do Crônicas do Motta
Coragem a presidenta Dilma Rousseff já mostrou que tem. Mexer com a poupança, a mais tradicional e popular aplicação financeira, não é pouca coisa. Ao fazer isso, Dilma passou o recado de que a sua intenção de levar o país a conviver com taxas de juros civilizadas é para valer. E, se conseguir seu objetivo, terá marcado um gol de placa em seu governo.
Mas se engana quem acha que agora tudo serão flores. Embora os juros baixos sejam desejados por 99,9% da população, há os que vão fazer de tudo para sabotar o plano do governo. Todos sabiam que a poupança era uma trava para que o plano funcionasse e que era preciso fazer algo para impedir uma migração em massa de outras aplicações para ela. Mesmo assim, nem bem a mexida foi anunciada já apareceu gente bombardeando a solução encontrada, como o indefectível deputado Roberto Freire, do PPS, aquele partido que se diz socialista, mas age sempre movido pelo mais profundo sentimento udenista.
Há pouco anos, o então presidente Lula tentou fazer o mesmo que Dilma fez agora. A sua equipe econômica ainda estudava uma maneira de mudar a rentabilidade da poupança quando esse mesmo deputado apareceu no programa gratuito de seu partido na TV para dizer que o governo iria "confiscar" a poupança - uma afirmação mentirosa e irresponsável.
Agora, ele tenta a mesma jogada, com o mesmo cinismo da vez anterior.
Essa gente não aprende. Não consegue entender que esse tipo de oposição que vem fazendo não leva a nada, ou pior, leva à sua própria desmoralização.
O exemplo do DEM está aí para todos verem. O partido, nascido na ditadura militar, se empenhou nesses últimos tempos numa campanha furiosa contra todas as iniciativas populares dos governos petistas. Insurgiu-se contra as cotas raciais nas universidades. Perdeu a parada no Supremo Tribunal Federal. Foi contra o ProUni. Mais uma vez levou de lavada no Supremo. Sem contar que sua grande estrela, o senador Demóstenes Torres, é hoje o maior símbolo que existe do político picareta.
A presidenta Dilma está a um passo de se consagrar apenas porque teve a coragem de mexer num vespeiro do qual todos seus antecessores fugiram. Confrontar, como está fazendo, os banqueiros, não é para qualquer um. Para fazer isso ela deve ter entendido que o pleno exercício de seu cargo exige não só atributos administrativos e formação técnica, mas, principalmente, audácia.
É essa qualidade, exatamente, que falta a muitos outros políticos destes tempos, principalmente os tais demistas, os tucanos, todos esses udenistas disfarçados que procuram desesperadamente seu espaço no jogo do poder. Por isso eles nunca ultrapassarão a linha que limita a mediocridade. Falta-lhes ânimo para ousar, vontade de arriscar, coragem de ir além das banalidades e sensibilidade para entender as necessidades do povo.
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