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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fragmentos dos diários perdidos do Senhor C.

" É preciso viver o hoje, tal qual se nos apresenta. Sem desesperos, algaravias, desencantos, impaciência, angústias. Confiar no hoje é, antes de tudo, estar pronto para o amanhã. Serenamente. E que virá independentemente de qualquer ação nossa. O futuro é o amanhã do hoje, mas dele não se despega como uma casca que se arranca de um fruto. E logo se tornará presente quer o aceitemos como tal ou não. Mas não se conclua, por isso, que propomos uma atitude fatalista ou impotente diante da inexorabilidade dos dias. Ao contrário. Diante da intangibilidade do futuro, parece aconselhável e adequado pensar o hoje como momento de um percurso de transformação, assim como o passar das horas no relógio parece acompanhar a transformação do dia em noite, e o sol no poente dá lugar a chegada da noite e sua lua, e mesmo essa já tem como certo que logo será seguida de novo pelo sol que se levanta inaugurando outro dia. É inútil querer deter o passar das horas e, decerto, seria tachado de insano ou tolo aquele que se entregasse à tamanha ilusão. Aceitar, pois, a possibilidade do que não pode ser mudado, e entregar-se ao deleite do fluxo da vida é se imiscuir no seu seio e se tornar passageiro do transporte de seu tempo, ao mesmo tempo guia e agente da viagem. É uma atitude de recusa à recusar-se. Duro, mas necessário exercício de praticar o desapego.


Fragmento provavelmente escrito nos portais do tempo, quando o Senhor C. viu maravilhado a transformação do ontem em hoje.

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