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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tempo de política II - Fazendo oposição



por Marcos coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi


Ficar contra um governo popular tem preço. Na eleição municipal, pode significar eleger menos prefeitos, com isso correndo o risco de enfraquecer a representação congressual na próxima legislatura. Mas não há como evitá-lo

Quem acompanha o que falam os principais líderes oposicionistas terá notado o recrudescimento do discurso antigoverno nos últimos meses. O clima de certa boa vontade para com Dilma, que prevaleceu durante o primeiro semestre, foi substituído por declarações cada vez mais fortes.

A mudança é especialmente visível nas manifestações para a imprensa. Quando se pronunciam publicamente, por meio de entrevistas, artigos assinados ou notas, o tom costuma ser mais ácido que no dia a dia do relacionamento parlamentar e administrativo.

Afinal, a oposição está à frente de nove estados e centenas de prefeituras, o que exige convivência contínua e colaboração com o governo federal. Nenhuma das partes quer se indispor com a outra.

Existem diversas razões para explicar a mudança. Pode ser que as lideranças da oposição acreditem que seu eleitorado a exige. Pode ser que obedeçam a motivações internas, decorrentes de conflitos entre correntes partidárias. Pode ser que desejem mais espaço nos grandes veículos de comunicação, sempre mais generoso quando o oposicionismo é mais acentuado.

O entendimento de que a sociedade cobra virulência não é respaldado pelas pesquisas de opinião. A imagem da presidente continua positiva, depois de ter começado o ano nas alturas. Nos levantamentos de todos os institutos, Dilma é recordista de popularidade.

Nos mais recentes, estava com aprovação de quatro em cada cinco entrevistados. Criticá-la equivalia, portanto, a julgá-la de maneira oposta ao que pensa a vasta maioria da população.

Também relevante, a imagem de Dilma mostrava ter resistido aos sucessivos episódios de crise em seu ministério. Tendo se desvencilhado de seis ministros, não haveria como negar que as denúncias tinham, no mínimo, algum fundamento.

Nenhum governo apresenta, ao longo do tempo, níveis idênticos de avaliação. Flutuações podem acontecer e acontecem. O que importa é a tendência, e nada indica que Dilma esteja perante alterações significativas da sua.

Ou seja, enquanto a imagem do governo permanece elevada e assim parece que vai continuar, o discurso da oposição segue um caminho inverso. A opinião pública continua gostando da presidente e a oposição, a cada dia, gosta menos.

Nenhum problema com isso. É totalmente legítimo e até natural que ela discorde do que pensa a maioria do eleitorado. Se não, nem teria o que falar, uma vez que o discurso da aprovação tem dono identificado. É do situacionismo o direito (e o dever) de ser a favor.

O complicado é quando o oposicionismo é inconstante ou contraditório. Se as lideranças tucanas (pois as do PPS e as do DEM, a cada dia, diminuem de expressividade) querem ser crescentemente contrárias ao governo, que o sejam. O que não podem é fazê-lo titubeando e dando meias voltas.

Isso é especialmente importante para elas durante o processo eleitoral que teremos ano que vem. Nas eleições municipais, a oposição terá que escolher de que lado vai estar em relação a Dilma, Lula e o governo federal. E terá que saber dizê-lo com clareza para o eleitorado.

Em 2008, vimos o preço que o temor a Lula cobrou das oposições. Cientes da elevadíssima popularidade do ex-presidente, não houve um só candidato relevante a prefeito que ousasse confrontá-lo ou criticar o governo. Em algumas cidades, tivemos uma espécie de competição para selecionar o mais lulista, independente do partido. O candidato tucano típico queria tudo, menos ser percebido como o que era “contra Lula”.

O resultado foi uma espécie de “círculo virtuoso”. Lula estava bem e ninguém o questionava. Ficava, em função disso, a cada dia melhor e diminuía a vontade de lhe fazer oposição. Com isso, subia ainda mais. Ele entrou no período eleitoral daquele ano bem e terminou ótimo.

Ficar contra um governo popular tem preço. Na eleição municipal, pode significar eleger menos prefeitos, com isso correndo o risco de enfraquecer a representação congressual na próxima legislatura. Mas não há como evitá-lo.

O PT passou por isso. Fez o oposto do sentimento nacional majoritário em alguns momentos (para lembrar de apenas dois: não votou em Tancredo no Colégio Eleitoral em 1985 e foi contra o Plano Real em 1994), mas agiu de maneira que a opinião pública reconheceu ser coerente. Assim, adquiriu respeito.

É o que os partidos de oposição precisam conquistar.


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