Brasil, país soberano! |
Medida de vulnerabilidade de uma economia --do ponto de vista dos credores-- cada 100 pontos de risco equivale a 1% de taxa adicional de juro. A chance de um calote brasileiro então era tida como muito alta.
Para quebrar as resistências ao passar o chapéu o governo FHC via-se obrigado a pagar uma sobretaxa de quase 24,5% acima do juro vigente nos EUA. Numa operação externa feita esta semana pelo governo Dilma, esse plus registrou um recorde histórico de baixa: foi de apenas 1,1%.
O oposto vivido no governo do PSDB reduz a margem de soberania de um país a zero. A independência política é ornamental. Canta-se o Hino, hasteia-se a bandeira. Entrega-se tudo o mais que dá sustento à palavra Nação.
Sem o manejo endógeno das contas externas é impensável fazer política de desenvolvimento ou articular a defesa da industrialização. Menos ainda avançar na defesa da principal fronteira da soberania no século XXI: a justiça social.
Delega-se a sorte e o azar aos banqueiros. Em setembro de 2002, depois de 8 anos nas mãos do PSDB, o Brasil era isso: um pangaré faminto tratado a sabugo e chicote de marmelo pelos mercados.
FHC cumpria exigências velhas, fazia concessões novas, arrastava a empáfia num tanque de areia movediça; a cada passo afundava mais a perna.
Em setembro de 2002 a lama já oscilava no estreito intervalo entre o lábio e o nariz.
Dez anos depois, neste setembro de 2012, o risco país é de 110 pontos. Sim, a 'herança pesada' de Lula, na douta avaliação do sociólogo encabrestado pelos banqueiros em 2002, permitiu que o Tesouro Nacional colocasse nesta 4ª feira US$ 1,3 bilhão em títulos de 10 anos no mercado internacional, pagando apenas 1,1% acima do juro norte-americano.
O menor piso da história teve uma das maiores procuras do mercado. Diferente do calvário vivido em setembro de 2002, a demanda pelos papéis brasileiros foi quatro vezes superior à oferta.
O risco-país em si não define o destino de uma nação.
A Argentina tem um risco elevado porque impôs um desconto de 70% da dívida aos seus credores em 2001. Usou a folga para melhorar substancialmente as condições de vida de seu povo e de seu crescimento.
Não foi essa a lógica que depositou a soberania brasileira nas mãos dos mercados em 2002 .
Ao contrário. A taxa de juro havida disparado e beirava os 25% (hoje o Brasil tem uma taxa de juro real inferior a 2%) ; a inflação passava de 12%, com o desemprego igualmente rompendo esse patamar.
A dívida interna decolara. Mais de um terço dela estava dolarizada, o que restringia a margem de manobra para fomentar a exportação sem quebrar as contas fiscais.
O Brasil escorria na ampulheta da história.
As reservas disponíveis de US$ 36 bi (hoje são dez vezes maiores) cobriam apenas 1/6 do endividamento interno em dólares. O país fora esmurrado por equívocos estratégicos, socado pela ganância dos interesses unilaterais: estava quebrado por dentro e por fora.
O governo do PSDB já havia apelado ao guichê do FMI em 1999 para tomar US$ 40 bi em regime de urgência. Boa parte do patrimônio nacional fora privatizado.
Em dezembro de 2002 o estoque total da dívida externa líquida (pública e privada, menos reservas) era de US$ 189,5 bilhões.
O país devia quase 38% do PIB. Precisava de mais de três anos de exportações (então de US$ 60,4 bi contra US$ 256 bi em 2011) para pagar sua dívida.
Hoje o estoque líquido da dívida externa é de US$ 50,4 bi e as exportações de US$ 256 bi. Ao contrário, no final do ciclo tucano o país não tinha mais nada a oferecer e nenhuma credibilidade a desfrutar.
O então candidato da coalizão demotucana à presidência, José Serra, tirou da gaveta o que lhe restava, ademais de ser a sua especialidade: o terrorismo para amedrontar os eleitores.
À falta de melhor argumento ele alarmava a classe média: a vitória de Lula levaria a 'argentinização' do país.
Uma década se passou. Vive-se uma crise mundial mais grave, mais abrangente e corrosiva que a de 2002. A contabilidade do país no entanto nunca foi melhor. Embora a desigualdade resista e cobre arrojo para ser enfrentada, os índices de pobreza, fome, desemprego, informalidade, apartheid universitário e de crédito, entre outros, repousam em níveis inéditos. Não é exagero nesse senrtido que o Brasil é hoje o país menos desigual de sua história. Altivez e soberania deixaram de ser mero adorno da atuação internacional do Estado brasileiro.
Como farsa, porém, sobrevivências do passado batem na porta do presente com aspirações de influenciar o futuro. Foi essa a pretensão de FHC com a patética tentativa de depositar uma 'herança pesada' de Lula no colo de Dilma.
A falta de pejo foi prontamente desmontada pela Presidenta que reavivou aos distraídos a realidade constrangedora daquele final de governo, quando o 7 de Setembro era uma contradição em termos espetada no calendário nacional.
"Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão”, disse a nota da Presidência da República nesta 2ª feira, antecipando em quatro dias os festejos, mas sobretudo o sentido da palavra 'independência' no Brasil de sete de setembro de 2012.
Postado por Saul Leblon
Comentário do Senhor C.:
- Tenho amigos que dizem gostar de FHC. Eu, ao contrário, não o suporto.
Como governante, este post deixa idéias claras do que foi o seu ''reinado".
Como sociólogo, sua obra acadêmica é inssossa e inodora: uma amontoado de idéias dos outros.
Como escritor, talvez suas cartas a jovens políticos possam ser de alguma valia no futuro.
Só não sei o que ele é como pessoa, mas do modo como se porta nas entrevistas e nas aparições públicas, deve ser uma 'maria antonieta' entediada. Aliás, foi ele que entrevistado a respeito das solenidades de 7 de Setembro declarou numa "boutade": - Aquilo lá é uma palhaçada!
Vindo da boca de alguma criança ou mente infantil de qualquer natureza poderia soar engraçado ou inocente. Vindo da boca de quem veio, só me soa como desrespeito, deboche a seu próprio país, que ele levou a ruína enquanto esteve no governo. E viva nossa independência política, e viva mais ainda, nossa soberania econômica! Esta, assim como a justiça social que ainda não veio, não tem preço! E não se entrega de mão beijada para ninguém!
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