Para que se incluam na sociedade humana os marginalizados de hoje, é preciso dela excluir os verdadeiros marginais: os grandes banqueiros privados e seus poderosos clientes. Não é o que está acontecendo na Europa, onde os banqueiros estão assumindo o poder em lugar de líderes fracos e acovardados.
Mauro Santayana
A Europa entrou em um vácuo político, e os banqueiros estão assumindo o poder em lugar dos líderes fracos e acovardados, que, desprovidos de inteligência e legitimidade, não souberam conduzir o processo. Tanto na Itália, quanto na Grécia - em nome da racionalidade técnica, que bem conhecemos aqui - são notórios serviçais do sistema financeiro internacional os escolhidos, para intervir nos governos nacionais, pelo Goldman Sachs, mediante o Banco Central Europeu.
Sua missão é simples: pagar aos bancos credores a dívida dos dois países. Para reunir os recursos necessários, a receita é velha, e nós também a conhecemos, quando economistas medíocres do FMI nos visitavam e cortavam, nos orçamentos nacionais, os investimentos sociais, a fim de que sobrassem recursos para a rolagem da dívida externa.
Os novos chefes de governo, tanto na Itália, quanto na Grécia, são interventores dos grandes credores internacionais que, à revelia dos governos europeus, criaram um comitê paralelo para cuidar do assunto. Os políticos foram simplesmente descartados, e, em seu lugar, participam do comitê os dirigentes dos bancos centrais, sob a chefia formal do Banco Central Europeu, mas sob o comando real do Goldman Sachs.
O Goldman Sachs, fundado em 1869, no momento em que começavam a surgir as grandes empresas petrolíferas norte-americanas, pelo banqueiro Marcus Goldman, é hoje o maior banco de investimentos no mundo. Cuida dos ativos financeiros dos grandes estados, das mais poderosas empresas e das famílias mais ricas do planeta.
Mário Monti – a menos que Berlusconi ainda surpreenda mais uma vez – assumirá o governo italiano. É velho empregado do Goldman Sachs, e seu principal conselheiro para assuntos europeus. Um eurocrata, que, entre outras missões, cuidou dos assuntos de concorrência na União Européia e propôs o esquartejamento de todas as grandes empresas estatais e a privatização dos retalhos. Lukas Papademos, o novo premiê grego, foi presidente do Banco Central grego, de 1994 a 2002, e vice-presidente do Banco Central Europeu, de 2002 a 2010.
Mais importante do que essas ligações, ambos são membros históricos da famosa Comissão Trilateral, fundada em 1973, por iniciativa do banqueiro David Rockefeller, constituída de personalidades do mundo financeiro e acadêmico dos países da Europa Ocidental, da América do Norte (isto é, dos Estados Unidos e do Canadá) e do Japão, a fim de submeter o mundo aos seus interesses. Foram a Comissão Trilateral e o Clube de Bilderbeg que, antes que Margareth Thatcher e Reagan assumissem o poder, delinearam o projeto do cerco ao sistema socialista; o fim do estado de bem-estar social no mundo; a ditadura do mercado, mediante o neoliberalismo e a globalização, sob o comando dos grandes bancos.
Além disso, ambos são igualmente membros do Grupo de Bilderberg, que, desde 1954, se reúne anualmente, a fim de combinar sua ação estratégica a fim de “governar” o mundo, conforme coincidem todas as informações. O grupo, do qual são membros ativos, desde então, os sucessivos presidentes do Goldman Sachs, conta com a participação de norte-americanos como Paul Wolfowitz, Donald Rumsfeld, Bill Gates, Bill Clinton e Condoleeza Rice, entre outros. Todos os encontros e decisões são rigorosamente secretos.
Enquanto os estados nacionais não exercerem diretamente o controle de suas finanças, e de suas relações econômicas internacionais, as crises, a desigualdade, as guerras, o desemprego, a miséria e a rapina dos países débeis continuarão assolando a humanidade. Para que se incluam na sociedade humana os marginalizados de hoje, é preciso dela excluir os verdadeiros marginais: os grandes banqueiros privados e seus poderosos clientes.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
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