deplorável do jovem empresário Aquino na madrugada fria de uma quarta feira não teve testemunhas. Nem precisava. O carro cravejado de balas e um filme de câmera de prédio dizem tudo. Aquino foi cercado e fuzilado. Sem chances de dizer quem era. Nove homens armados até os dentes contra um profissional das ideias, um publicitário.


E apenas alguém liberto pelas idéias poderia praticar o gesto ousado de fazer aquilo que está na cabeça de qualquer paulistano: ignorar os agentes homicidas de Estado que fecham com barricadas ruas em São Paulo apenas para fazer crer à população que a cidade não se tornou um pátio de presídio comandado pelo “primeiro comando da capital”, o PCC.

Como as periferias de há muito, agora também os bairros em que se reúnem os jovens em São Paulo estão cercados por gendarmes que intimidam os que frequentam bares e restaurantes.

Ao invés de guardarem os locais onde pulsa a vida paulistana, assediados por arrastões, a polícia coloca-se à espreita nas vias de saída para importunar quem tomou um ou dois copos de cerveja. Numa espécie de volta aos tempos da expressão “documento vagabundo” da época da ditadura, lembrada pelo episódio emblemático da fuzilaria da Rota 66, em que 5 jovens foram sumariamente assassinados por não atenderem a ordem de parada de uma guarnição militar.

Mas por que os cães foram soltos? Por que a volta da política de tolerância zero que encheu de presos, primeiro as delegacias e depois os cadeiões, dando ensejo ao surgimento do PCC? Porque é época de eleições e até agora a polícia está perdendo de 3 a zero o embate com o crime organizado em São Paulo. Pensam que uma política de segurança pública do tipo daquela adotada na cidade de Nova Iorque, poderia constituir-se numa grande oportunidade eleitoral.

Eis o que está por trás do assassinato do publicitário Aquino: a percepção das autoridades de que polícia que atira antes e pergunta depois rende votos. Ignoram, por pendão autoritário, a pregação da “oculta compensatio” que outro Aquino, São Tomás, entendeu devesse regular a ação do Estado frente a cidadania e que inspira hoje em dia, na maioria das democracias ocidentais, o princípio jurídico da bagatela.

Por esse princípio o aparelho repressivo do Estado não deveria ser utilizado para ações de mínima gravidade, em que estariam configuradas a baixa ofensividade, a inexistência de periculosidade social e o ínfimo grau de reprobabilidade da conduta, além de inexpressividade da lesão jurídica provocada.

No caso de Aquino não apenas a ação que se buscou coibir foi banal como também desproporcional foi a reação estatal, expressa pela imposição sumária da pena capital mediante o uso indiscriminado de força letal pela corporação militar contra pessoa considerada suspeita, a simples juizo da soldadesca.

Que o governador venha a público num gesto de contrição afirmar que o Estado irá prontamente indenizar a família não surpreende, mas que o comandante interino da polícia militar diga em entrevista coletiva que o assassinato do homem que não parou numa blitz foi ato tecnicamente perfeito, comparável a um acidente de trabalho, enoja e mostra o quanto nossas vidas estão à mercê de gente despreparada.

Por tudo isso é que Ricardo Prudente de Aquino, 39 anos, deve ser considerado por todos os paulistanos um mártir da liberdade de ir vir, sem render-se a ação repressiva do Estado em qualquer esquina. Enquanto sua morte, em outro passo, bem pode ser tomada por um lembrete do governador e de sua polícia de que o sinal está fechado para os que são jovens, como bradou no tempo da Rota 66 o cantor Belchior.


Comentário do Senhor C.:

- Tudo bem! Declaremos, de antemão, deploráveis todas as mortes. Mas vamos logo tratando também de corrigir algumas injustiças, para não dizer distorções sociais. Por que não se choram em público também as mortes dos anônimos assassinados pela polícia paulista nas ruas da periferia? Em todas elas, o mesmo motivo: resistência à prisão e porte ilegal de armas e drogas. Todos os dias, ou melhor, todas as noites, dezenas de mães aflitas sabem que podem ser surpreendidas com a má notícia: - Boa noite, senhora, seu filho esbarrou numa patrulha, e por ter comportamento suspeito é mais um boi abatido a tiros.
Por fim, não sei se é a volta da Rota 66, pois só volta o que teria ido. No caso, a Rota nunca foi embora. Quando muito, poderia ter seu nome mudado para ROTA 45!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Obrigação de assistir a Globo



Levei meus dois filhos pequenos para um passeio cultural: atravessar o Guaíba, de catamarã, uma vez que o caçula comentou que nunca havia andado de barco. Minha alegria foi por água abaixo quando embarcamos e nos deparamos com quatro telas imensas exibindo a programação da Globo, em volume alto. Era o Vídeo Show, e estavam a comentar sobre as brigas e baixarias de uma novela que é desapropriada para menores de 12 anos. O meu caçula tem quatro anos e não conseguiu tirar os olhos da tela, sem apreciar a beleza do rio e do passeio.

Devido ao incidente, pretendo lançar uma campanha (abaixo-assinado) e até procurar o Ministério Público para mudar essa prática nefasta, que acho ser possível e que venha a ter o apoio tanto do governo quanto da população.

Por que somos obrigados a assistir à TV Globo em repartições públicas?

Quem já não se indignou por ter sido obrigado a assistir à TV Globo enquanto aguardava o atendimento em alguma repartição pública?

Ter que aturar Ana Maria Braga dentro do prédio da Receita Federal, ou VALE “A PENA” VER DE NOVO em fila da Caixa Econômica Federal, ou Vídeo Show dentro de uma prefeitura, pode não ser ilegal, mas é imoral, pois pagamos A PENA por assistir a toda aquela chatice alienante.

De acordo com o art. 5, inc LXXIII da Constituição Federal, “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.

É IMORAL o benefício que o governo federal (ou estadual, ou municipal, que também se utilizam dessa prática) concede à Rede Globo pela exclusividade de exibição de seus programas em repartições públicas. A audiência que os governos garantem à Rede Globo é indecorosa e antidemocrática, pois deveriam, então, exibir todos os canais de televisão. São milhões de espectadores. Sem dúvida alguma, dezenas de milhões.

A desculpa esfarrapada para que 99% dos aparelhos das repartições públicas estejam automaticamente sintonizadas na TV Globo é “por causa do sinal”. Ora, isso não nos convence há mais de 10 anos; pois, com o avanço tecnológico do setor das comunicações, em geral, e, especificamente, com a internet, aquilo que ainda existe de melhor (ou menos pior) pode e deveria ser oferecido.

Nosso tempo é valioso, e, enquanto somos obrigados a ficar parados, esperando atendimento, deveríamos ser contemplados com coisas que nos compensem a perda de tempo de espera; ou seja, pagar A PENA pelo que “se deve”, assistindo a programas educativos e verdadeiramente informativos, adequados ao ambiente, e não sendo obrigado a acompanhar reprises de cenas de baixaria de uma novela, na qual duas mulheres se esbofeteiam e se ameaçam de morte.

Provavelmente você, leitor, já assistiu à TV Globo dentro de uma repartição pública, mas já imaginou que, em cada canto desse enorme Brasil, há uma repartição pública com aparelho(s) ligado(s), exibindo a programação da Globo? Eu suponho que a soma de todos os aparelhos de tevê que existem dentro de repartições públicas chega a milhões. É fácil supor essa quantidade, se imaginarmos todas as repartições públicas do Brasil. Em cada canto deste país há uma repartição pública com um televisor ligado exibindo programas da TV Globo. Seja numa delegacia de polícia ou num hospital.

Em relação ao atual índice de audiência da Globo, quanto, dessa fatia nacional, os aparelhos de repartições públicas, oferecidos pelos governos, representam no contexto? Pra quanto iria o índice de audiência da Globo se o governo fosse justo e cortasse esse privilégio concedido por não sei quem?

Eu quero levar ao conhecimento do Ministério Público e solicitar que tomem as devidas providências. Mas, provavelmente, também no Ministério Público deve haver uma sala de espera com uma tv ligada no Globo.

Colaboração de Kais Ismail, publicitário. Texto publicado originalmente no site Agência Assaz Atroz.