Miguel do Rosário, via O Cafezinho
Vamos à análise de coluna do Merval escrita esta semana. Ela faz parte da estratégia da mídia de melar a CPI antes que esta comece a esquentar. O texto de Merval segue em negrito, o meu em fonte normal.
Tiro no pé
Merval, um dos porta-vozes da imprensa corporativa, continua apostando na técnica de chantagem e amedrontamento. A CPI foi um erro porque vai respingar no governo. Ora, Merval se trai com essa tese. Se a CPI respingar no governo e derrubar corruptos do PT, então será ótimo para o Brasil e para a população, não?
O flagrante da mensagem do deputado petista Cândido Vacarezza garantindo imunidade ao governador do Rio Sérgio Cabral é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoeira está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder.
O tropeço de um petista era o que a mídia queria para melar a CPI. O Noblat também dedica sua coluna desta segunda-feira ao SMS de Vacarezza. Ora, é um recado baixo nível de um petista aloprado, mas não indica crime algum, nem sequer menciona blindagem. Ao contrário, a mensagem tem um tom até meio ameaçador.
“A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)”
Ora, quantas toneladas de ilações será possível fazer com uma mensagem assim? Vacarezza não fala precisamente em blindar, embora seja possível interpretar assim, mas sim que PT continuará sendo aliado de Cabral mesmo se a relação entre os dois partidos azedarem.
Convocada estranhamente pela maioria governista, a CPI tinha objetivos definidos pelo ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu: apanhar a oposição com a boca na botija nas figuras do senador Demóstenes Torres e do governador de Goiás Marconi Perillo, e desestabilizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela acusação dos mensaleiros no julgamento do Supremo Tribunal Federal.
De passagem, queriam certos petistas criminalizar a revista Veja para criar um clima político que favorecesse a aprovação de uma legislação de controle da mídia, como vêm tentando sem sucesso desde o início do governo Lula.
Convocada “estranhamente”? Que tipo de análise é essa? Merval omite um ponto fundamental. A CPI do Cachoeira foi a que recebeu o maior número de adesões da história da República. Vamos dar esse pequeno crédito ao parlamento brasileiro, por favor. Lula pode ter incentivado, mas Lula não é deputado. Quem instalou a CPI foi o povo brasileiro, através de seus representantes políticos. Os motivos que os levaram a criar a CPI são vários; certamente cada parlamentar poderá apresentar um motivo, uma interpretação pessoal. Mas estamos lidando com um fato de extrema gravidade. Um mafioso possuía lacaios na esfera mais alta da República: um senador da República, um governador, vários parlamentares, prefeitos, policiais federais; a revista de maior tiragem no país manteve relações íntimas com esse mafioso, publicando matérias de seu interesse. Enfim, era um esquema grandioso, e os parlamentares tem obrigação de esclarecer esse imbróglio para o país. Como o caso envolve altos nomes da política, não pode ser um trabalho exclusivamente técnico da Polícia Federal. É preciso fazer uma investigação e um debate em termos políticos também. O delegado da PF não tem condições intelectuais ou políticas de saber que Policarpo Jr., por exemplo, ou o editor da Veja, cometeu crimes ao se relacionar de maneira tão espúria com Carlinhos Cachoeira. Isso é uma conclusão que somente uma CPI pode apontar.
Merval podia ler o próprio jornal. Avançando um pouco as páginas, encontraria artigo de Elio Gaspari, quesenta o pau no procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Gaspari, colunista de O Globo, também estaria mancomunado ao PT?
Por enquanto está dando tudo errado. A tentativa de constranger os ministros do Supremo resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência.
É prematuro falar que “está dando tudo errado”. Não houve tentativa nenhuma de constranger ministros do Supremo. Aliás, de que diabos Merval está falando? Ele está maluco? Quem tentou constranger ministros do Supremo?
A vontade de procrastinar o julgamento, quem sabe deixando-o para o próximo ano, quando dois novos ministros estarão no plenário para substituir Cezar Peluso e Ayres Britto, ficou tão explícita que o revisor do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ainda no primeiro semestre, permitindo que o julgamento comece logo em seguida.
Os imbróglios do “mensalão” dizem respeito aos vinte e pouco réus, o Brasil tem 200 milhões de habitantes, 99,99% dos quais não está nem aí para eles. O “mensalão” é um processo acabado. Será votado e ponto final. A CPI do Cachoeira é uma investigação que acabou de começar. Há pontos de interseção entre os crimes de Cachoeira e o “mensalão”, alguns importantes, mas em essência eles tratam de duas coisas completamente distintas.
Até mesmo uma frase banal, que queria dizer outra coisa, teve o efeito de levantar suspeitas. Quando Lewandowski disse que o julgamento ocorreria “ainda este ano” sabe-se agora que não estava pensando em outubro ou novembro, mas a partir de junho, como fez questão de esclarecer.
Paranoia besta de direitistas doidos. Só meia dúzia de alucinados fica vendo mensaleiro dentro do armário do quarto, embaixo da cama, no elevador. A maioria do povo, inclusive a maioria que deseja a CPI quer que os mensaleiros se explodam. A direita trata o tema como se o PT ou o governo fossem acabar se os réus forem condenados. Ora, mesmo que fossem todos condenados à prisão perpétua, em que isso afetaria o governo? Nem a Dilma nem nenhum de seus ministros não tem relação nenhuma com “mensalão”. O “mervismo pigal”, para usar a divertida expressão de PHA, atingiu o clímax da insanidade conspiratória.
Com relação à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o “laranja” da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando, na definição de Vacarezza, por que o PMDB não está disposto a embarcar nessa aventura petista de tolher a liberdade de imprensa.
Que mané tramoia petista, Merval! O PT está sendo puxado a fórceps para dentro desse debate. Se fôssemos depender do PT, não haveria nem CPI! A sociedade brasileira é que está por trás da pressão para investigar a imprensa, e não toda a imprensa, mas setores mafiosos, ou setores que mantinham relações com máfias políticas. Para de choramingar, Merval! Nos EUA, na Europa, jornalista apanha que nem adulto quando faz merda. Não perdoaram nem o bilionário Rupert Murdoch. A troco de que os jornalistas do Brasil devem ser tratados como representantes sagrados da “imprensa livre”? Quer dizer que não existe jornalista safado, jornalista bandido? O vice do Agnelo pagava 100 mil reais por mês ao Mino Pedrosa para ele plantar matérias que derrubassem ou enfraquecessem o governador, tudo mancomunado com o esquema Cachoeira. Há gravações que revelam que Cláudio Humberto também levava grana do esquema. E Cachoeira plantava o que queria na Veja. Tem que investigar sim, Merval. Não é tramoia petista. É vontade soberana do povo. A ditadura acabou, meu filho. Numa democracia, todo mundo é igual. Todo mundo pode ser preso. Jornalista ou não.
Por fim, a blindagem explícita do governador do Rio pode se transformar em uma faca de dois gumes, tornando inevitável sua convocação.
Que blindagem explícita? A mídia é muito esperta. Não há uma só gravação envolvendo Sérgio Cabral no esquema Cachoeira, e olha que são milhões de telefonemas sobre Deus e o mundo. A Delta tinha contrato com o governo do Rio assim como tinha com o governo de São Paulo. Se chamar Cabral então tem que chamar o Alckmin, o Serra e o Kassab. Ora, a CPI tem que investigar os nomes que aparecem nas investigações, e não virar palco para salafrários como Garotinho fazerem proselitismo partidário. Festejar em Paris pode parecer uma coisa terrível para a classe média lacerdista, mas felizmente ainda não foi tipificado como crime. Melhor festejar em Paris do que nas ilhas Cayman, como Serra e os tucanos fizeram, conforme se pode comprovar lendo o livro A Privataria Tucana.
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