E quando a ciência não tiver respostas prontas?
Durante simpósio Brasíl-Índia sobre divulgação científica, professor da USP sugere debate do curioso manifesto “Slow Science”
Por Daniela Frabasile
Passou despercebido nos jornais diários, mas merece atenção um evento realizada na USP, na semana passada: o Simpósio Brasil-Índia sobre Divulgação Científica (vejaprograma). Expressão dos novos laços que começam a unir os países do Sul diretamente, sem intermediação da Europa e Estados Unidos, ele pretendeu “discutir, construir e consolidar uma rede acadêmica nos campos da ciência, tecnologia e cultura, para a compreensão geral da sociedade).
Na extensa grade de atividades, destacaram-se falas como a de Marcos Barbosa de Oliveira, professor da Faculdade de Educação, que discorreu sobre a responsabilidade social da ciência – e destacou, entre outros pontos, a aparição do movimento Slow Science. Seu manifesto fundador pode ser encontrado aqui.
Nos últimos anos, alertou Barbosa, avançou, por um lado a mercantilização da ciência. As pesquisas com aplicações rentáveis encontram farto financiamento, enquanto outras – indispensáveis para fins sociais ou para a própria expansão do conhecimento – são desaceleradas por falta de recursos. Pouco importam, nessa lógica, os impactos dos trabalhos na sociedade, saúde pública ou ambiente.
Até há pouco, considerava-se natural esta primazia do mercado. Mas a crise financeira deixou claro que a lógica mercantil não é eficiente sequer organizar a economia. Se nem na organização do capital o mercado é o mais eficiente, é preciso refletir sobre se a ciência deveria ser regulada por esse mesmo mecanismo.
Para Marcos Barbosa de Oliveira, houve, ao longo da história da ciência, altos e baixos na preocupação com a responsabilidade social. O professor acredita que hoje passamos por uma revitalização da responsabilidade social na ciência, nas pesquisas, nas teses e nos trabalhos.
Outro obstáculo a ser vencido, segundo Barbosa, é a expansão da proteção à propriedade intelectual. Também está ligada ao acúmulo de capital: ao patenteardescobertas, grandes corporações querem ter acesso exclusivo a certos conhecimentos, e explorá-los comercialmente. Mas, para para o professor, é uma tenência contrária à tradição de tornar a ciência disponível a todos – e permitir que muitos participem de seu desenvolvimento.
Vale ler (em inglês) o manifesto do Slow Science. Breve e elegante, ele não se refere diretamente à mercantilização da ciência. Mas fustiga a acomodação, a crença num conhecimento mágico que resolva, como ensinamento divino, problemas que cabe às sociedades, coletivamente, enfrentar. Num de seus trechos, ele frisa: “Precisamos de tempo para pensar. Precisamos de tempo para processar. Precisamos de tempo para nos desentenderemos uns aos outros, especialmente ao estimular o diálogo perdido entre as humanidades e as ciências naturais. Não podemos dizer-lhe incessantemente o que nossa ciência significa; para quê ela será útil: porque simplesmente não sabemos. A Ciência precisa de tempo”.
Por Daniela Frabasile
Passou despercebido nos jornais diários, mas merece atenção um evento realizada na USP, na semana passada: o Simpósio Brasil-Índia sobre Divulgação Científica (vejaprograma). Expressão dos novos laços que começam a unir os países do Sul diretamente, sem intermediação da Europa e Estados Unidos, ele pretendeu “discutir, construir e consolidar uma rede acadêmica nos campos da ciência, tecnologia e cultura, para a compreensão geral da sociedade).
Na extensa grade de atividades, destacaram-se falas como a de Marcos Barbosa de Oliveira, professor da Faculdade de Educação, que discorreu sobre a responsabilidade social da ciência – e destacou, entre outros pontos, a aparição do movimento Slow Science. Seu manifesto fundador pode ser encontrado aqui.
Nos últimos anos, alertou Barbosa, avançou, por um lado a mercantilização da ciência. As pesquisas com aplicações rentáveis encontram farto financiamento, enquanto outras – indispensáveis para fins sociais ou para a própria expansão do conhecimento – são desaceleradas por falta de recursos. Pouco importam, nessa lógica, os impactos dos trabalhos na sociedade, saúde pública ou ambiente.
Até há pouco, considerava-se natural esta primazia do mercado. Mas a crise financeira deixou claro que a lógica mercantil não é eficiente sequer organizar a economia. Se nem na organização do capital o mercado é o mais eficiente, é preciso refletir sobre se a ciência deveria ser regulada por esse mesmo mecanismo.
Para Marcos Barbosa de Oliveira, houve, ao longo da história da ciência, altos e baixos na preocupação com a responsabilidade social. O professor acredita que hoje passamos por uma revitalização da responsabilidade social na ciência, nas pesquisas, nas teses e nos trabalhos.
Outro obstáculo a ser vencido, segundo Barbosa, é a expansão da proteção à propriedade intelectual. Também está ligada ao acúmulo de capital: ao patenteardescobertas, grandes corporações querem ter acesso exclusivo a certos conhecimentos, e explorá-los comercialmente. Mas, para para o professor, é uma tenência contrária à tradição de tornar a ciência disponível a todos – e permitir que muitos participem de seu desenvolvimento.
Vale ler (em inglês) o manifesto do Slow Science. Breve e elegante, ele não se refere diretamente à mercantilização da ciência. Mas fustiga a acomodação, a crença num conhecimento mágico que resolva, como ensinamento divino, problemas que cabe às sociedades, coletivamente, enfrentar. Num de seus trechos, ele frisa: “Precisamos de tempo para pensar. Precisamos de tempo para processar. Precisamos de tempo para nos desentenderemos uns aos outros, especialmente ao estimular o diálogo perdido entre as humanidades e as ciências naturais. Não podemos dizer-lhe incessantemente o que nossa ciência significa; para quê ela será útil: porque simplesmente não sabemos. A Ciência precisa de tempo”.
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