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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Invertendo o fluxo

por Vladimir Safatle

Foi a partir dos anos 1930 que as universidades americanas começaram sua ascensão em direção ao topo do mundo.
Até então, os EUA tinham boas universidades, mas sua influência era limitada.

A vinda maciça de pesquisadores, cientistas e acadêmicos renomados de países europeus foi um elemento decisivo na modificação de tal realidade. Fugindo das condições políticas e econômicas adversas na Europa, tal massa de acadêmicos reconfigurou a vida universitária americana, deixando traços visíveis até hoje.

Se o Brasil tiver senso de oportunidade, algo parecido poderá ocorrer entre nós. Devido à crise econômica e social, não são poucos os acadêmicos europeus ou jovens doutores de talento que gostariam de imigrar para um país onde se pode desenvolver pesquisas sem temer o próximo corte orçamentário.

Professores brasileiros que viajam constantemente para conferências internacionais ouvem, com cada vez mais insistência, o desejo de seus colegas estrangeiros em conhecer melhor as condições de trabalho no Brasil. Eles sabem que o país quer desempenhar um papel mais relevante no cenário global e que, para tanto, precisaremos investir em nossas universidades.
Conhecemos situações em que concursos são abertos em universidades públicas e não são preenchidos por falta de candidatos qualificados. Há de se perguntar se não poderíamos dar um passo realmente efetivo em direção à internacionalização de nossas universidades criando condições para que mesmo estrangeiros prestem concursos.

Para tanto, bastaria, por exemplo, que eles pudessem fazer provas em inglês à condição de assinar um termo de compromisso onde se obrigariam a aprender português e dar aulas em nossa língua depois de um ou dois anos.

As vantagens para nossos alunos seriam inegáveis, pois eles teriam um corpo docente internacional, com pesquisadores de várias tendências capazes de aumentar o nível dos debates entre os próprios professores. Os alunos teriam uma abertura efetiva de horizonte importante para seu processo de formação.

As vantagens para o país seriam também evidentes, já que poderíamos, como fizeram os EUA nos anos 1930, receber grupos de pesquisadores que desenvolveriam suas pesquisas em solo pátrio.

A estabilidade econômica que parece se delinear para o Brasil nos próximos anos pode ser um fator importante para a abertura de uma nova fase em nossa vida acadêmica.

Se o governo estiver disposto a usar recursos do pré-sal para o investimento em educação e pesquisa, o Brasil terá condições de se tornar um lugar atrativo para pesquisadores dispostos a escapar de países em bancarrota e envenenados por delírios xenófobos.


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