por Sérgio Fonseca, via Facebook
Ninguém pode dizer que não vivemos dias agitados. A queda de ministros, a doença de Lula e o movimento dos estudantes na USP têm pautado de papos de mesa de bar a discussões nas redes sociais.
No momento o que mais repercute é a invasão e a desocupação do prédio da reitoria da USP. E não é qualquer repercussão.
Pelo contrário, de todos os fatos que chamaram a atenção da opinião pública, a movimentação recente na USP certamente está entre os dez mais, pode-se dizer.
Ódios, paixões, ranços de direita, discursos, defesa e ataque desfilaram no noticiário e nos debates (embates?) nas redes sociais.
E tudo isso é a crônica de uma morte anunciada, ou de algumas mortes, simbólicas, por ora. Não há corpo para velar, mas, há uma vida, uma forma de viver. Sim, porque a universidade desistiu de sua razão de ser, que se explica por uma muito antiga conjugação de liberdade e conhecimento.
Desistiu, por exemplo, de pensar e produzir a solução dos problemas que vive. Claro, pois como explicar porque uma universidade convoca o poderio policial militar para resolver suas questões políticas?
A segurança e a necessidade de garantí-la não é a questão maior, nesse caso. Da forma como a invasão da reitoria foi decidida e feita resulta que a dificuldade de avaliação política da conjuntura, que o pensamento obtuso e que a infantilização da militância foram mais potentes e que fizeram vítimas, graves, no movimento estudantil e entre as expressões individuais e coletivas das forças políticas que atuam pela democratização da USP.
De outra parte, está carimbado e avaliado (viva Raul!) que levantou um Frankenstein: uma universidde com cabeça ilustrada costurada num corpo de jagunço. Explico. É bem simples. A universidade produz conhecimento, a universidade forma profissionais, a universidade educa a juventude, a universidade pesquisa, a universidade reflete sobre as mais variadas questões, ela é uma cabeça inquieta.
Mas, colocar a tropa de choque para agir em seu nome isola a mente, a cabeça pensante e, pior, destitui, deixa sem sentido, a condição da universidade como educadora, como escola no sentido mais amplo que essa palavra tem.
Como não bastasse esse Frankenstein, há o Charles Bronson guardado sob as camadas de cordialidade da alma do brasileiro. Dá para demonstrar em números: 1992, 111 mortos; 2011, 400 policiais para 70 aloprados; e, pela autoria do primeiro, nenhum condenado. Logo, não se estranha a antipatia geral pelos estudantes (que merecem crítica pelo erro político) e poucas ressalvas quanto à desproporção do aparato policial.
E, para prevenir, não digam que esse texto pretende a universidade como lugar de privilégios (fumar maconha como o primeiro deles). Não, mil vezes não. É outra questão. É a liberdade, estúpido! É não confundir direito com privilégio.
É entender que a USP é muito grande e complexa – por óbvia que essa constatação seja – e que ela abriga de playboys a alunos trabalhadores. Portanto, para ser didático, não tome a exceção como regra, pois, nesta universidade se estuda e se trabalha muito. Ou você está pensando que aquela universidade onde a moça foi hostilizada por conta do vestido é o modelo ideal?
*Sérgio Fonseca é professor da Universidade de São Paulo
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