A militante indiana deu lição ao Tony Blair. Lidera, entre outros, o movimento contra a escravidão das sementes transgênicas |
por Luiz Carlos Azenha
A revista britânica Economist sugeriu — e a mídia brasileira repercutiu com grande alarde — a demissão do ministro Guido Mantega.
O que me lembrou de outro episódio. Estava eu no simpático hotel Marvel, em Lahore, Paquistão, digerindo um apimentado nihari que quase me tirou de combate, quando decidi olhar a BBC, que em geral é vista em inglês nos sistemas de cabo das ex-colônias britânicas.
A BBC promovia um debate sobre pobreza que tinha como convidados, entre outros, o ex-primeiro britânico Tony Blair — o lapdog de George W. Bush — e a militante Vandana Shiva.
O problema — para Blair, obviamente — é que a BBC tinha buscado representar na audiência o mundo como ele é, hoje: não um monopólio intelectual dos brancos de olhos azuis e suas ideias eurocêntricas, mas um apanhado de morenos, muitos dos quais de olhos puxados.
Havia acadêmicos malaios, indonésios, chineses e muitos africanos participando do debate.
A certa altura, Blair veio repetir a velha ladainha sobre como eliminar a pobreza na África: governança, reforma do Estado (leia-se privatizações) e outras sandices do Banco Mundial, já testadas na década de 80 e que fracassaram espetacularmente, deixando no rastro instituições ainda mais enfraquecidas diante do poder neocolonial das transnacionais.
Ninguém chegou a destacar o importante papel que a China teve na África, ao se colocar como mercado alternativo para as commodities locais e financiar obras de infraestrutura sem as famosas condicionalidades impostas pelo Ocidente — eu te dou uma grana do FMI desde que você privatize os portos, ou o petróleo, ou as minas de carvão.
Governança, governança, governança, insistia Blair, como se o déficit de democracia fosse a causa principal da pobreza e não, por exemplo, os subsídios agrícolas europeus e norte-americanos, que reduzem a competitividade da produção agrícola dos países mais pobres.
Até que a maravilhosa Vandana Shiva largou uma sapatada verbal nele: Tony, disse ela em outras palavras, se a governança proposta por vocês fosse tudo isso, a Europa não estaria hoje mergulhada numa profunda crise financeira e ameaçada de estilhaçamento político.
Silêncio constrangedor na plateia. Aqueles olhos todos se voltaram para Blair, fuzilando a condescendência dele. O ex-primeiro britânico ficou ainda menor na cadeira.
Fiquem com nossa mídia colonizada:
Dilma reage a crítica de revista britânica à economia brasileira
07/12/2012 – 16h42
Danilo Macedo e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – A presidenta Dilma Rousseff rebateu hoje (7) o artigo da revista britânica The Economist, que sugere a demissão da equipe econômica brasileira, sob comando do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Dilma disse que não se deixará influenciar pela opinião de uma revista estrangeira e destacou que a situação nos países desenvolvidos é mais grave do que a do Brasil.
“Em hipótese alguma, o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto do povo brasileiro, vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira”, disse a presidenta, antes do almoço oferecido aos participantes da Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, no Itamaraty.
Segundo Dilma, o Brasil cresceu 0,6% no último trimestre e crescerá mais no próximo, o que não motiva a recomendação da revista. “Não vi, diante dessa crise gravíssima pela qual o mundo passa, com países tendo taxas de crescimento negativas, escândalos, quebra de bancos, quebradeiras, nenhum jornal propor a queda de um ministro.”
Ao ser perguntada se a situação dos demais países era pior que a do Brasil, a presidenta foi enfática. “Vocês não sabem que a situação deles é pior que a nossa? Pelo amor de Deus!”, disse ela. “Nenhum banco, como o Lehman Brothers, quebrou aqui. Nós não temos crise de dívida soberana, a nossa relação dívida/PIB é de 35%, a nossa inflação está sobre controle, nós temos 378 bilhões de dólares de reserva.”
A presidenta reafirmou que é favorável à liberdade de imprensa, apesar de divergir do conteúdo publicado em alguns veículos. A reação de Dilma à publicação britânica ocorre em meio a discussões sobre regulação dos meios de imprensa na Argentina e no Equador, países cujos presidentes, Cristina Kirchner e Rafael Correa, respectivamente, estavam presentes nas reuniões de hoje.
“Eu sou a favor da liberdade de imprensa. Não tenho nenhum ‘senão’ sobre o direito de qualquer revista ou jornal dizer o que quiser”, ressaltou a presidenta. Para ela, a reação da revista britânica pode ter sido motivada pela queda dos juros no Brasil.
“[Será que] tudo isso se dá porque os juros caíram no Brasil? Os juros não podiam cair aqui? Aqui tinha que ser o único, como dizia um economista antigo nosso [Delfim Netto], ou o último peru de Ação de Graças?”, acrescentou a presidenta, referindo-se à hipótese de o Brasil só ter condições de baixar os juros quando todos os países da região já tivessem feito.
Assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=naVPxPqAbgU
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