by Hélio Doyle - Brasil 247
Veja está assustada. De um lado, seus métodos nada jornalísticos estão sendo questionados à luz de gravações para lá de comprometedoras, que mostram a revista como possível cúmplice de um esquema criminoso. E a publicação ainda perdeu sua fonte privilegiada, a quem apresentava como exemplo de retidão do conservadorismo brasileiro, o ainda senador Demóstenes Torres.
De outro lado, a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff prejudica os projetos político-ideológicos da revista, hoje o mais importante porta-voz da direita brasileira. As últimas decisões do governo, na área econômica, deixaram Veja mais assustada ainda.
Seu colunista Maílson da Nóbrega também está assustado. Desde que acabou sua péssima e desastrada gestão como ministro da Fazenda no governo Sarney, quando o país chegou à hiperinflação, Maílson dedica-se a dar consultoria a bancos, empresas e investidores e publicar artigos na imprensa. É um direito dele, mas que Veja não admite ser também um direito do também ex-ministro José Dirceu.
Assim como Veja substituiu a reportagem pelo panfleto e a apuração jornalística pelos dossiês entregues de mão-beijada, Maílson substitui a análise econômica pela propaganda política. Faz a defesa dos banqueiros a quem serve, atribui a culpa pelos juros altos ao governo e cai na vala comum da direita assustada, que vê “populismo”, “intervencionismo” e “interferências descabidas”, entre outras coisas, no discurso e nos atos da presidente contra os juros altos e os excessos do sistema financeiro.
Há análises sérias, de economistas e empresários, sobre as medidas que vêm sendo tomadas pelo governo. Eles mostram que são positivas, porém insuficientes se não forem acompanhadas de outras, como a desindexação, a desconcentração bancária, a queda da carga tributária, os cuidados contra a inflação, entre outras.
Outro ex-ministro da Fazenda, que também cometeu seus erros nos tempos de ditadura, mas dá banho de conhecimento e competência em Maílson, sintetizou: a virtude do discurso e dos atos de Dilma “está em respeitar e proteger a solidez do sistema financeiro brasileiro, mas não consentir em deixá-lo ditar o tom da política econômica”. Isso, queiram ou não Veja, Maílson e a direita, compete ao Estado.
Mas o artigo do ex-ministro da hiperinflação na Veja é apenas mais um serviço de relações públicas que ele presta aos bancos. Que deveriam procurar escribas mais competentes e com melhor reputação profissional. A direita tem melhores do que Maílson.
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