Por Eduardo Guimarães
Não deixa de ser irônico que o cenário escolhido pela pré-campanha de José Serra para perpetrar a primeira das costumeiras jogadas eleitorais sujas que o tucano costuma praticar tenha sido o metrô paulistano, a prova em aço e concreto da incompetência e da corrupção do PSDB paulista.
Na manhã da última quinta-feira, ocupado pela participação em uma feira de meu setor de atividade profissional, recebo ligação de minha mulher – talvez a pessoa mais avessa à política que conheço e que se opõe frontalmente ao que faço neste blog.
Como precisei do carro para ir à feira, Cristina foi trabalhar de metrô. Tanto na estação em que embarcou quanto na que desembarcou presenciou distribuição gratuita de uma revista com uma capa que qualificou como “inacreditável”.
Estava indignada. Disse que a revista estampava na capa a figura da morte com o símbolo do Partido dos Trabalhadores (a estrela vermelha de cinco pontas) no lugar do rosto. E que, logo abaixo, havia um texto que acusava o partido inteiro de ser uma agremiação de assassinos.
Ela não soube precisar do que se tratava e não pude avaliar na hora, pois estava ocupado no evento. Ao chegar em casa à noite, porém, entendi tudo. Bastou um giro pela internet para descobrir que a revista é ligada a José Serra e que requentou a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Cristina relatou que a publicação estava sendo distribuída por um idoso e um rapaz trajados humildemente. O idoso, segundo ela, estava mal-humorado e agressivo. Após lhe entregar a revista, alguém lhe pediu informação, ele negou e reagiu com fúria. Disse que “não estava ali” e que já lhe bastava ter que ficar “distribuindo aquela bosta de revista”.
Ainda segundo a minha mulher, a revista estava sendo distribuída também pelas ruas. Várias pessoas, todas humildes, carregavam pilhas do material em carrinhos de mão e o jogavam em cima dos passantes.
Foi então que me lembrei de algumas conversas que andei tendo com o pré-candidato do PT a prefeito de São Paulo, o ex-ministro Fernando Haddad.
Quem lê este blog sabe que não tenho manifestado muita fé nas chances dele de derrotar Serra devido à despolitização e ao alheamento da realidade que flagelam a maioria dos paulistanos. Ainda assim, nas duas oportunidades em que nos encontramos fiquei surpreso por percebê-lo extremamente animado com as próprias chances.
Na conversa que tivemos na última terça-feira, o pré-candidato disse que tem sentido que o povo de São Paulo “não agüenta mais” a situação da cidade e que dificilmente deixará de buscar uma alternativa ao grupo político que a governa.
Haddad dá especial atenção ao fato de que São Paulo deveria estar convertida em um canteiro de obras, pois tem hoje um orçamento de R$ 35 bilhões enquanto que, à época de Marta Suplicy, não tinha nem um terço disso. Ainda assim, o prefeito Gilberto Kassab não tem o que inaugurar.
Perguntado sobre a que atribui a inexistência de obras de vulto na cidade tendo ela um orçamento desse tamanho – que, claro, deve-se à situação econômica do país, a qual enriqueceu todos os municípios –, Haddad respondeu que tudo se deve ao “custeio”.
Como exemplo, o pré-candidato citou contrato de varrição da prefeitura com a empreiteira Delta, que, após ter vencido a concorrência, obteve da prefeitura um aumento de mais de 100% no preço inicial – passou de R$ 300 milhões para R$ 700 milhões.
Ou seja: as empresas que prestam serviços à prefeitura vencem licitações com preços baixíssimos e depois conseguem dela aumentos exorbitantes.
A quem pensar em atribuir minhas afirmações sobre o desalento do paulistano com sua cidade a posições políticas que não escondo de ninguém, ofereço a última pesquisa Datafolha sobre o que pensa este povo sobre o prefeito que Serra lhe vendeu.
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DATAFOLHA
Opinião Pública – 21/03/2011
Cinco anos após assumir a prefeitura, Kassab atinge sua maior reprovação
Para 78% dos paulistanos, é possível acabar com as enchentes em São Paulo
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, após cinco anos no cargo atinge a maior reprovação desde que ele assumiu a prefeitura, em 2005. Para a maior parte dos moradores da cidade (43%) ele vem fazendo um governo ruim ou péssimo. Essa taxa é onze pontos maior do que a registrada em novembro do ano passado, quando 31% reprovavam o seu desempenho. O percentual dos que acham que Kassab está fazendo um governo regular variou, nesse período, de 30% para 27% e a taxa dos que consideram sua administração ótima ou boa caiu de 37% para 29%.
Entre os mais jovens, a taxa de reprovação aumentou treze pontos percentuais (de 35% para 48%), da pesquisa anterior, de julho de 2010 para a atual, índice similar entre os paulistanos com idade entre 25 e 34 anos (de 29% para 44%), porém, a maior diferença (20 pontos percentuais) ocorreu entre os paulistanos com idade entre 45 e 59 anos (de 18% para 38%). A reprovação ao desempenho de Kassab é expressiva também entre os mais escolarizados (de 25% para 45%), assim como entre os paulistanos que possuem renda familiar de até 2 salários mínimos (de 27% para 46%).
A nota média atribuída ao prefeito, em uma escala de zero a dez, é 4,6, sendo que para um quinto (19%) dos moradores da capital paulista ele merece nota zero; 15% acham que ele merece nota cinco e 6% dão a ele a nota máxima.
Na cidade de São Paulo foram entrevistados 1089 moradores, nos dias 15 e 16 de março, e a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Perguntados sobre as enchentes em São Paulo, metade dos moradores de São Paulo (52%) afirmam que a responsabilidade pelas enchentes é compartilhada entre a população, prefeitura e governo do estado, 27% acham que a principal responsável é a própria população, 10% acreditam que a responsabilidade é da prefeitura e 7%, o governo do estado. Os mais escolarizados responsabilizam ainda mais (62%) a todos os envolvidos, população, prefeitura e governo, taxa dez pontos maior que a média da cidade. Os mais velhos (35%), por sua vez, acham que a população é a maior culpada pelas enchentes, enquanto que os menos escolarizados responsabilizam mais a prefeitura (16%).
Para 78% dos paulistanos é possível acabar com as enchentes em São Paulo, enquanto que para 22% esse é um problema insolúvel. Os mais jovens são mais otimistas: 85% deles acham que existem soluções para as enchentes de São Paulo (taxa 7% maior que a média). No segmento dos que possuem renda familiar acima de dez salários mínimos, 27% acreditam que não é possível acabar com as enchentes de São Paulo.
São Paulo, 17 de março de 2010.
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Quando uma administração está bem, o usual é que o prefeito, governador ou presidente não ataquem os adversários durante o processo eleitoral das próprias sucessões. Ora, Serra é situação – é aliado de Kassab, elegeu-o e é apoiado por ele para sucedê-lo. Se confiasse no próprio trabalho, portanto, não deveria estar atacando.
Para comprovar isso, basta lembrar da última campanha eleitoral do país. Dilma manteve a fleuma até o fim do primeiro turno e só reagiu após muitos ataques dos adversários – e, ainda assim, de forma comedida.
Apesar da sensação deste blogueiro de que São Paulo é um caso perdido e das pesquisas que mostram que Haddad ainda não decolou, as ponderações que ele me fez parecem ganhar sentido.
Nunca o PT teve menos do que 20 ou 25 por cento dos votos na capital paulista. O baixo percentual que Haddad ainda tem se deve, portanto, ao desconhecimento de si pelos paulistanos.
Além disso, o eleitorado da capital paulista ainda não racionalizou que Serra é o criador de Kassab. Quando a campanha eleitoral refrescar a memória fraca popular, é bem provável que o tucano venha a ter que se explicar mais do que gostaria.
O ataque que o PSDB desfechou no cenário de sua incompetência (o metrô) na última quinta-feira, agora se explica e concede verossimilhança ao estado de ânimo de Haddad. Isso sem dizer que, segundo ele, as pesquisas qualitativas lhe abrem uma larga avenida para se eleger.
A atitude desesperada dos tucanos de tentarem criminalizar por inteiro um partido político que governa o Brasil há quase uma década, está explicada. Serra não tem o que dizer ao povo de São Paulo, então tenta criminalizar o adversário.
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