Kantianas

 Nos parágrafos 52 e 53 de sua Crítica da faculdade de julgar, Kant se entrega ao exercício de revelar as relações de ligação entre as belas artes (§ 52) e envereda num exercício de comparação do valor estético entre as mesmas (§53). Para melhor compreender o conteúdo dos parágrafos citados, façamos uma breve retomada de pontos - a nosso ver cruciais - com que o filósofo de Konigsberg veio construindo seus argumentos em torno da definição do belo como arte, isto é, das Artes Belas. 

Lembremos, a propósito, que, conforme já define no parágrafo 43 e nos seguintes, o filósofo faz a distinção entre arte e natureza, arte e ciência, e delimita algumas características com que define a arte bela, a saber:

1. A arte distingue-se da natureza, como o fazer distingue-se do saber, isto é, a rigor deve-se chamar de arte apenas o que é produto de uma atividade livre da razão; em outras palavras, uma atividade não determinada pela necessidade de um fim, um telos, embora a razão não esteja de todo ausente do produto artístico (§43, 1);
2. Como a técnica se distingue da teoria, enquanto produto da ação humana, a arte se distingue da ciência, isto é, chamamos de arte aquilo que fazemos e conhecemos de modo mais completo, sem que possuamos a imediata habilidade em fazê-lo, ao passso que com a ciência ocorre o inverso, assim um cientista pode muito bem descrever a melhor forma de confeccionar um sapato, embora seja incapaz de fazer um par dekes (§43,2);
3. A arte se distingue do oficio; em outras palavras, arte e artesanato não se confundem: a capacidade de produzir algo voltado somente para a fruição e o gozo dos sentidos não pode se confundir com o trabalho de elaboração como ocupação ou como atividade remunerada (§43,3).

   
   

   
   

   
   

   In: KANT, Immanuel; Crítica da faculdade do juízo. Tradução de Valério Rhoden e Antonio Marques. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.