"- A notícia assombrosa, para alguns, dos últimos dias, no mundo futebolístico, foi o 'fico' do Neymar, incensado craque do Santos. Mais curiosa ainda, foi a reação dos dirigentes espanhóis e do técnico do Barcelona que, teria, segundo a imprensa local divulgou, ficado irritado com o jogador e ameaçado que quando ele lá chegasse - um dia, seria tratado apenas como um jogador comum, como mais um num celeiro de craques.
Arrogância a parte na reação do senhor Morinho - atitude aliás muito comum em alguns dos 'professores' (como são tratados os treinadores de futebol pelos seus comandados - vejo muito mais um desespero e uma intolerância à frustração, pois desconfio que por trás da sua 'reação' esteja muito mais a típica atitude da raposa diante das uvas na fábula famosa.
Desconfio que a explicação seja a economia, mais do que arrobuos juvenis e reações senis iradas de quem quer que seja.
Conhecido desde sempre como país do futebol, o que queria no mundo dos negócios futebolísticos, ser um simples fornecedor de mão de obra boa e barata para os times europeus, o avanço da economia nos últimos anos tem feito o Brasil se tornar um mercado atrativo para os jogadores de futebol".
Tanto é assim que o assunto mereceu destaque da agência alemã de notícias, a Deutsch Welle, que publicou em seu site interessante matéria sobre essa nova fase do futebol brasileiro.
Abaixo, a sua íntegra:
Mercado em alta faz craques do Brasil esquecerem sonho de Europa
Embora continue um grande exportador de talentos de futebol, o Brasil passa a ser cada vez mais atraente para grandes craques. O real valorizado e o forte aumento do faturamento dos clubes nos últimos anos, aliado à crise financeira que atinge a Europa e a perspectiva da Copa do Mundo de 2014 fazem com que cada vez mais estrelas prefiram permanecer no país a se renderem ao sonho de jogar na Europa.
Se até há poucos anos contratos milionários eram praticamente exclusividade de vendas de astros brasileiros ao exterior, hoje os clubes nacionais conseguem pagar caro e montar esquemas publicitários fortes o suficiente para segurar no Brasil as estrelas que já jogam no país, como comprovou o exemplo recente do astro Neymar. O atacante, de 19 anos, tido por alguns como um sucessor de Pelé, preteriu gigantes europeus como Real Madrid, Barcelona e Chelsea em favor da renovação de seu contrato no Santos até 2014.
"Há alguns anos seria algo impensável um jogador brasileiro dispensar clubes como Real e Barcelona para ficar no Brasil", comenta Luiz Rocha, diretor-executivo da filial brasileira da agência de marketing esportivo Prime Time Sport. Um estudo da empresa detectou que a receita dos clubes da primeira divisão brasileira tem aumentado a ritmo muito mais rápido que a média das primeiras ligas europeias. Entre 2008 e 2009, esse crescimento correspondeu a 12%, enquanto as cinco principais ligas europeias cresceram, em média, apenas 4%.
Apesar de continuar sendo o maior fornecedor mundial de jogadores, o futebol brasileiro não aponta crescimento nas exportações nos últimos anos, apresentando mesmo retração no volume de atletas e nos valores totais de exportação anuais, de acordo com o último estudo da empresa abordando as transferências de craques brasileiros para a Europa.
Rocha, entretanto, ainda acredita que o país continuará por muito tempo como um grande manancial de talentos e que o sonho de jogar na Europa ainda continuará sendo partilhado pela maioria dos atletas brasileiros. "O Neymar é um caso muito especial. Para os outros jogadores, ainda existe o sonho", avalia. "Só que é cada vez mais caro tirá-los do Brasil", acrescenta o empresário, ressaltando porém que os europeus continuarão levando, sem problemas, os talentos menos conhecidos, destaques em campeonatos regionais.
Um real forte, a crise mundial que afetou os clubes europeus e o aumento de arrecadação que os clubes brasileiros apresentam nos últimos anos são fatores que estão colaborando para essa mudança que vive o mercado de futebol no Brasil e que contribui para que craques brasileiros de primeira grandeza prefiram ficar no país.
Segundo um estudo da empresa de auditoria DBO RCS, em 2010 o mercado brasileiro de clubes de futebol atingiu uma receita recorde de R$ 2,18 bilhões, o que correspondeu a um aumento de 13,4% em relação a 2009. Nos últimos oito anos, a arrecadação dos clubes brasileiros cresceu 171%.
Um dos grandes responsáveis pelo aumento de arrecadação está na atual estratégia de marketing desenvolvida pelos times. Em 2010, os clubes brasileiros tiveram crescimento de 38% em relação a 2009 em patrocínio e investimento publicitário. Receitas com patrocínio direto no futebol brasileiro atingiram R$ 566 milhões em 2010. Para se ter uma ideia do crescimento dos recursos com patrocínio e publicidade nos últimos anos, enquanto em 2010 eles representaram 17% do total gerado pelos clubes, eles correspondiam em 2009 a 14% e, em 2003, a apenas 9%.
Ações de marketing e publicidade têm hoje no Brasil elevada importância no contrato de grandes estrelas de futebol, que se tornam garotos-propaganda de seu clubes, e os times passam a ganhar também sobre a imagem dos jogadores através de acordos publicitários.
"Um marco na exploração do marketing nos contratos dos jogadores de futebol foi a ida do atacante Ronaldo para o Corinthians em 2009", opina Amir Somoggi, diretor do setor esportivo da DBO RCS. Segundo ele, o sucesso do esquema publicitário que possibilitou o retorno do "fenômeno" ao Brasil, apostando na força da imagem do craque para atrair patrocinadores ao clube, provou ao mercado brasileiro de futebol que vale a pena o investimento.
Somoggi acredita que o mercado brasileiro ainda tem muito a crescer na exploração de marketing no futebol. "Estamos ainda muito aquém. Deverá haver ainda um desenvolvimento muito grande em termos de marketing", avalia, lembrando do impulso que poderá resultar da realização da Copa do Mundo de 2014. "Com novos estádios e uma maior profissionalização do marketing, poderemos ver um grande crescimento nos próximos cinco anos, como ocorreu com o futebol alemão. O impulso comercial e de imagem provocado pela Copa de 2006 tornou a Bundesliga o segundo maior campeonato em faturamento da Europa, ultrapassando espanhóis e italianos", afirmou.
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