Valores diferentes podem indicar risco de doença vascular periférica no paciente
No Brasil, diferença-limite na medição de pressão
entre os braços é de 20 mm Hg
SÃO PAULO - Uma revisão de 28 estudos publicada nesta segunda-feira, 30, na versão online da revista The Lancet aponta que os médicos deveriam medir a pressão arterial nos dois braços do paciente - e não apenas em um, como ocorre na maioria dos consultórios. Isso porque medidas diferentes de pressão nos braços podem indicar risco aumentado de doença vascular periférica.
Medir a pressão nos dois braços já é recomendado nas diretrizes de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia - a última atualização foi publicada em 2010. A norma orienta que na primeira consulta os médicos meçam a pressão nos quatro membros do paciente: nos dois braços e nas duas pernas - o que nem sempre acontece.
A revisão de estudos foi conduzida pelo médico Christopher Clark, da Universidade Exeter (Grã-Bretanha), e demonstrou também que uma diferença de pressão sistólica acima de 15 milímetros de mercúrio (mm Hg) entre os dois braços está associada ao maior risco de ter uma das artérias parcialmente obstruída.
Seria o caso, por exemplo, de um paciente ter a pressão arterial de 120 mm Hg por 80 mm Hg (12 por 8) em um dos braços e de 140 mm Hg por 80 mm Hg (14 por 8) no outro. A diferença de 140 para 120 é 20. Segundo o estudo, nesses casos o paciente deveria ser encaminhado para exames mais específicos.
Aqui no Brasil, as diretrizes recomendam uma investigação mais aprofundada apenas nos casos em que a medição da pressão apresentar uma diferença superior a 20 mm Hg entre os dois braços. Para o cardiologista Luiz Aparecido Bortolotto, diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do InCor, esse é um ponto que poderá ser reavaliado no País.
“Uma das coisas mais importantes desse estudo é que a diferença de pressão entre os dois braços a ser considerada perigosa é de 15, enquanto aqui no Brasil o valor é 20. Talvez a gente tenha de rever as diretrizes e também baixar esse número”, diz.
Exame clínico
Para o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, chefe do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a revisão de estudos vem reforçar a necessidade de os médicos fazerem um exame clínico bem feito e mais demorado.
“Medir a pressão nos dois braços faz parte do bom exame clínico e faz parte da diretriz. O problema é que no sistema acelerado de atendimento muitos médicos não fazem o exame corretamente por pressa”, avalia.
A mesma opinião é compartilhada pela cardiologista Fernanda Consolim Colombo, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). “Os resultados chamam a atenção para a necessidade de os médicos fazerem o melhor exame físico possível no paciente, independentemente da queixa. Esse exame é o momento em que o médico pode surpreender uma doença assintomática como a hipertensão”, diz Fernanda.
Para medir a pressão corretamente, o paciente deve estar sentado, descansado, de bexiga vazia e não deve ter fumado.
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