Demóstenes Torres/ABr
Ricardo Kotscho
Até o momento, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) não subiu à tribuna nem deu qualquer explicação para responder às mais recentes denúncias sobre o seu envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, mas já entregou ao presidente do DEM, José Agripino Maia, uma carta em que renuncia à liderança do partido.
"A fim de que eu possa acompanhar a evolução dos fatos nos últimos dias, comunico a Vossa Senhoria que estou deixando a liderança do partido", diz a mensagem do senador.
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É grande a expectativa em Brasília sobre o que vai dizer agora à tarde o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), após a saraivada de denúncias contra ele que pipocaram na imprensa nos últimos dias sobre as suas ligações com o notório contraventor Carlinhos Cachoeira.
Apenas uma semana atrás, Demóstenes subiu à tribuna do Senado com pompa e circunstância para se mostrar ofendido, indignado, injuriado com as insinuações de que ele possa ter feito algo de errado além de manter uma desinteressada amizade com o bicheiro, que agora está hospedado num presídio de segurança máxima.
Condoídos com a situação do colega, 44 senadores pediram apartes _ todos eles para se solidarizar com Demóstenes e elogiar as suas qualidades de homem público. Ninguém lhe perguntou sobre o teor das quase 300 conversas telefônicas que manteve com Cachoeira e os ricos presentes de casamento que este lhe ofertou.
Depois disso, ficamos sabendo que Demóstenes pediu dinheiro ao amigo, encarregou-o de pagar as despesas de seu táxi-aéreo e até da suspeita de participação nos lucros do jogo do bicho _ logo ele, o senador que se apresentava como o último varão honesto da República, valente acusador de ministros, defensor implacável da moralidade pública.
A situação de Demóstenes Torres se agravou tanto na última semana que agora até o DEM está pensando em expulsá-lo do partido, caso o procurador-geral Roberto Gurgel se decida finalmente a pedir a abertura de inquérito sobre o envolvimento do senador com o "empresário de jogos" Carlinhos Cachoeira.
Acontece que Gurgel não parece mostrar a mínima pressa para cumprir sua tarefa, já que tem conhecimento das investigações da Polícia Federal desde 2009 e não se manifestou ainda depois que a operação Monte Carlo pegou a quadrilha acusada de explorar máquinas caça-níqueis, quando apareceu a ligação de Demóstenes com Cachoeira.
Pelas declarações dadas por senadores nesta segunda-feira em Brasília, parece que o impoluto senador goiano perdeu sua base de sustentação. Senadores, como Pedro Taques (PDT-MT), que antes o defendiam, pediram que ele faça um novo pronunciamento.
"O caso é grave. Esta Casa não terá moral para convidar, intimar qualquer cidadão a depor se nós não ouvirmos os esclarecimentos do senador", cobrou Taques. Vai falar o quê agora, se é que vai falar?
A sua defesa agora se limita ao novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), e ao advogado criminalista Antonio Carlos de Alemida Castro, o Kakai.
Braga mostrou-se surpreso com a possibilidade de Demóstenes sofrer um processo no Conselho de Ética, que poderia levá-lo à cassação: "Eu não entendo até onde poderia se caracterizar a falta de decoro". Ainda não entendeu? Que santa ingenuidade... É no mínimo estranho que a única voz que saiu em defesa do senador acusado seja a do líder do governo.
Kakai limita sua defesa a afirmar que o senador só poderia ter suas conversas com Cachoeira gravadas pela Polícia Federal com autorização do Supremo Tribunal Federal. Claro, claríssimo. Não importa que a enteada de Gilmar Mendes trabalhe no gabinete de Demóstenes Torres. Afinal, são todos apenas amigos.
Quem estava sendo gravado pela PF, com autorização judicial, era o bicheiro _ Demóstenes só entrou na história por acaso porque, entre outros mimos, ganhou de presente de Cachoeira um telefone à prova de escutas policiais.
Quer dizer que, segundo o nobre advogado, sem autorização do STF Demóstenes é inocente e as gravações não servem como prova? Assim fica difícil acabar com a impunidade no País - uma das bandeiras eleitorais de Demóstenes, antes de passar de acusador a acusado.
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