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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A história de quem acreditou no sonho

Excelente aluno e filho de pais dedicados, Esaú venceu todas as dificuldades e conseguiu se formar em medicina. Ele recebeu homenagem dos colegas de turma

Margarida Azevedo (mazevedo@jc.com.br)


Esaú é ex-aluno de escola pública e foi aprovado em 1º entre os cotistas
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem


Entre os 78 alunos que colaram grau em medicina, na quarta-feira (12), pela Universidade de Pernambuco (UPE) estava Esaú da Silva Santos, 22 anos. Tornar-se médico, para ele, é a realização de um sonho. Seu e de sua família. De origem humilde, morador da zona rural de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, sua formatura é também uma história de superação. E exemplo para tantos jovens que desistem de encarar um vestibular com medo da concorrência.

No final de 2006 Esaú foi aprovado em primeiro lugar na UPE no grupo de candidatos cotistas. Ingressou na faculdade no primeiro semestre de 2007. Aluno de escola pública a vida inteira, escondeu dos amigos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Marechal Eurico Gaspar Dutra, na UR-11, que prestaria vestibular para medicina. “Preferi não contar. Dizia que faria para biologia. Só minha família sabia a verdade. Se falasse para outras pessoas poderia não ter apoio”, relata.

Nos primeiros períodos do curso pensou em desistir. Para chegar à UPE, em Santo Amaro, ele caminhava meia hora. Depois, uma hora de ônibus. Em seguida, outra meia hora no segundo ônibus. “Não tinha condições de pagar as passagens para ir à faculdade. Havia também a incompatibilidade de arcar com livros, xerox, lanches. Minha turma sempre foi acolhedora, os colegas muito simpáticos. Comecei a receber ajuda de várias pessoas. Minha família também sempre me apoiou. Consegui continuar”, diz Esaú.

Esaú e o irmão mais velho, Jacó, hoje com 24 anos e formado em ciências sociais, aprenderam a ler em casa, com a mãe, Quitéria da Silva, que ajuda no sustento da casa vendendo produtos de beleza. O pai, Severino dos Santos, é agricultor. Cursou até a 4ª série, mas sempre estimulou os dois filhos a ler e estudar. “Minha mãe fez dois períodos de letras numa faculdade particular, mas teve que parar. Deixou para mim e meu irmão o sonho de concluir um curso superior”, conta Esaú.

A história do rapaz ficou conhecida nacionalmente em abril de 2008, contada pelo apresentador Fausto Silva em seu programa dominical da Rede Globo. Depois da exibição, muita gente ajudou Esaú. Ele ganhou livros, xerox, alimentos, roupas, sapatos e até móveis. Também dinheiro para reformar a casa.

Segunda-feira passada, na aula da saudade, a turma de Esaú o homenageou. O vídeo com a reportagem do Faustão foi mostrado e deixou o futuro médico surpreso e emocionado. “Todos da turma decidiram homenagear Esaú. Ele sempre foi muito estudioso, dedicado ao curso. É um exemplo que quando se quer é possível realizar um sonho”, afirma Bruno de Moura, 29 anos, da comissão de formatura.

Para o futuro, Esaú planeja concluir a residência em cirurgia geral e se dedicar aos pacientes. Quer também retribuir à família o que recebeu até agora. “Nada é impossível, apesar das dificuldades. Tentarei ser um bom profissional. E espero melhorar a vida dos meus pais e do meu irmão, pessoas tão importantes na minha vida.”

Comentário do Senhor C.:

- Homenagem às centenas de milhares de Esaús e Jacós que, graças a política de cotas, podem sonhar e realizar um futuro melhor e mais digno. E viva a política de cotas que contribui - ainda que homeopaticamente - para fazer do Brasil um país mais justo, um país de todos.

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