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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Nem mais, nem menos





Uma das táticas mais manjadas da turma do contra é fustigar o governo pelo lado moral. A oposição faz isso desde os tempos de Lula. Dizer que a corrupção aumentou bastante no país virou moda. E muita gente, vendo o noticiário, acaba achando que isso é mesmo verdade. Mas, segundo avaliação do cientista político Ricardo Caldas e do antropólogo Marcos Otávio Bezerra, que participaram de uma mesa redonda sobre o custo da corrupção para o Estado brasileiro,na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Goiânia, as coisas não são exatamente assim.

Caldas, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que a corrupção é um fenômeno global e que instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) não registram nenhuma variação da incidência da corrupção no Brasil. Segundo ele, esse tipo de informação não é precisa, mas apenas baseada na percepção da população e na cobertura da imprensa.

O noticiário pode eventualmente “aumentar a sensação de que estamos diante de uma situação catastrófica”, ponderou Marcos Bezerra, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). O efeito disso é o tratamento moralista da política, “como se o único problema fosse a corrupção” e aí questões como a execução do programa de governo não entra em discussão pública. “Faz-se um uso social e político da corrupção”, alertou o antropólogo.

Bezerra defende que em vez do apelo moral, a questão seja vista sob o aspecto institucional. O exemplo que usa é o das relações dos parlamentares do Congresso Nacional. Segundo ele, o desempenho do político é avaliado pela capacidade de trazer benefícios para a localidade de sua base eleitoral, por meio da apresentação de emendas no Legislativo e, posteriormente, da liberação do Orçamento pelo Executivo.

O antropólogo lembra que as empresas privadas calcificam essas relações ao incluir projetos de seus interesses na formulação das demandas, apresentação de projetos e liberação de recursos. Ele assinala, no entanto, que o Estado brasileiro tem instituições que atuam para evitar e combater a corrupção como a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal e o Ministério Público.

Para Ricardo Caldas, “as instituições de combate à corrupção ainda não funcionam perfeitamente” e o país sofre com uma herança cultural dos tempos de colonização. “Temos um Estado patrimonial. Não conseguimos separar o público do privado”, disse referindo-se aos textos clássicos sobre a formação do país como "Raízes do Brasil" (Sérgio Buarque), "Os Donos do Poder" (Raymundo Faoro) e "Carnavais, Malandros e Heróis" (Roberto Da Matta). (Com informações da Agência Brasil).


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