Pesquisar este blog

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Brasil, 72%! Enquanto isso, no primeiro mundo...


Comentário do Senhor C.:


O Lírio Verde fundiu estes dois artigos, porque juntos eles ganham melhor impacto para que vocês, leitores do Blog, possam tirar as justas conclusões sobre o que acontece por aqui e por acolá.

Na opinião deste modesto observador é claro que devemos ser bastante cuidadosos em 'entender - explicar' o fenômeno Brasil neste momento do mundo. Só não podemos é cair na esparrela de uma imprensa marrom que, do alto de suas redações e estúdios, derrama versos e prosas a desconstruir a história recente. Aquela que mostra que a passagem pelo governo de um certo sapo barbudo e sua equipe fez toda a diferença entre os 72% da primeira notícia e os 500 da segunda. Evoé!


Um número indiscutível! Exceto para a direita golpista e sua mídia serviçal


ANTONIO DELFIM NETTO


Numa linha diferente da maioria dos economistas que acreditam em leis "naturais" -o que sugere a liberdade para os mercados- e de outros que supõem leis "históricas" que inevitavelmente se realizam, dois gigantes dos séculos 19 e 20, Knut Wicksell (1851-1926) e John Maynard Keynes (1883-1946) sabiam que o homem não tinha um destino dado.

Para Wicksell ("Saggi di Finanza Teorica", 1896), o "último objetivo (...) é a igualdade de todos diante da mesma lei, a maior liberdade possível, o bem-estar econômico e a cooperação pacífica entre todos" -um programa que implicava na educação financiada pelo Estado, na criação de seguro-saúde, na tributação progressiva e num imposto sobre herança destinado a criar um fundo para educar jovens trabalhadores a se aperfeiçoarem e a se firmarem na vida.

Para Keynes ("The End of Laissez-Faire", 1926), "era preciso pôr, desde logo, às claras o princípio metafísico sobre o qual fundou-se o 'laissez-faire'. Não é verdade que os indivíduos detenham uma liberdade natural na sua atividade econômica. Não existe 'contrato' que confira direitos perpétuos àqueles que possuem bens ou os adquiram. O mundo não é governado do alto, de forma que o interesse privado e o interesse social sempre coincidam. Ele não é, tampouco, dirigido aqui em baixo, de forma que os façam coincidir na prática. Não é correto, portanto, deduzir dos princípios da economia que o interesse individual trabalha sempre a favor do interesse público".

Wicksell e Keynes têm em comum a ideia de um processo civilizatório que deve se apoiar na racionalidade, na cooperação e na justiça, no seio de instituições que garantam o exercício da plena liberdade individual.

Uma questão interessante é saber como se mede o avanço do processo civilizatório: se é pelo comportamento do agente ativo das políticas públicas que obedece aos cânones de uma suposta ciência econômica, combinada com o liberalismo político, ou se é consultando os agentes passivos daquelas políticas.

Pesquisa do Pew Research Center intitulada "O desânimo permanente sobre a economia mundial", realizada em 21 países e com consulta a 26.210 indivíduos entre 17 de março e 20 de abril de 2012, deixa a questão sem resposta.

No estudo, se lê: "As pessoas podem pensar que a sua situação é melhor do que a situação econômica dos seus países, mas apenas no Brasil (72%) e na China (70%) larga maioria acredita que suas famílias estão melhores hoje do que há cinco anos". No México, 30%; nos EUA, 27%; na Alemanha, 23%; no Japão, 11%; e, na Espanha, 9%. Isso deveria ser um sinal amarelo para alguns de nossos arrogantes "cientistas".

**************************************************************************


500 famílias são despejadas por dia na Espanha

LIANA AGUIAR

Em meio à crise econômica que assola a Espanha, mais de 500 famílias são despejadas a cada dia no país por não pagar aluguel ou prestações do financiamento imobiliário.

Desde 2008, já foram quase 400 mil execuções hipotecárias. Somente no primeiro trimestre deste ano, o Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ), órgão do governo, registrou 46.559 despejos. Por dia, 517 famílias foram despejadas suas casas por inadimplência.

A Plataforma dos Afetados pela Hipoteca (PAH), entidade criada para chamar atenção para o problema, estima que, neste ritmo, o país terminará 2012 com mais de 180 mil famílias despejadas.

Ada Colau, ativista do direito à moradia e uma das fundadoras da PAH, critica que a legislação ampare as entidades bancárias, mas não os cidadãos que perdem o emprego e não podem pagar o empréstimo. Ela afirma que, na época do boom imobiliário, o governo "facilitou o crédito de maneira irresponsável" e, agora, anuncia cortes em gastos com educação e saúde, enquanto resgata a entidades bancárias.

A PAH reúne assinaturas para uma iniciativa legislativa popular, na qual propõe, entre outras coisas, a paralisação dos despejos durante a crise e a destinação de residências desocupadas para o aluguel social. "É preciso tratar a moradia como um direito."

De bolha imobiliária a casas vazias
Entre 1997 e 2007, construíram-se 390 mil moradias por ano na Espanha, e os preços dos imóveis aumentaram em 200%. Hoje, sobram casas vazias. Segundo dado preliminar do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) para o Censo deste ano, entre 5 milhões e 6 milhões de moradias no país estariam vazias, o que representa 20% do estoque imobiliário residencial.

A Catalunha é uma das comunidades autônomas mais atingidas pela crise imobiliária, onde são realizados 20% dos despejos do país, segundo o CGPJ. Em ações coletivas da PAH, famílias que perderam judicialmente seus imóveis ocuparam quatro edifícios vazios embargados por bancos na Catalunha.

Ocupação
Um edifício da rua Pompeu Fabra, em Terrassa (a 23 km de Barcelona), está ocupado por 11 famílias desde dezembro passado. A ocupação foi uma forma de chamar a atenção das autoridades para que pressionem as entidades bancárias e também a única saída para que essas famílias tivessem um teto, ainda que provisório.

É o que explica José Arturo Ramírez, 44 anos, soldador desempregado há quatro anos, que ocupa um dos apartamentos com a mulher, dois filhos, o genro e o neto. Ramírez é uma das vítimas do setor mais castigado nesta crise econômica, o da construção civil. "Ninguém tinha ideia de que terminaria assim, mas os bancos, sim, sabiam. Era muito fácil conseguir um financiamento", lembra.

Ramírez devolveu o imóvel, mas não quitou completamente a dívida. O apartamento que pertenceu a ele, hoje, continua vazio. "Queremos o diálogo com o governo e com as entidades bancárias." Ramírez evita fazer planos para o futuro. "Pensei em tirar minha própria vida. Hoje, sigo o conselho do meu médico e vivo cada dia. Se eu desmorono, quem me levanta?"

No mesmo edifício ocupado, vive Soraya Urbano Oviedo, 31 anos, junto com o marido e os dois filhos. Quando ficou desempregada e o marido teve de fechar o negócio por causa da crise, propuseram ao banco um refinanciamento da dívida. "A resposta foi que, se não pagássemos, nos tirariam a casa."

Seu antigo apartamento também continua vazio. "Eu o vejo diariamente. Me dá muita pena, está se deteriorando. Tenho vontade de entrar lá", confessa. "Não sei se voltaria a 'ocupar'. Não é o que quero para os meus filhos."

Soraya e Ramírez são uns dos poucos que conseguiram o perdão de parte da hipoteca. A maioria não consegue, como Montserrat Colomer, 34 anos, operária. O apartamento onde mora já foi leiloado em 2010 e ela pode receber um novo aviso de despejo a qualquer momento. "Se me tiram da minha casa, vou 'ocupar' outra, porque meus três filhos não ficarão na rua e ninguém vai tirá-los de mim", avisa.

O dia da entrevista à BBC Brasil era aniversário do filho de 5 anos. Não houve festa, nem bolo. O próximo salário de Montserrat está reservado para comprar os livros da escola.

Mais pobreza
A Cáritas, confederação oficial das entidades católicas de caridade, registrou um aumento de 174,2% de pessoas atendidas de 2007 a 2011 nos serviços de acolhida e assistência, 3,5 vezes superior que há dez anos.
A entidade passou a oferecer no ano passado serviços de mediação de moradias, e 26% dos gastos em ajudas econômicas são destinados a moradia, atrás somente das demandas por alimentos (39%). Segundo um estudo da Cáritas, a pobreza é um fenômeno que nos últimos anos se tornou mais extenso, mais intenso e mais crônico no país.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.