Literatura e realidade social
Diversos outros antes de mim já estabeleceram as relações entre literatura e realidade social e de como a primeira é um poderoso instrumento de crítica e consciência para a segunda. Talvez um dos momentos da literatura mundial mais marcante seja a obra de Balzac, por exemplo, descrevendo em requintes de crueldade os limites morais e o universo cultural restrito que os burgueses da França da época apresentavam como seus, e que, grosso modo, continuam atuais. Há vários outros autores e a lista deles é de uma consistência salutar.
Abaixo, incluímos a menção a mais um deles, cuja obra mereceu o prêmio Nobel, mas que apesar dos prêmios a que fez jus (uma questão sempre delicada reúne premiações e méritos, de que a questão do cinema e o Oscar é um exemplo candente. Mas por ora, deixemos para uma posterior manifestação a respeito), se revela na leitura com que nos brinda. Neste trecho que destacamos, seu autor, John Steinbeck, revela toda a sensibilidade na forma com que descreve a transformação revolucionária e a mudança profunda que o avanço do capitalismo opera na estrutura social, em particular, na paisagem rural.
Suas imagens são muito fortes, e a analogia entre o cavalo e o trator, bem se aproxima de conceitos como o 'trabalho vivo' e o 'trabalho morto' que um outro pensador, no caso o alemão Karl Marx, brindara a humanidade décadas antes, mas que à época da lavratura do romance "As vinhas da Ira" ainda quedavam quase incógnitas.
O trecho escolhido fala por si mesmo. Pode ser encontrado na página 142 da edição BestBolso, de 2010.
"As casas nos campos foram abandonadas, e os campos, conseqüentemente, também foram abandonados. Somente na garagem dos tratores, cujas chapas onduladas brilhavam qual prata polida, havia vida; e essa vida era alimentada com metal, gasolina e óleo, e os discos dos arados brilhavam ao sol. Os tratores tinham luzes brilhantes, pois que para um trator não existe noite ou dia, e os seus discos de arar revolvem a terra na escuridão e luziam à claridade do dia. E quando um cavalo deixa de trabalhar e se recolhe à cocheira, ainda há vida nele. Há respiração e calor, e suas patas pisam a palha caída, suas mandíbulas trituram o feno e as orelhas e os olhos continuam a se mover. Um calor vital reina na cocheira, o calor e o cheiro de vida. Mas quando para o motor de um trator, tudo para e tudo se torna morto feito o metal de que o trator é feito."
"O calor abandona-o como o abandona o cadáver. e então as chapas onduladas são fechadas e o motorista do trator vai para a cidade de onde veio, talvez a uma distância de 30 quilômetros, e não precisa regressar por semanas ou meses, pois que o trator está morto. E isso assim é simples e cômodo. Tão simples que a satisfação que o trabalho proporciona desaparece; tão eficiente que o deslumbramento também desaparece dos campos, e com ele também some a profunda compreensão e ligação do homem com terra, bem como sua ligação a ela. E no motorista do trator cresce, vai aumentando o desprezo, que só domina um estranho que não tem amor, que não sente ligação à terra."
Abaixo, incluímos a menção a mais um deles, cuja obra mereceu o prêmio Nobel, mas que apesar dos prêmios a que fez jus (uma questão sempre delicada reúne premiações e méritos, de que a questão do cinema e o Oscar é um exemplo candente. Mas por ora, deixemos para uma posterior manifestação a respeito), se revela na leitura com que nos brinda. Neste trecho que destacamos, seu autor, John Steinbeck, revela toda a sensibilidade na forma com que descreve a transformação revolucionária e a mudança profunda que o avanço do capitalismo opera na estrutura social, em particular, na paisagem rural.
Suas imagens são muito fortes, e a analogia entre o cavalo e o trator, bem se aproxima de conceitos como o 'trabalho vivo' e o 'trabalho morto' que um outro pensador, no caso o alemão Karl Marx, brindara a humanidade décadas antes, mas que à época da lavratura do romance "As vinhas da Ira" ainda quedavam quase incógnitas.
O trecho escolhido fala por si mesmo. Pode ser encontrado na página 142 da edição BestBolso, de 2010.
"As casas nos campos foram abandonadas, e os campos, conseqüentemente, também foram abandonados. Somente na garagem dos tratores, cujas chapas onduladas brilhavam qual prata polida, havia vida; e essa vida era alimentada com metal, gasolina e óleo, e os discos dos arados brilhavam ao sol. Os tratores tinham luzes brilhantes, pois que para um trator não existe noite ou dia, e os seus discos de arar revolvem a terra na escuridão e luziam à claridade do dia. E quando um cavalo deixa de trabalhar e se recolhe à cocheira, ainda há vida nele. Há respiração e calor, e suas patas pisam a palha caída, suas mandíbulas trituram o feno e as orelhas e os olhos continuam a se mover. Um calor vital reina na cocheira, o calor e o cheiro de vida. Mas quando para o motor de um trator, tudo para e tudo se torna morto feito o metal de que o trator é feito."
"O calor abandona-o como o abandona o cadáver. e então as chapas onduladas são fechadas e o motorista do trator vai para a cidade de onde veio, talvez a uma distância de 30 quilômetros, e não precisa regressar por semanas ou meses, pois que o trator está morto. E isso assim é simples e cômodo. Tão simples que a satisfação que o trabalho proporciona desaparece; tão eficiente que o deslumbramento também desaparece dos campos, e com ele também some a profunda compreensão e ligação do homem com terra, bem como sua ligação a ela. E no motorista do trator cresce, vai aumentando o desprezo, que só domina um estranho que não tem amor, que não sente ligação à terra."
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