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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Muito além de um poema - Vladimir Maiakóvski

HINO AO CRÍTICO


Da paixão de um cocheiro e de uma faxineira

Tagarela, nasceu um rebento raquítico

Filho não é bagulho, não se atira na lixeira

A mãe chorou e o batizou: crítico


O pai, recordando sua progenitora

Vivia a contestar os maternais direitos,

Com tais boas maneiras e tal compostura

Defendia o menino do pendor à sarjeta


Assim como o vigia cantava a cozinheira,

A mãe cantava, a lavar calça e calção,

Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira

E a arte de penetrar fácil e sem sabão.


Quando cresceu, do tamanho de um bastão,

Sardas na cara como um prato de cogumelos,

Lançaram-no, com um leve golpe no joelho, 

À rua, para tornar-se um cidadão.


Será preciso muito para ele sair da fralda?

Um pedaço de pano, calças e um embornal,

Com o nariz grácil como um vintém por lauda

Ele cheirou o céu afável do jornal.


E em certa propriedade, um certo magnata,

Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,

E logo o crítico, da teta das palavras,

Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.


Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco

Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,

E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso

Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.


Mas se se infiltra na rede jornalística

Algo sobre a grandeza de Púchkin ou Dante,

Parece que apodrece ante a nossa vista

Um enorme lacaio, balofo e bajulante.


Quando, por fim, no jubileu do centenário,

Acordares em meio ao fumo literário,

Verás trilhar na cigarreira-souvenir o 

Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.


Escritores, há muitos. Juntem um milhar

E ergamos em Nice um asilo para os críticos.

Vocês pensam que é mole viver a enxaguar

A nossa roupa branca nos artigos?


Vladimiir Maiakóvski
(Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)


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