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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Europa em crise (III): entre o péssimo e o pior

Publicado em 8 de dezembro de 2011 por Antonio Martins




Reunidos até sexta-feira em novo encontro de cúpula, chefes de Estado parecem limitar-se a duas opções: grave retrocesso antidemocrático ou crise financeira devastadora

Esta manhã (8/12), poucas horas antes de começar em Bruxelas mais uma reunião dos governantes do Velho Continente, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um conjunto inesperado e dramático de medidas. O objetivo evidente é evitar o risco de uma grande falência financeira, que poderia levar ao naufrágio uma reunião já muito difícil. Nas últimas horas, esta ameaça cresceu de forma inédita (veja porque).

Este fato novo embaralha as perspectivas da cúpula da União Europeia (UE). Nos últimos dias, os governos e correntes mais conservadoras haviam começado a costurar um acordo, que pretendem ver sacramentado na reunião. Ele foi desenhado nesta segunda-feira (5/12), em Paris, numa reunião entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Significa obrigar as sociedades europeias a sacrifícios novos e inéditos, para ampliar os ganhos (e manter a “tranquilidade”) dos mercados financeiros. (Veja relatos aqui: 1, 2, 3)


As linhas principais do acordo são as seguintes:

a) Obriga-se os países-membros da UE a mudanças constitucionais. Eles deverão incluir em suas Cartas “cláusulas de ouro” que limitam o direito a definir seu próprio Orçamento. A UE definirá mecanismos que garantam a transferência de recursos aos credores da dívida. Os investimentos sociais, a manutenção do Estado de bem-estar social e dos serviços públicos tornam-se objetivos secundários e subordinados;

b) Assegura-se que os interesses dos credores privados serão inteiramente preservados, caso a UE estabeleça um plano de “resgate” de um país em dificuldades. É uma retrocesso inclusive em relação ao que houve recentemente na Grécia, onde se aplicou uma tímida redução dos ganhos dos credores;

c) Atendidas estas condições, os governos agirão para reforçar o Instrumento Europeu para Estabilização Fiscal (EFSF, em inglês). Ele poderia reunir até 1 trilhão de euros, o que seria suficiente para “isolar” os países sob ataque e impedir que a crise se propague.

Durante três dias, o pré-acordo de Merkel e Sarkozy foi recebido com júbilo pelos mercados. Os juros pagos pela Espanha e Itália cederam ligeiramente. Mas desde ontem à tarde, a situação voltou a turvar-se. Aparentemente, os aplicadores passaram a considerar que é insuficiente mudar a Constituição dos países endividados. A pressão sobre papéis italianos e espanhóis voltou aos antigos patamares e as bolsas de ações estão em forte queda, hoje. As medidas adotadas às pressas pelo BCE parecem indicar emergência: informação de que, se não adotadas, um fato muito grave era iminente.

De qualquer forma, a esta altura, a reunião dos governantes europeus parece ter apenas dois resultados possíveis: ou uma submissão ainda mais profunda dos 99% aos interesses do 1% mais rico; ou a preparação de um terremoto financeiro cujas proporções podem ser bem superiores às da quebra do Goldman Sachs, em setembro de 2008.



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